Idade das Trevas

“Imunidade religiosa” ganha força na Câmara para pastores cometerem crimes de racismo e homofobia sem punição

Mudança proposta por Marco Feliciano blinda líderes religiosos de punições por falas racistas ou homofóbicas avança na Câmara
por 22 de dezembro de 2025
Em 2011, Marco Feliciano publicou mensagens em rede social associando a situação social do continente africano a uma interpretação bíblica (Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)
Em 2011, Marco Feliciano publicou mensagens em rede social associando a situação social do continente africano a uma interpretação bíblica (Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)
Atualizado em 22/12/2025 11:45

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou um projeto de lei que altera a Lei do Racismo e cria proteção para religiosos contra punições por falas racistas ou homofóbicas.

O texto acrescenta um parágrafo ao artigo da lei que trata de “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. A mudança exclui da punição “a manifestação de crença, sermões, pregações, cultos, eventos e cerimônias, ensino ou orientação religiosa que ocorram em função de atividade de caráter religioso e/ou litúrgico, ainda que transmitidos ou divulgados por quaisquer meios de comunicação, inclusive pela internet”.

Como o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a homofobia ao crime de racismo, técnicos legislativos entendem que a redação também protegeria discursos religiosos com ataques à orientação sexual.

A mudança foi feita em um projeto que originalmente elevava a punição para o crime de ultraje a culto, vilipêndio ou impedimento de cerimônia religiosa, previsto no Código Penal, para reclusão de dois a quatro anos, além de multa, retirando o delito da categoria de menor potencial ofensivo. Atualmente, a pena é de detenção de um mês a um ano, ou multa.

O parecer é de autoria do deputado Pastor Marco Feliciano (PL-SP), relator de mais de 40 projetos apensados que tratam do mesmo tema.

Na justificativa, o relator afirma que a Constituição assegura a liberdade de consciência e crença e a proteção aos locais de culto, e argumenta que o direito é violado quando há zombaria pública da fé ou impedimento de cerimônias religiosas. Para ele, o aumento da pena é necessário para coibir práticas de intolerância religiosa e garantir proteção aos fiéis.

Críticas ao projeto

Parlamentares contrários afirmam que a mudança cria uma brecha para blindar discursos discriminatórios travestidos de pregação religiosa.

“Para mim houve a inclusão de uma emenda do pastor André Valadão, que foi responsabilizado. Abriram investigação, não sei se foi julgado, por uma fala homofóbica. Esse artigo quinto abre salvo-conduto para que crimes de ódio possam ser blindados pelo contexto religioso”, criticou Fernanda Melchionna (PSOL-RS).

Com o parecer aprovado, o projeto segue agora para análise do plenário da Câmara dos Deputados. Se avançar, ainda precisará passar pelo Senado antes de eventual sanção presidencial.

JR Vital

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.