Milhares de mulheres enfrentaram chuva intensa neste domingo (7), em Brasília, para participar do ato Levante Mulheres Vivas, mobilização convocada em ao menos nove capitais para denunciar o feminicídio, a violência de gênero e a omissão do Estado em proteger a vida das mulheres.
- Denúncias de omissão do Estado e violência institucional
- Patriarcado, racismo e feminicídio: violência estrutural
- Homens como aliados e orçamento público como condição para políticas efetivas
- Autonomia econômica e sobrevivência
- Contexto: país chocado por feminicídios recentes
- Mobilização por vida, dignidade e Estado atuante
No centro de Brasília, na Torre de TV, o protesto integrou falas de lideranças, performances culturais e batalhas de rima. A assistente social e rimadora Elisandra “Lis” Martins, de 31 anos, sintetizou o espírito do ato ao declarar:
“Querem nos manter de bocas fechadas, mas nem a morte irá nos calar. Mulheres vivas!”
O Levante foi organizado após uma sequência de feminicídios brutais registrados em todo o país, que reacenderam a revolta e a urgência por ação estatal.
Denúncias de omissão do Estado e violência institucional
Lideranças de movimentos feministas foram enfáticas ao denunciar falhas das instituições brasileiras, especialmente do sistema de Justiça, que nega medidas protetivas, revitimiza mulheres e mantém estruturas machistas que desacreditam denúncias.
A cientista social Vanessa Hacon, do coletivo Mães na Luta, criticou o sistema judicial:
“As mulheres saem de casa para se livrar da violência e vão parar no sistema de Justiça, onde a violência processual é intensa e juízes não fazem nada.”
Ela denunciou ainda que tribunais reproduzem estereótipos machistas, deslegitimando vítimas com frases como “ressentida”, “vingativa” ou “não aceita o fim do relacionamento”.
Patriarcado, racismo e feminicídio: violência estrutural
Para o Movimento Negro Unificado (MNU), representado por Leonor Costa, o Brasil vive uma “epidemia” de feminicídios, diretamente ligada ao patriarcado e ao racismo estrutural.
Leonor cobrou políticas públicas efetivas e educação transformadora:
“Esse é um problema do país inteiro. A cultura pode ser transformada.”
Homens como aliados e orçamento público como condição para políticas efetivas
Embora majoritariamente composto por mulheres, o ato contou com a presença de muitos homens.
A escritora e cineasta Renata Parreira, do Levante Feminista, destacou que enfrentar o feminicídio exige envolver os homens na reflexão sobre masculinidade tóxica.
Ela também enfatizou a importância de orçamento público, equipes qualificadas e indicadores para elaborar políticas eficazes.

Autonomia econômica e sobrevivência
A empreendedora Aline Karina Dias reforçou que a independência financeira é vital para quebrar ciclos de violência:
“A questão financeira é ferramenta de emancipação. Muitas morrem por falta de moradia e emprego.”
Contexto: país chocado por feminicídios recentes
O ato ocorre após crimes que comoveram o Brasil:
- Tainara Souza Santos teve as pernas mutiladas após ser atropelada e arrastada por cerca de 1 km.
- Duas funcionárias do Cefet-RJ foram assassinadas por um colega de trabalho, que se matou em seguida.
- A cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, de 25 anos, foi encontrada carbonizada; o crime é investigado como feminicídio após confissão do suspeito.
Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, 3,7 milhões de mulheres sofreram violência doméstica no último ano.
Foram 1.459 feminicídios em 2024 — quatro assassinatos por dia. Em 2025, o país já ultrapassa 1.180 casos.

Mobilização por vida, dignidade e Estado atuante
O Levante Mulheres Vivas evidencia:
- A necessidade urgente de Estado presente e responsável,
- de orçamento sólido para políticas de prevenção e proteção,
- de educação transformadora contra o machismo,
- de responsabilização institucional diante da violência,
- e da importância de homens como aliados na desconstrução da violência de gênero.
As ruas exigiram o óbvio: Nenhuma a menos. Mulheres vivas. Estado vivo. Democracia viva.
