‘Parem de nos matar’: mulheres transformam a avenida Paulista em grito coletivo por vida, direitos e democracia
São Paulo assistiu neste domingo (7) a uma das maiores manifestações recentes contra a violência de gênero. No ato nacional Mulheres Vivas, milhares ocuparam a região do Masp para denunciar a explosão de feminicídios no país e a omissão do poder público diante do que movimentos sociais chamam de emergência nacional permanente.
A cada cartaz, cada palavra de ordem e cada silêncio compartilhado, ecoava a mesma urgência: “Parem de nos matar.”
Violência que tem cor, classe e território
Entre as participantes estava a professora de educação infantil Natália Marinho, que lembrou que a violência no Brasil tem endereço e cor: mulheres negras seguem sendo as principais vítimas. Emocionada, ela lembrou o peso de caminhar todos os dias com o corpo marcado como alvo.
Casos brutais noticiados nas últimas semanas — crimes que chocaram o país pela crueldade — apenas confirmam o diagnóstico: não se trata de episódios isolados, mas de um sistema que normaliza a misoginia e falha em proteger mulheres que pedem socorro.
Quando o Estado recua, o autoritarismo avança sobre os corpos das mulheres
A manifestação também destacou como discursos de ódio — frequentemente impulsionados por influenciadores misóginos e tolerados por plataformas digitais — fortalecem uma cultura que legitima agressões. Organizações feministas apontaram que ambientes políticos autoritários e antidemocráticos costumam aprofundar retrocessos nos direitos das mulheres, reduzindo orçamentos, desmontando serviços e desresponsabilizando o Estado.
Representatividade e eleições de 2026
A secretária Deia Zulu lembrou que o Brasil se aproxima de um novo ciclo eleitoral e reforçou que eleger mulheres comprometidas com a agenda feminista é uma medida vital de proteção coletiva. Não basta punir: é preciso transformar estruturas.
Tapete de luto e luta
Na reta final, manifestantes formaram um grande tapete no chão da Paulista, simbolizando a ausência deixada pelas vítimas. Uma bandeira branca, repleta de nomes e mensagens, sintetizou a dimensão da perda.
Números que revelam descaso histórico
Dados recentes reforçam a dimensão da crise:
- 1.492 feminicídios em 2024, o maior número desde 2015.
- 63,6% das vítimas eram negras.
- 8 em cada 10 assassinatos foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros.
- A maioria dos crimes ocorreu dentro da própria casa.
- 97% dos agressores eram homens.
- No mundo, uma mulher é assassinada por familiar ou parceiro a cada 10 minutos.
Especialistas apontam que endurecer penas não é suficiente: são necessárias estruturas permanentes, investimento constante e políticas preventivas.
Falhas e retrocessos na política paulista
A indignação cresceu diante da previsão de apenas R$ 10 destinados pelo governo de São Paulo para acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade na LOA 2026 — um valor considerado simbólico e ofensivo por organizações de direitos humanos. Apenas 18 das 142 Delegacias da Mulher no estado funcionam 24 horas.
Misoginia online alimenta a violência offline
O ato também exigiu regulação das plataformas e criminalização da misoginia, lembrando casos como o do influenciador preso por agressão, cuja popularidade se apoia em discursos que desumanizam mulheres.
“Discurso de ódio vira agressão; agressão, quando ignorada pelo Estado, vira feminicídio”, afirmou a atriz e comediante Lívia La Gatto.
Homens precisam se posicionar
Para a bióloga Camila Postal Adomaitis, é impossível enfrentar o problema sem a participação ativa dos homens:
“Se toda mulher já sofreu assédio, como nenhum homem ‘conhece o agressor’? A conta não fecha. Eles precisam assumir responsabilidade.”
Mobilização nacional
O ato em São Paulo fez parte de uma onda nacional que tomou ruas em capitais e cidades do interior de todas as regiões do país, reforçando que a luta pela vida das mulheres é também luta pela democracia, pela dignidade e contra todo tipo de retrocesso autoritário.
Com Informações do Brasil de Fato
