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Sabe a casa da Fernanda Torres? Totalmente de areia!

A semana começou com uma satisfação por ser brasileiro e com muito orgulho de uma brasileira especialmente: Fernanda Torres. 25 anos depois da mãe, Fernanda recebe o Globo de Ouro por sua interpretação de Eunice Paiva em Ainda estou aqui. No longa, Fernanda Montenegro faz uma participação, uma dobradinha com a filha, vivendo Eunice idosa, já com Alzheimer. 

Devido à semelhança física, as Fernandas já realizaram outras dobradinhas ao longo da carreira, mas talvez nenhuma tão longa, tão múltipla quanto em Casa de areia (2005) em que se alternam entre os papéis de mãe, filha, neta e neta idosa.

A história de “Casa de areia” se passa entre as dunas maranhenses no início do século XX. Após vagar por um mês no areal, Vasco de Sá (Ruy Guerra) encontra o pedaço de terra que comprou entre lagos, no meio do nada. Como se o local desértico não fosse suficiente, ainda havia vizinhos hostis que não os queriam ali, tudo conspirando para a repulsa daquele lugar como lar e pela busca incessante por partir– o plano principal de Áurea (Torres) e sua mãe, Maria (Montenegro).

O passar do tempo e as tentativas frustradas, no entanto, foram abalando a vontade de uma e de outra. Aquela vida acabou se tornando conhecida, “confortável”, ainda que as enterrassem (e a tudo ao redor) vivas. A personagem da Fernanda Montenegro, depois que o genro autoritário morreu, chega a encontrar um ponto positivo em ficar: nenhum homem mandaria nela.

Se examinarmos o filme sob lentes feministas, é possível ver um ciclo de mulheres sob o jugo de homens até sua “libertação”. É pelas mãos de um homem que acabam ali, é pela omissão de outro que continuam ali, sempre buscando o próximo salvador que poderiam levá-las até a cidade mais próxima. Até que uma consegue, faz a vida e pode escolher voltar por conta própria, dirigindo a própria vida.

Mas não é este um filme exatamente feminista (apesar de cumprir o teste de Bechdel). Não, “Casa de areia” é sobre o tempo, seus ciclos e escolhas, decidir ir, ficar e voltar. Como num grande relógio de areia que, mesmo que inescapável, fosse possível escolher virar e começar tudo de novo. Pensando no filme que deu o prêmio de Melhor Atriz para Fernanda Torres, algo que Eunice fez, de certa forma, a seu modo. Isso tudo, claro, porque a vida presta, ainda estamos aqui e o cinema brasileiro, hum, é uma delícia!

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Jaqueline Ribeiro
Jaqueline Ribeirohttps://www.diariocarioca.com/
Jaqueline Ribeiro é bacharela em Comunicação/Jornalismo pela UEMG-Frutal, interessada por tudo o que conta histórias, escreve sobre livros, filmes e discos

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