A 29ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo levou, neste domingo (22), uma reflexão potente em meio à festa: o envelhecimento da população LGBTQIAPN+. Com um público estimado em 4 milhões de pessoas, a Avenida Paulista se transformou novamente no maior palco da diversidade do mundo, reunindo gerações, famílias e militantes em um ato de celebração, resistência e conscientização.
Pela primeira vez na história do evento, o tema do envelhecimento foi trazido para o centro das discussões. Para Norivaldo Júnior, do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, a escolha é simbólica e necessária. “Nossa geração viveu uma lacuna nos anos 1980, perdemos muitas referências. Hoje, lutamos para que essa geração tenha uma velhice melhor do que a que nos foi possível”, destacou, emocionado, ao lado do marido, o publicitário Rodrigo Souza, com quem vive há 14 anos.
Nori, de 62 anos, aponta que ainda há desafios dentro da própria comunidade: “Existe uma geração obcecada pela estética que nos empurra de volta para o armário, que não aceita envelhecer. E aí revivemos rejeições da juventude, como o preconceito, a solidão e a exclusão”.
As famílias também ocupam a Paulista
Logo nos primeiros trios, o bloco “Crianças e Adolescentes Trans Existem” trouxe visibilidade às famílias com filhos e filhas trans. A ativista e mãe Thamirys Nunes, de 35 anos, lembrou que o amor e a proteção dessas crianças precisam ser reconhecidos pela sociedade e pelo Estado. “Nós somos famílias como qualquer outra. Quem nega isso tenta apagar nossas existências e nossos direitos. E nós não vamos permitir.”
Resistência, história e visibilidade
Figuras históricas do movimento também marcaram presença, como a performer Mey Ling, de 45 anos, que acompanha a Parada desde 1996. “É festa, é protesto, é ocupação. Estar montada é ser visível, é falar, é abrir o leque — literalmente — para o mundo nos ver”, brincou.
De Buenos Aires para São Paulo, o argentino German Rocha, já na terceira idade, veio acompanhado do marido e de um amigo para estrear na Parada paulistana. “Viemos para celebrar, resistir e mostrar que na América Latina a luta é coletiva. Estamos sofrendo na Argentina com um presidente que nos envergonha, mas seguimos lutando para preservar nossas conquistas.”
Segurança e estrutura reforçadas
O governo estadual mobilizou 1,5 mil agentes de segurança, além de reforçar os atendimentos de saúde e o transporte público. A recomendação das autoridades foi que o público se protegesse contra furtos, utilizando capas bloqueadoras de sinal para celulares e evitando objetos expostos.
Festa, luta e reflexão caminham juntas
A Parada de São Paulo, mais uma vez, mostrou que a celebração da diversidade é também um espaço de reflexão profunda sobre os desafios de existir e resistir — seja na juventude, na maturidade ou na velhice. Um evento que, além de cores, música e alegria, carrega vozes que ecoam por dignidade, direitos e reconhecimento.