Lobby imperial

Trump ataca Pix para proteger WhatsApp Pay da Meta

16 de julho de 2025
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Donald Trump e Mark Zuckerberg

Brasília, 16 de julho de 2025 — A ofensiva comercial dos Estados Unidos contra o Brasil mira diretamente o Pix. Documentos revelam que o real alvo é o bloqueio do Banco Central ao WhatsApp Pay, sistema de pagamentos da Meta, controlado por Mark Zuckerberg.


Princípios Intransigentes

O império se inquieta quando perde o controle da moeda. É disso que se trata a nova ofensiva dos Estados Unidos contra o Brasil, travestida de disputa técnica sobre pagamentos digitais. Sob liderança de Donald Trump e encabeçada pelo representante comercial Jamieson Greer, a investigação aberta com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 — a mesma usada para impor tarifas bilionárias à China — acusa o Banco Central de favorecer o Pix em detrimento de empresas americanas. A principal delas: a Meta, de Mark Zuckerberg.

A denúncia parte da retenção do WhatsApp Pay, lançada pela big tech em junho de 2020, semanas antes da implementação do Pix. À época, tanto o Banco Central quanto o Cade intervieram para suspender o serviço, sob o argumento de que poderia causar danos estruturais ao sistema financeiro nacional. A medida impediu que uma empresa privada, transnacional e orientada por interesses comerciais, assumisse o controle sobre as transferências digitais de milhões de brasileiros.


Defesa do comum contra o monopólio

A reação dos EUA tenta redesenhar a história. Segundo o relatório do Escritório do Representante de Comércio, o Brasil adota “práticas desleais” ao promover um sistema estatal e gratuito. A narrativa ignora que o WhatsApp Pay foi liberado posteriormente — de forma progressiva e com regras claras — e que o Pix não só obteve adesão massiva como passou a ser modelo de soberania financeira digital em todo o Sul Global.

Mais do que um serviço, o Pix é uma política pública. Regulado, gratuito e amplamente acessível, rompeu com o cartel de maquininhas e bancos. Já são mais de 160 milhões de usuários e trilhões de reais em circulação mensal. Nos Estados Unidos, onde as empresas de tecnologia dominam os meios de pagamento, a ideia de um sistema nacional e sem fins lucrativos é impensável — e, por isso mesmo, intolerável.


A guerra por soberania digital está em curso

Não há neutralidade possível quando o que está em disputa é o controle sobre a infraestrutura da moeda. A Meta, que opera globalmente com base no lucro e na manipulação de dados, queria se posicionar como operadora privilegiada de pagamentos no Brasil, usando sua base de usuários do WhatsApp. O Banco Central barrou o movimento e acelerou o lançamento do Pix em agosto de 2020 — ação estratégica que agora os EUA tentam reverter via pressão diplomática.

O relatório norte-americano não esconde sua natureza política. Menciona explicitamente a promoção de “serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo” como obstáculo à concorrência. A lógica é clara: tudo o que escapa da esfera corporativa e estatal dos EUA é tratado como ameaça. Não importa se o Pix melhorou a vida da população, reduziu taxas abusivas ou ampliou o acesso bancário. O que importa é que escapou ao controle do Vale do Silício.


Especialistas expõem a farsa

Mesmo setores liberais admitem que a ação dos EUA tem menos a ver com justiça comercial e mais com lobby corporativo. Luciano Timm, ex-chefe da Secretaria Nacional do Consumidor, afirma que o BC atuou “como player de mercado”, mas reconhece a legitimidade do órgão como regulador. É esse papel soberano que está em xeque: os EUA querem impor limites à capacidade de regulação do Estado brasileiro sobre sua própria moeda digital.

As acusações contra o Brasil incluem ainda o comércio informal, tarifas específicas e barreiras a produtos americanos — numa tentativa de empacotar todos os incômodos geopolíticos numa só ofensiva. Mas o foco estrutural é o Pix. O sucesso de um sistema público que não lucra com o dinheiro da população desafia não só a Meta, mas toda a lógica neoliberal de dependência financeira tecnológica.

Perguntas e Respostas

Por que os EUA atacam o Pix?
Porque o sistema estatal brasileiro desestabiliza os interesses de big techs como a Meta.

O WhatsApp Pay foi banido do Brasil?
Não. Foi suspenso inicialmente em 2020 e liberado de forma progressiva nos anos seguintes.

O Banco Central favoreceu o Pix?
Sim — como política pública e solução nacional. O BC tem autonomia para regular o sistema financeiro.

Qual a relação com Trump e Zuckerberg?
Trump usa a Seção 301 para proteger empresas americanas, entre elas a Meta, de Mark Zuckerberg.

Há risco de sanções contra o Brasil?
Sim. A Seção 301 autoriza os EUA a impor tarifas e barreiras comerciais unilaterais.

JR Vital

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.