Manifesto

Porongaço dos Povos da Floresta ilumina Belém em defesa do meio ambiente

14 de novembro de 2025
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© Bruno Peres/Agência Brasil
© Bruno Peres/Agência Brasil

Atualizado: 29/11/2025 às 18:58

Sob o lema “a morte da floresta é o fim da nossa vida”, centenas de lideranças extrativistas realizaram nesta quinta-feira (13) o “Porongaço dos Povos da Floresta”, uma marcha pelas ruas de Belém em defesa dos direitos territoriais e do papel vital das reservas de uso sustentável para o equilíbrio ecológico e o enfrentamento das mudanças climáticas.

O “Porongaço dos Povos da Floresta” reuniu especialmente seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, pescadores artesanais, quebradeiras de coco e outras comunidades tradicionais de diferentes regiões do Brasil. Eles percorreram as ruas da capital paraense ao entardecer, carregando porongas — lamparinas tradicionais feitas com óleos da floresta como andiroba e copaíba, usada pelos seringueiros para iluminar trilhas na floresta — símbolo histórico de resistência do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), fundado em 1985.

Sob a inspiração do legado de Chico Mendes e seu ativismo em defesa dos seringais do Acre nos anos 1970, o movimento extrativista ganhou voz política e articulação contra as ameaças à floresta, incluindo violência, grilagem e destruição ambiental. O evento aconteceu em paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), sediada em Belém, ampliando o reforço político das comunidades diretamente ligadas à conservação da Amazônia.

Marcha "Porangaço dos Povos da Floresta", evento paralelo à COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Marcha “Porangaço dos Povos da Floresta”, evento paralelo à COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Para Letícia de Moraes, vice-presidente do CNS e extrativista da Ilha do Marajó, o entendimento do território como extensão do corpo das comunidades é fundamental. Ela ressaltou que os territórios sob cuidado das populações tradicionais são os que mantêm a floresta viva, com impacto comprovado na captura de carbono e proteção ambiental.

Os dados do CNS indicam que as reservas extrativistas e assentamentos agroextrativistas abrangem mais de 42 milhões de hectares, equivalendo a 5% do território nacional, conservando aproximadamente 25,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, um volume que corresponde a 11 anos das emissões totais do Brasil. Esse carbono sequestrado é vital para mitigar os efeitos do aquecimento global.

Durante a COP30, as lideranças extrativistas são representadas pelo enviado especial Joaquim Belo, que negocia a inclusão do valor dos serviços ecossistêmicos dessas comunidades nas metas nacionais de mitigação climática. Eles reforçam que são parte da solução da crise climática por manterem o equilíbrio da floresta e seus recursos naturais.

O percurso da marcha começou na Praça Eneida de Moraes, no bairro Pedreira, e encerrou-se na Aldeia Cabana, local onde o CNS entregou uma carta com demandas à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. O documento solicita reconhecimento formal das áreas extrativistas e terrenos tradicionais na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) e nos acordos climáticos, além de investimentos públicos e privados para proteção, vigilância e práticas sustentáveis.

Em seu discurso, Marina Silva destacou a importância dos saberes ancestrais dos seringueiros, indígenas, ribeirinhos e outras comunidades tradicionais como “tecnologia” fundamental para a conservação ambiental e o combate às mudanças climáticas. A ministra enfatizou a necessidade da expansão das políticas públicas que apoiem essas populações e seus territórios.

Resistência e legado no Porongaço

O uso das porongas como símbolo une arte, espiritualidade e política em um ato coletivo que reafirma a luta por justiça social, ambiental e territorial. A marcha reflete tanto a ancestralidade dos povos da floresta quanto a urgência de sua participação ativa no debate climático global.

Contribuição das populações extrativistas para a conservação

As comunidades extrativistas protegem vastas áreas de floresta e atuam como guardiãs de estoques de carbono essenciais para a regulação climática. Sua inclusão nas políticas públicas e acordos internacionais é fundamental para o fortalecimento da agenda ambiental brasileira.

JR Vital

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.

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