Atualizado: 27/12/2025 às 13:38
Atualizado em: 27/12/2025 13:38
Em uma publicação recente no Instagram do Jornal Diário Carioca sobre os altos gastos de R$ 883,5 mil do deputado federal Éder Mauro (PL-PA) com aluguel de carros, barcos e aeronaves usando a chamada cota parlamentar (Cotão), o parlamentar bolsonarista inflamou ainda mais sua já chamuscada imagem pública ao proferir a controversa frase “bandido nem é gente”, como se houvesse pena de morte no Brasil, rejeitando qualquer humanização de pessoas acusadas de crimes, ou como se a lei lhe concedesse o direito de matar.
A declaração, agora circulando em publicações e comentários nas redes, sintetiza um padrão de comportamento marcado por violência, confrontos institucionais e retórica que desafia princípios fundamentais do Estado democrático de direito — e se soma a décadas de atos polêmicos que seguem sem punição efetiva.
Violência policial, processos e tolerância institucional
Antes de se tornar deputado, Éder Mauro era delegado da Polícia Civil no Pará, e desde então carrega um histórico de denúncias de agressões, violência e tortura em operações policiais, diversas vezes relatadas em pedidos de indenização na Justiça. Em um dos casos, uma mulher e seus filhos acusam policiais sob seu comando de espancamento e tortura durante uma operação em 2009, enquanto outra ação cita invasão de residência e agressões sem resultado probatório definitivo.
Embora algumas dessas ações tenham sido arquivadas ou absolvidas por falta de provas pelo STF, o fato de estarem ligadas ao seu nome revela um passado de uso excessivo da força e questionamentos legais que não foram esclarecidos plenamente.
Além disso, Mauro respondeu a processo disciplinar por agressão física a um cidadão dentro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, episódio em que empurrou e seu assessor deu tapas em quem se manifestou durante uma sessão.
Não é o único episódio desse tipo: ele também foi acusado de publicar conteúdo violento nas redes sociais arbitrariamente removido por violar diretrizes, e já enfrentou acusações por suposta homofobia e agressão a uma advogada transexual — todas negadas pelo parlamentar, que claro, na hora da justiça afina o discurso, mas documentadas.
Contradição entre discurso e lei
A frase “bandido nem é gente” não é apenas uma ofensa aos direitos humanos e a legislação brasileira: ela CONTRARIA diretamente princípios constitucionais básicos. A Constituição Federal estabelece a dignidade da pessoa humana como um de seus fundamentos e garante a proibição de pena de morte para crimes comuns, o direito ao devido processo legal e a integridade física mesmo para acusados de crime. Ao desumanizar indivíduos com essa retórica, Mauro desconsidera preceitos legais e direitos humanos que protegem todo cidadão.
No Brasil, a ausência de pena de morte é justamente uma cláusula da proteção dos direitos humanos em lei — significando que não cabe ao Estado nem a representantes eleitos decidir sobre a vida ou morte de alguém fora do sistema de justiça. O discurso de Mauro, repetido e celebrado por seguidores em redes sociais, ignora deliberadamente esse quadro jurídico.
Gastos públicos e privilégios do PL
Os R$ 883,5 mil gastos por Éder Mauro com aluguel de veículos, embarcações e serviços relacionados à cota parlamentar estão entre os mais altos do país — um uso de dinheiro público que levanta perguntas sobre prioridades e eficiência parlamentar, especialmente quando contrastados com ausência de ações legislativas de impacto positivo direto para a população do Pará.
Esse padrão não é isolado no Partido Liberal (PL): outros deputados da legenda foram alvo de investigações da Polícia Federal por supostas irregularidades em uso de cotas parlamentares, com mandados de busca e apreensão autorizados pelo STF contra figuras como Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, por possíveis desvios dessa verba.
PL e o contexto de impunidade
Crimes, acusações e impasses legais envolvendo parlamentares do PL — inclusive relacionados à tentativa de golpe de Estado em 2023 — também mostram uma câmara pulverizada por blindagens institucionais e políticas que protegem aliados em detrimento de uma justiça efetiva. Relatórios públicos documentam votações que resultaram na suspensão de ações penais envolvendo figuras do partido em hipóteses que apontavam para crimes graves, incluindo golpe, organização criminosa e corrupção.
É nessa cosmética de proteção interna que líderes como Éder Mauro operam, repetindo mantras de violência e desprezo pelos direitos humanos enquanto mantêm um mandato público com altos gastos e pouca prestação efetiva de contas à população que deveriam representar.
Conclusão
A frase “bandido nem é gente”, como repetida no post do Diário Carioca, resume não só uma provocação nas redes sociais, mas uma postura política, institucional e ideológica que colide com princípios fundamentais da Constituição e dos direitos humanos. Quando essa retórica emerge de um parlamentar com histórico de denúncias, agressões e gastos questionáveis, ela reforça um debate urgente sobre responsabilidade, decoro e limites da autoridade pública no Brasil democrático.
Vale lembrar, que a população do Pará já mostrou a Eder Mauro que todo a sua “virilidade” e macheza, não lhe garantem voto, ou aprovação popular, tanto que o inoperante deputado concorreu à prefeitura de Belém em 2024 pelo PL, mas foi derrotado por Igor do MDB, que venceu no segundo turno com 56,36% dos votos, enquanto Éder Mauro ficou com 43,64%.

