O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como “desastrosa” a operação policial realizada semana passada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortos, incluindo quatro policiais. Em entrevista a veículos internacionais nesta terça-feira (4) em Belém (PA), Lula afirmou que o governo federal pretende conduzir uma investigação paralela à apuração oficial conduzida pelo estado.
“Vamos ver se a gente consegue fazer essa investigação. Porque a decisão do juiz era uma ordem de prisão, não tinha uma ordem de matança, e houve matança”, declarou o presidente. O governo federal está articulando a participação de peritos da Polícia Federal para analisar detalhadamente as mortes e os procedimentos adotados na ação.
Contexto e detalhes da operação
A operação, considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, foi conduzida pelo governo estadual de Cláudio Castro (PL) contra o Comando Vermelho (CV), maior facção criminosa local. Segundo dados oficiais, a ação envolveu cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar e resultou em 121 mortos, 113 presos e uma grande apreensão de armas, incluindo 93 fuzis, explosivos e drogas.
O governo do Rio divulgou um perfil de 115 das pessoas mortas, a maioria com antecedentes criminais relacionados ao tráfico, mas com denúncias de que civis e moradores foram vítimas. Moradores relataram que dezenas de corpos foram encontrados em áreas de mata, elevando dúvidas sobre ações ilegais.
Reações políticas e institucionalização da apuração
Lula criticou o saldo de mortos na operação e afirmou que o governo federal não compactua com “ordens de matança” e que a ação foi “desastrosa” do ponto de vista da ação do Estado. Ele destacou a necessidade de um trabalho coordenado e que respeite direitos humanos.
O Supremo Tribunal Federal (STF) marcou audiência para esta quarta-feira (5) para acompanhar o caso. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ADPF das Favelas, determinou que o governo do Rio preserve provas e documentos completos da operação para viabilizar a atuação do Ministério Público e Defensoria Pública, investigando eventuais ilegalidades.
Ministros da Justiça, Direitos Humanos e Igualdade Racial do governo federal estiveram no Rio para tratar do tema, enquanto o governador Cláudio Castro defende a operação como “sucesso”, afirmando que as únicas vítimas foram os policiais mortos em confronto.
Medidas legislativas em análise
Na esteira do episódio, o governo federal tenta avançar na PEC da Segurança Pública, que busca integrar forças federais e estaduais no combate às facções. Paralelamente, tramita o Projeto Antifacção, que prevê endurecimento de penas e maior controle do sistema prisional.


