Vítimas de feminicídio foram lembradas durante a manifestação | Crédito: Geisa Marques / Brasil de Fato
Atualizado em 07/12/2025 17:13

‘Parem de nos matar’: mulheres transformam a avenida Paulista em grito coletivo por vida, direitos e democracia

São Paulo assistiu neste domingo (7) a uma das maiores manifestações recentes contra a violência de gênero. No ato nacional Mulheres Vivas, milhares ocuparam a região do Masp para denunciar a explosão de feminicídios no país e a omissão do poder público diante do que movimentos sociais chamam de emergência nacional permanente.

A cada cartaz, cada palavra de ordem e cada silêncio compartilhado, ecoava a mesma urgência: “Parem de nos matar.”

Violência que tem cor, classe e território

Entre as participantes estava a professora de educação infantil Natália Marinho, que lembrou que a violência no Brasil tem endereço e cor: mulheres negras seguem sendo as principais vítimas. Emocionada, ela lembrou o peso de caminhar todos os dias com o corpo marcado como alvo.

Casos brutais noticiados nas últimas semanas — crimes que chocaram o país pela crueldade — apenas confirmam o diagnóstico: não se trata de episódios isolados, mas de um sistema que normaliza a misoginia e falha em proteger mulheres que pedem socorro.

Quando o Estado recua, o autoritarismo avança sobre os corpos das mulheres

A manifestação também destacou como discursos de ódio — frequentemente impulsionados por influenciadores misóginos e tolerados por plataformas digitais — fortalecem uma cultura que legitima agressões. Organizações feministas apontaram que ambientes políticos autoritários e antidemocráticos costumam aprofundar retrocessos nos direitos das mulheres, reduzindo orçamentos, desmontando serviços e desresponsabilizando o Estado.

Representatividade e eleições de 2026

A secretária Deia Zulu lembrou que o Brasil se aproxima de um novo ciclo eleitoral e reforçou que eleger mulheres comprometidas com a agenda feminista é uma medida vital de proteção coletiva. Não basta punir: é preciso transformar estruturas.

Tapete de luto e luta

Na reta final, manifestantes formaram um grande tapete no chão da Paulista, simbolizando a ausência deixada pelas vítimas. Uma bandeira branca, repleta de nomes e mensagens, sintetizou a dimensão da perda.

Números que revelam descaso histórico

Dados recentes reforçam a dimensão da crise:

  • 1.492 feminicídios em 2024, o maior número desde 2015.
  • 63,6% das vítimas eram negras.
  • 8 em cada 10 assassinatos foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros.
  • A maioria dos crimes ocorreu dentro da própria casa.
  • 97% dos agressores eram homens.
  • No mundo, uma mulher é assassinada por familiar ou parceiro a cada 10 minutos.

Especialistas apontam que endurecer penas não é suficiente: são necessárias estruturas permanentes, investimento constante e políticas preventivas.

Falhas e retrocessos na política paulista

A indignação cresceu diante da previsão de apenas R$ 10 destinados pelo governo de São Paulo para acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade na LOA 2026 — um valor considerado simbólico e ofensivo por organizações de direitos humanos. Apenas 18 das 142 Delegacias da Mulher no estado funcionam 24 horas.

Misoginia online alimenta a violência offline

O ato também exigiu regulação das plataformas e criminalização da misoginia, lembrando casos como o do influenciador preso por agressão, cuja popularidade se apoia em discursos que desumanizam mulheres.

“Discurso de ódio vira agressão; agressão, quando ignorada pelo Estado, vira feminicídio”, afirmou a atriz e comediante Lívia La Gatto.

Homens precisam se posicionar

Para a bióloga Camila Postal Adomaitis, é impossível enfrentar o problema sem a participação ativa dos homens:
“Se toda mulher já sofreu assédio, como nenhum homem ‘conhece o agressor’? A conta não fecha. Eles precisam assumir responsabilidade.”

Mobilização nacional

O ato em São Paulo fez parte de uma onda nacional que tomou ruas em capitais e cidades do interior de todas as regiões do país, reforçando que a luta pela vida das mulheres é também luta pela democracia, pela dignidade e contra todo tipo de retrocesso autoritário.

Com Informações do Brasil de Fato

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Vanessa Neves é Jornalista, editora e analista de mídias sociais do Diário Carioca. Criadora de conteúdo, editora de imagens e editora de política.