Sabotagem Fail

Nem o “tarifaço” de Trump conseguiu frear Lula e o aumento das exportações brasileiras

Diversificação de mercados e setores especializados compensam sobretaxas dos EUA, aponta estudo
por 22 de dezembro de 2025
Donald Trump e Lula. Foto: Ricardo Stuckert
Donald Trump e Lula. Foto: Ricardo Stuckert
Atualizado em 22/12/2025 11:34

As exportações brasileiras fecharam os primeiros onze meses de 2025 com desempenho acima do esperado, atingindo o maior valor da última década para o período, mesmo após o tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump. A combinação entre diversificação de mercados buscada pelo presidente Lula (PT) e maior peso de setores especializados ajudou a reduzir o impacto das sobretaxas e a diminuir a dependência do mercado estadunidense.

De janeiro a novembro, o Brasil exportou US$ 317,18 bilhões, alta de 1,8% em relação a 2024. O avanço ocorreu apesar da sobretaxa adicional anunciada em julho e aplicada a partir de agosto, que elevou a alíquota sobre diversos produtos brasileiros para até 50%.

O impacto foi concentrado nos embarques para os Estados Unidos, mas acabou compensado pelo crescimento das vendas para outros destinos.

Desempenho setorial

Estudo da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, mostra que o efeito do tarifaço variou significativamente entre os setores exportadores.

Dos 30 setores que vendem para os EUA, 19 registraram queda nas exportações, somando US$ 21,2 bilhões entre janeiro e novembro, retração de 14,5% em relação a 2024, quando ainda não havia tarifas adicionais.

Por outro lado, 11 setores ampliaram vendas ao mercado estadunidense mesmo sob o tarifaço, totalizando US$ 12,9 bilhões e crescimento de 9,8% na comparação anual. Esse desempenho ajudou a limitar a retração total das exportações brasileiras para os EUA a 6,7% no acumulado até novembro.

Setores que se destacaram

“O resultado do tarifaço foi assimétrico entre os setores”, afirmou Daiane Santos, pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), economista da Funcex e responsável pelo estudo. Segundo ela, os segmentos que avançaram oferecem produtos com maior especialização e alguma vantagem comparativa, como aviões, óleos combustíveis, carne bovina, suco de laranja, café, máquinas e equipamentos elétricos.

Outro fator relevante é a dependência dos importadores. “Quem precisa das máquinas brasileiras, mesmo com a tarifa, importou. Pagou o preço, mesmo com a sobretaxação”, disse. O café em grão avançou 6,8% em valor, e máquinas, aparelhos e materiais elétricos cresceram 11,3%.

Setores mais afetados

Entre os setores mais prejudicados predominaram commodities e bens intermediários, produtos padronizados e facilmente substituíveis. Com isso, a participação dos EUA nas exportações brasileiras caiu para 7% a 8% neste ano, após variar entre 10% e 12% em 2023 e 13% a 14% em 2024.

“Os EUA ainda têm participação relevante, mas não são mais dominantes, como no passado”, afirmou Daiane.

O impacto das tarifas ficou mais evidente em outubro, quando as exportações para os EUA caíram quase 40% na comparação anual. Em novembro, houve reação, após recuo do governo Trump na sobretaxa de 40% sobre mais de 200 produtos. “Trump voltar atrás na tarifa de 50% foi primordial”, destacou Daiane.

Crescimento para outros mercados

No conjunto, o comércio exterior brasileiro surpreendeu positivamente. “Isso significa que as exportações, excluindo os EUA, estão crescendo”, observou Julia Marasca, economista do Itaú BBA. Ásia e América do Sul ganharam espaço, com destaque para China, Índia e Argentina, além de países europeus, do Oriente Médio e do Norte da África.

Até novembro, a balança comercial acumula superávit de US$ 57,8 bilhões. A projeção do Itaú BBA é que o saldo chegue a US$ 65 bilhões em 2025, com exportações em alta mesmo diante do tarifaço, enquanto a redução em relação a 2024 será explicada principalmente pelo crescimento das importações.

JR Vital

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.