Sob controle?

Mpox não é Covid, mas nova variante gera alerta global, diz especialista

Imigrante retido no Aeroporto de Guarulhos é isolado com sintomas de mpox

Mpox não é a nova COVID-19
Foto: Reprodução / Shutterstock / QINQIE99

A mpox, conhecida como “varíola dos macacos”, “não é a nova covid”, afirmou Hans Kluge, diretor regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa. Apesar da preocupação real com a nova variante do vírus e do alerta global emitido recentemente, Kluge destacou que as autoridades de saúde estão preparadas para controlar a disseminação da doença com medidas eficazes, como a distribuição de vacinas nas áreas mais afetadas, evitando assim um novo ciclo de pânico e negligência.

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Em entrevista ao Diário Carioca, o infectologista Rodrigo Lins, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, disse que a mpox enfrenta um momento crítico devido à identificação de uma nova variante mais transmissível e potencialmente mais letal, denominada Clado 1b.

“Essa cepa é mais fácil de transmitir e está afetando principalmente crianças”, alertou Lins, acrescentando que a Clado 1b pode se espalhar por diferentes modos de transmissão, não se restringindo ao contato próximo e prolongado. A rápida propagação da variante na África Central, especialmente na República Democrática do Congo (RDC) e em Burundi, que registram 4.480 e 153 casos, respectivamente, acendeu um alerta global.


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Em resposta a esse cenário, a OMS declarou, no dia 14 de agosto, uma nova Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) para a mpox, a segunda em pouco mais de um ano, com o objetivo de criar uma resposta internacional coordenada e colaborativa.

“O alerta é feito para mobilizar esforços globais, não para indicar que uma nova pandemia esteja em curso”, ressaltou Lins. A medida reflete a gravidade da situação, especialmente com a circulação da Clado 1b, cuja taxa de letalidade pode chegar a 10% dos infectados, segundo dados preliminares.

Além da RDC e Burundi, a nova linhagem foi identificada em outros países africanos, como Uganda, Ruanda e Quênia, e já alcançou a Suécia, que relatou o primeiro caso importado. A situação torna-se ainda mais preocupante devido à escassez de vacinas específicas para a mpox e para a varíola humana, que permanecem limitadas.

A União Europeia anunciou a doação de 215.000 doses de vacinas, das quais 40.000 foram cedidas pela farmacêutica dinamarquesa responsável pela produção, mas o total ainda é insuficiente diante da estimativa de 10 milhões de doses necessárias para conter o surto.

Os dois tipos de vírus da mpox, Clado I e Clado II, têm características distintas. Enquanto o Clado I, endêmico da África Central, é responsável por casos mais graves e mortes, com taxas de mortalidade de até 10% em surtos específicos, o Clado II, endêmico da África Ocidental, é menos letal, com mais de 99,9% dos infectados sobrevivendo.

A nova cepa Clado 1b, que surgiu pela primeira vez em setembro de 2023 entre profissionais do sexo na cidade mineira de Kamituga, na RDC, representa uma ameaça devido à sua alta transmissibilidade e letalidade potencial.

A disseminação da Clado 1b também levanta questões sobre a capacidade de resposta global. Jean Kaseya, diretor-geral do Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (Africa CDC), enfatizou a necessidade de uma ação internacional mais robusta: “O mundo não pode se dar ao luxo de fechar os olhos para esta crise”, declarou, destacando os desafios enfrentados pela África na linha de frente contra doenças infecciosas com recursos limitados.

No Brasil, a situação permanece sob controle. Procurada pelo Diário Carioca, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro confirmou “221 casos de mpox em 2023 e 173 em 2024 até o momento, mas não há registro da nova variante Clado 1b no estado”.

Rodrigo Lins ressaltou a importância da colaboração mundial: “O alerta da OMS não significa que uma nova pandemia esteja se formando, mas que uma resposta coordenada e eficiente é essencial para evitar a expansão do novo vírus pelo planeta”.

A união de esforços globais é essencial para impedir que a crise na África Central se transforme em uma emergência global, ressaltou Lins, destacando a importância da vigilância e da preparação contínua para lidar com a mpox e suas novas variantes.

Em resposta ao Diário Carioca, o Ministério da Saúde confirmou que “a cepa 1b, que levou a OMS a declarar Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, não está em circulação no Brasil“. Ainda de acordo com o governo, antes da recente declaração da OMS, “já realizava ações de identificação de casos suspeitos, implementação do diagnóstico laboratorial, prevenção da transmissão e cuidado de pessoas diagnosticadas”.

A nota concluiu afirmando que, “em 15 de agosto, a pasta instalou o Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para coordenar a resposta à mpox e monitorar as informações internacionais”.

Suspeita de mpox em Guarulhos

A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi notificada sobre um imigrante com sintomas compatíveis com mpox no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O estrangeiro, após ser encaminhado para isolamento e exames em uma UPA, foi transferido para o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, onde está em observação. A principal suspeita, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), é varicela, e não há indícios de que o paciente tenha passado por áreas afetadas pela cepa 1b.

O Ministério da Saúde informou que tomou todas as medidas de desinfecção e monitoramento no local, incluindo a aplicação de questionários e a verificação de sinais da doença nos passageiros. Não há novos casos suspeitos identificados até o momento.

Simultaneamente, uma crise humanitária se desenrola no aeroporto, com mais de 500 pessoas retidas na área de imigração, enfrentando condições precárias. Uma reunião entre órgãos federais resultou em medidas emergenciais de higiene e assistência, como a distribuição de kits de higiene e o acesso a vestiários para banho.

Enquanto isso, o Brasil contabiliza 791 casos prováveis e confirmados de mpox desde janeiro, mais de 80% deles na região Sudeste. O Ministério da Saúde segue monitorando a situação em conjunto com outros órgãos competentes.