terça-feira, setembro 23, 2025
22 C
Rio de Janeiro
InícioEducaçãoA epidemia silenciosa do plágio nas universidades
Sem Embustes

A epidemia silenciosa do plágio nas universidades

Os professores verificam as redações enviadas por meio de um verificador de plágio e, em seguida, passam horas cruzando fontes

A sala de aula estava meio vazia. Numa tarde chuvosa, um professor de uma universidade pública desdobrou uma folha de papel com o nome de um aluno e uma lista de frases idênticas retiradas de um site de redação online. O aluno insistiu que tinha «reelaborado» o texto; o professor viu a mesma estrutura, as mesmas frases estranhas e o mesmo padrão de nome de ficheiro que se tornou familiar para muitos professores. O que se seguiu não foi apenas um caso de má conduta académica, mas uma disputa silenciosa sobre o processo, a prova e a proporção.

As universidades estão a se esforçar para responder. Os professores verificam as redações enviadas por meio de um verificador de plágio e, em seguida, passam horas cruzando fontes e, em alguns casos, defendendo seus veredictos para alunos preocupados e administradores ansiosos. As ferramentas ajudam, mas não resolvem o que está por trás dos trabalhos: pressão, lacunas na formação e novas tecnologias que mudam a forma como as pessoas escrevem e como identificamos a desonestidade.

É por isso que a expressão «epidemia de plágio académico» continua a surgir em reuniões de professores, memorandos de política e colunas de opinião. Não é tanto uma hipérbole, mas sim um diagnóstico:

quando a fraude passa de atos isolados para padrões sistémicos, as instituições devem repensar a avaliação, o apoio e a confiança.

Por que chamamos as universidades de plágio de epidemia?

Quando vários campi relatam um aumento simultâneo de casos, isso parece menos um erro de julgamento e mais um problema estrutural:

O ensino à distância, a disseminação de serviços de fraude contratual e a chegada da IA generativa ampliaram as rotas que os alunos podem seguir em relação aos trabalhos atribuídos.

Pesquisadores e educadores que acompanharam as condutas indevidas durante a pandemia encontraram evidências claras de que os comportamentos fraudulentos mudaram com a mudança do ensino para o ambiente online; algumas formas de desonestidade aumentaram drasticamente, mesmo que outras tenham permanecido estáveis.

Epidemia de plágio académico

Chamar a tendência de «epidemia» ajuda a captar a dimensão do problema:

Nem todos os estudantes copiam, mas um número suficiente o faz — e os meios são industriais.

As fábricas de trabalhos académicos prometem trabalhos bem elaborados mediante o pagamento de uma taxa; anúncios nas redes sociais e aplicações de mensagens vendem ensaios personalizados; e novos modelos de assistência à escrita esbatem a linha entre ajuda e substituição. O resultado é um fluxo constante de casos que, coletivamente, sobrecarregam os sistemas de julgamento e minam a confiança nas credenciais.

Por que a detecção está a falhar nas salas de aula

Muitas universidades dependem de pacotes de deteção comerciais, pesquisas em bases de dados e revisão manual. Essa abordagem tripla parece sólida no papel, mas, na prática, é cara e imperfeita.

Uma pontuação de similaridade não equivale a culpa, e professores sem tempo ou formação podem interpretar mal os relatórios, penalizando os alunos por citações inadequadas em vez de roubo intencional. Ao mesmo tempo, ferramentas de nova geração destinadas a detectar textos escritos com ajuda de IA têm produzido falsos positivos e gerado controvérsia sobre a sua fiabilidade.

Detecção de plágio em universidades

A verdade nua e crua:

As plataformas de deteção são úteis para sinalizar, mas não para julgar.

As universidades que tratam um número percentual como prova irrefutável correm o risco de punir alunos honestos; aquelas que ignoram as ferramentas correm o risco de deixar passar fraudes organizadas. A melhor prática que está a surgir em vários campi é híbrida: software para levantar suspeitas, seguido por uma revisão cuidadosa feita por humanos e uma conversa aberta com o aluno.

Causas fundamentais: o que leva os alunos a copiar

A fraude raramente surge apenas da malícia. Os motivos mais comuns são urgentes e familiares: cargas de trabalho esmagadoras, medo do fracasso, má gestão do tempo, instruções pouco claras e barreiras linguísticas para os alunos que estudam numa segunda língua.

O stress económico e a perceção de que uma única nota pode ter um impacto significativo podem levar alguns a recorrer a atalhos. Os educadores que estudam o comportamento dizem que essas pressões, combinadas com o fácil acesso a serviços comerciais de redação, criam uma mistura perigosa.

