Brasília, 23 de julho de 2025 — O Exército transferiu o Batalhão de Operações Psicológicas de Goiânia para Brasília, retirando-o da estrutura do Comando de Operações Especiais. A medida enfraquece os chamados “kids pretos”, ligados ao projeto golpista de Jair Bolsonaro.
Um grupo que perdeu o status de elite
A portaria nº 143-EME, assinada pelo comandante do Exército, general Tomás Paiva, redesenha a cadeia de comando do Batalhão de Operações Psicológicas, conhecido por abrigar parte dos militares envolvidos na conspiração golpista de 2022 e 2023. O documento remove o batalhão da alçada do Comando de Operações Especiais (COpEsp), transferindo-o para o Comando Militar do Planalto — uma movimentação simbólica e operacional que marca o rebaixamento de prestígio do grupo.
O COpEsp é a elite da tropa — referência em ações táticas de alta complexidade, inteligência e guerra irregular. Perder esse vínculo representa, na prática, uma desautorização institucional. O Batalhão de Operações Psicológicas, que operava em Goiânia como um núcleo estratégico para missões de sabotagem e contra-insurgência, agora será subordinado a uma estrutura mais administrativa e menos autônoma, baseada em Brasília.
Os “kids pretos” sob desmonte silencioso
A mudança física e hierárquica visa desmontar gradualmente a rede interna formada por oficiais treinados sob a lógica da guerra não convencional — muitos deles ligados diretamente ao bolsonarismo. Conhecidos informalmente como “kids pretos”, esses militares atuaram na retaguarda do projeto de ruptura institucional que levou ao 8 de janeiro e à tentativa de subverter o resultado das eleições de 2022.
A lista inclui nomes como Luiz Eduardo Ramos, Eduardo Pazuello e Mauro Cid, todos formados na lógica do “qualquer missão, em qualquer lugar”. O slogan, que por anos foi cultuado como símbolo de bravura tática, hoje serve como lembrança incômoda da contaminação política das Forças Armadas.
Com a reestruturação, o Exército dá o recado: o tempo dos golpistas operando de dentro está sendo encerrado. Não há punição formal, mas o isolamento progressivo desses quadros indica uma nova política interna — menos tolerante com fantasias intervencionistas, mais voltada à reconstrução da imagem institucional.
Alto Comando tenta virar a página
Fontes do Alto Comando admitem que a imagem das Forças Armadas sofreu abalo profundo após os episódios de 2023. Pesquisas internas, no entanto, mostram uma lenta recuperação da confiança pública. Para consolidar esse movimento, a estratégia tem sido dupla: afastar figuras contaminadas pelo bolsonarismo e despolitizar a retórica militar.
A ordem nas casernas é clara. Parlamentares que ainda sonham com quarteladas são tratados com silêncio. “Não vamos dar ouvidos a esses malucos”, declarou um general da ativa, em condição de anonimato. A ideia de “separar CPFs da instituição” serve como escudo para proteger a hierarquia da contaminação política sem enfrentar rupturas públicas.
A mudança da sede do batalhão também tem um peso simbólico: Brasília é o centro político do país, mas está longe da autonomia que o COpEsp garantiu por anos aos “kids pretos”. A capital nacional pode ser o novo endereço físico, mas a mensagem é de contenção, não de projeção.
Perguntas e Respostas
Quem são os “kids pretos”?
Militares treinados em guerra irregular, ligados ao Comando de Operações Especiais e ao núcleo duro do bolsonarismo.
O que muda com a portaria do Exército?
O batalhão onde atuavam foi transferido de Goiânia para Brasília e perdeu vínculo com a tropa de elite.
Qual o objetivo da mudança?
Desmobilizar discretamente estruturas associadas ao golpismo sem causar crise institucional.
A medida implica punição?
Não formalmente. Mas o rebaixamento de status e a mudança de sede são formas indiretas de desarticulação.
O Exército vai romper com o bolsonarismo?
Não declara abertamente, mas busca se distanciar das contaminações políticas sem confronto direto.