Recursos de emendas parlamentares do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e da deputada Chris Tonietto (PL-RJ) financiaram projetos esportivos de uma ONG no Rio de Janeiro com fortes indícios de superfaturamento e desvio de verba pública, segundo investigação do UOL.
O Instituto de Formação Profissional José Carlos Procópio (Ifop), em Jacarepaguá, recebeu R$ 200 mil de Flávio para o projeto Jogadores do Futuro entre março de 2023 e fevereiro de 2024. Foi a primeira vez que a entidade acessou verba pública.
Superfaturamento e chuteiras nunca entregues
A prestação de contas mostra gasto de R$ 30,7 mil na compra de 212 chuteiras e porta-chuteiras, sem comprovação de entrega. Pais confirmaram que as crianças nunca receberam o material. Relatórios anexaram fotos em que alunos apareciam de chinelo, tênis comum ou chuteiras sem padrão.
Além disso, uniformes e acessórios custaram mais que o dobro do valor de mercado, com prejuízo estimado em R$ 52,8 mil, quase um quarto da emenda destinada por Flávio.
Em novembro de 2023, o Ifop recebeu R$ 300 mil via emenda de Chris Tonietto para o projeto Vencedores do Futuro. Novamente, relatórios não comprovaram a entrega de 320 chuteiras e 313 porta-chuteiras. O superfaturamento estimado chega a R$ 80 mil.
Defesa dos parlamentares
Flávio Bolsonaro alegou que a emenda foi feita “dentro da legalidade” e que houve devolução de parte dos recursos, embora notas fiscais confirmem pagamentos.
“Se houver irregularidade na execução, cabe apuração e punição dos responsáveis”, disse o senador.
Chris Tonietto afirmou ter visitado núcleos do projeto e que a análise de preços é de competência do Ministério do Esporte.
O ministério informou que os projetos seguem em análise técnica e podem ser alvo de notificações. O Ifop declarou que adquiriu materiais pelo “menor preço após cotação”, sem explicar a falta de comprovação de entrega.
Emendas de Chiquinho Brazão e conexões suspeitas
O Ifop também recebeu R$ 1,5 milhão em emenda do ex-deputado Chiquinho Brazão (preso por suspeita de mandar matar Marielle Franco e Anderson Gomes), para aulas de informática.
Os materiais esportivos foram fornecidos pela TH3 Comércio e Serviços, empresa sem histórico no setor, criada em 2022 em Nova Iguaçu. A empresa é ligada ao Instituto Educarte, que recebeu R$ 4 milhões de Brazão.
Em outro contrato, a TH3 forneceu camisetas superfaturadas no projeto Mulheres Conectadas, também bancado por Brazão.
Relação com o caso Marielle
Mensagens da investigação da Polícia Federal mostram que um ex-assessor de Brazão pediu a uma assessora de Flávio Bolsonaro que o projeto do Ifop fosse mantido.
O Jogadores do Futuro terminou em fevereiro de 2024 e não foi renovado. Brazão segue preso, aguardando julgamento no STF.