Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil
Atualizado em 07/12/2025 16:13

Milhares de mulheres enfrentaram chuva intensa neste domingo (7), em Brasília, para participar do ato Levante Mulheres Vivas, mobilização convocada em ao menos nove capitais para denunciar o feminicídio, a violência de gênero e a omissão do Estado em proteger a vida das mulheres.

No centro de Brasília, na Torre de TV, o protesto integrou falas de lideranças, performances culturais e batalhas de rima. A assistente social e rimadora Elisandra “Lis” Martins, de 31 anos, sintetizou o espírito do ato ao declarar:
“Querem nos manter de bocas fechadas, mas nem a morte irá nos calar. Mulheres vivas!”

O Levante foi organizado após uma sequência de feminicídios brutais registrados em todo o país, que reacenderam a revolta e a urgência por ação estatal.


Denúncias de omissão do Estado e violência institucional

Lideranças de movimentos feministas foram enfáticas ao denunciar falhas das instituições brasileiras, especialmente do sistema de Justiça, que nega medidas protetivas, revitimiza mulheres e mantém estruturas machistas que desacreditam denúncias.

A cientista social Vanessa Hacon, do coletivo Mães na Luta, criticou o sistema judicial:
“As mulheres saem de casa para se livrar da violência e vão parar no sistema de Justiça, onde a violência processual é intensa e juízes não fazem nada.”

Ela denunciou ainda que tribunais reproduzem estereótipos machistas, deslegitimando vítimas com frases como “ressentida”, “vingativa” ou “não aceita o fim do relacionamento”.


Patriarcado, racismo e feminicídio: violência estrutural

Para o Movimento Negro Unificado (MNU), representado por Leonor Costa, o Brasil vive uma “epidemia” de feminicídios, diretamente ligada ao patriarcado e ao racismo estrutural.

Leonor cobrou políticas públicas efetivas e educação transformadora:
“Esse é um problema do país inteiro. A cultura pode ser transformada.”


Homens como aliados e orçamento público como condição para políticas efetivas

Embora majoritariamente composto por mulheres, o ato contou com a presença de muitos homens.
A escritora e cineasta Renata Parreira, do Levante Feminista, destacou que enfrentar o feminicídio exige envolver os homens na reflexão sobre masculinidade tóxica.

Ela também enfatizou a importância de orçamento público, equipes qualificadas e indicadores para elaborar políticas eficazes.

Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Autonomia econômica e sobrevivência

A empreendedora Aline Karina Dias reforçou que a independência financeira é vital para quebrar ciclos de violência:
A questão financeira é ferramenta de emancipação. Muitas morrem por falta de moradia e emprego.


Contexto: país chocado por feminicídios recentes

O ato ocorre após crimes que comoveram o Brasil:

  • Tainara Souza Santos teve as pernas mutiladas após ser atropelada e arrastada por cerca de 1 km.
  • Duas funcionárias do Cefet-RJ foram assassinadas por um colega de trabalho, que se matou em seguida.
  • A cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, de 25 anos, foi encontrada carbonizada; o crime é investigado como feminicídio após confissão do suspeito.

Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, 3,7 milhões de mulheres sofreram violência doméstica no último ano.
Foram 1.459 feminicídios em 2024quatro assassinatos por dia. Em 2025, o país já ultrapassa 1.180 casos.

Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mobilização por vida, dignidade e Estado atuante

O Levante Mulheres Vivas evidencia:

  • A necessidade urgente de Estado presente e responsável,
  • de orçamento sólido para políticas de prevenção e proteção,
  • de educação transformadora contra o machismo,
  • de responsabilização institucional diante da violência,
  • e da importância de homens como aliados na desconstrução da violência de gênero.

As ruas exigiram o óbvio: Nenhuma a menos. Mulheres vivas. Estado vivo. Democracia viva.

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Vanessa Neves é Jornalista, editora e analista de mídias sociais do Diário Carioca. Criadora de conteúdo, editora de imagens e editora de política.