Causas do plágio estudantil

Quando as tarefas são padronizadas, as avaliações são pontuais e o apoio é escasso, os alunos aprendem que os resultados são mais importantes do que a aprendizagem. Acrescente a isso os mercados online anónimos que vendem trabalhos «plagiados, mas bem elaborados», e o cálculo muda: o risco parece baixo, a recompensa alta. Abordar essas causas fundamentais significa menos fiscalização e mais prevenção.

O que mostram as evidências: taxas de plágio antes e depois da COVID

As comparações ao longo do tempo são confusas, mas surge um padrão:

A mudança repentina para o ensino remoto em 2020 alterou a forma e o conteúdo das fraudes. Alguns estudos documentaram aumentos nas fraudes em exames e novas formas de subcontratação durante a pandemia; mais tarde, com o regresso do ensino presencial, o perfil das condutas indevidas evoluiu novamente: a escrita assistida por IA surgiu como uma nova preocupação em 2023-24.

Investigações nacionais também mostram que os casos tradicionais de plágio podem ter diminuído em alguns lugares, enquanto as violações relacionadas à IA aumentaram, uma mudança que complica tanto a deteção quanto a denúncia.

Taxas de plágio antes e depois da COVID

A pandemia foi um acelerador. Ela não criou a desonestidade académica, mas expandiu o conjunto de ferramentas que os estudantes e terceiros podem usar. É difícil acompanhar essas mudanças com precisão: muitas instituições não separam o uso indevido da IA do plágio clássico.

Mas relatórios de tendências e reportagens investigativas apontam para uma transição clara nas modalidades, se não nos números brutos.

How to prevent plagiarism in universities: practical steps

A prevenção é melhor do que a punição. Isso começa com a elaboração da avaliação:

  1. Troque exames únicos e de alto risco por tarefas iterativas.
  2. Incluir componentes presenciais ou orais.
  3. Exija evidências do processo, tais como rascunhos anotados e declarações reflexivas.
  4. Ensine habilidades de citação e pesquisa desde cedo e com frequência.
  5. Make writing centres and language help visible and accessible.

Use ferramentas de deteção de forma responsável — como auxiliares, não como evidência isolada — e invista na formação do corpo docente para que os instrutores possam ler os relatórios com nuances.

Medidas concretas:

  • Exija submissões em etapas (proposta → rascunho → final) e notas reflexivas curtas explicando as escolhas.
  • Crie avaliações autênticas ligadas ao contexto local ou à experiência dos alunos (mais difíceis de terceirizar).
  • Offer mandatory workshops on academic integrity and citation for first-year students.
  • Combine os sinais do software com a revisão humana e entrevistas antes de iniciar procedimentos disciplinares.
  • Apoie os alunos sob pressão — ajuda financeira, aconselhamento e orientação sobre gestão do tempo reduzem a tentação de copiar.

Em uma palavra

O plágio nas universidades não é um pânico moral; é um apelo para reconstruirmos a forma como avaliamos e ensinamos.

As ferramentas de deteção têm um papel importante, mas não podem substituir uma pedagogia que valoriza a aprendizagem acima da artefato de uma nota. As instituições que agirem rapidamente para redesenhar as avaliações, ensinar competências de investigação e tratar com cuidado as suspeitas de má conduta protegerão tanto os seus padrões como o futuro dos seus alunos.

A alternativa é uma lenta erosão: diplomas que perdem o significado e salas de aula que recompensam as coisas erradas. A escolha, para as universidades e para a sociedade, ainda é nossa.

Parimatch Cassino online
Redacao
Redacaohttps://www.diariocarioca.com
Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Relacionadas

Fies: publicado edital para oferta de vagas remanescentes

Mantenedoras de instituições privadas de ensino superior têm de 1º a 8 de outubro para preencher as informações necessárias à participação

UFRJ abre Semana de Integração Acadêmica com apresentação de pesquisa sobre tratamento para lesão muscular

De 22 a 26 de setembro, maior evento acadêmico da UFRJ divulga cerca de 6 mil pesquisas e ações desenvolvidas pela universidade. Público receberá certificado por participação em palestras, oficinas e outras atividades

Coalizão: cúpula destaca metas globais para alimentação escolar

Documento da Coalizão Global para a Alimentação Escolar identifica avanços e acordos futuros, priorizando a alimentação escolar na governança pública. Meta é alcançar mais de 150 milhões de crianças até 2030

MEC lança plataforma para gestão inteligente de energia nas federais

Webinário realizado nesta sexta-feira (19) apresentou a Mepa, tecnologia criada por pesquisadores da UnB para monitorar e otimizar contratos de energia em instituições federais de ensino superior

Lei denomina escolas indígenas, quilombolas e do campo

Nova lei promove a participação dos povos indígenas, do campo e quilombola na nomeação de suas escolas, valorizando culturas, línguas e memórias históricas. Legislação complementa a Constituição Federal e a LDB

Mais Notícias

Assuntos:

Mais Notícias