Rio de Janeiro, 6 de julho de 2025 – Com forte presença diplomática e respaldo geopolítico inédito, a XVII Cúpula do BRICS terminou neste domingo com a Declaração do Rio de Janeiro, documento que consolida o bloco como agente estratégico do Sul Global. O texto de 126 parágrafos defende a construção de uma nova ordem mundial multipolar, democrática e inclusiva, com destaque para reformas profundas nas instituições multilaterais e a defesa explícita da soberania palestina.
Sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, o encontro reafirmou a centralidade da cooperação entre países em desenvolvimento e o repúdio ao hegemonismo ocidental. A ampliação do bloco com a entrada da Indonésia e o reconhecimento formal de 12 novos parceiros — incluindo Cuba, Nigéria e Vietnã — demonstra a força gravitacional crescente do BRICS, especialmente diante da paralisia das instituições surgidas no pós-Guerra Fria.
Reforma do sistema global: ONU, FMI e Banco Mundial sob pressão
A cúpula propôs uma reforma estrutural do Conselho de Segurança da ONU, com assentos permanentes para Brasil, Índia e países africanos, e cobrou redistribuição de poder em instituições como FMI e Banco Mundial, que seguem sob controle desproporcional das potências ocidentais. China e Rússia reiteraram apoio explícito às pretensões brasileiras.
Palestina, Irã e diplomacia brasileira em destaque
A permanência da cláusula de apoio à solução de dois Estados para o conflito Israel-Palestina foi uma vitória da diplomacia brasileira, diante da resistência do Irã, novo membro do bloco, que não reconhece Israel. A declaração também exige o reconhecimento pleno da Palestina pela ONU, retirada das forças israelenses dos territórios ocupados e fim imediato da ofensiva militar em Gaza, além de saudar as ações da África do Sul na Corte Internacional de Justiça.
Governança climática e energética com foco no Sul
O BRICS reforçou apoio à COP30 em Belém e lançou a Declaração-Marco sobre Finanças Climáticas, exigindo acesso justo ao financiamento verde e criticando barreiras ambientais unilaterais como o CBAM europeu. Defendeu também soberania energética e valorização dos minerais críticos nos países produtores.
Ciência, IA e justiça tributária
Foi aprovado o Plano de Ação 2025–2030 com foco em inteligência artificial soberana, governança digital e cooperação tecnológica. O grupo também apoiou a criação de uma convenção da ONU sobre Tributação Internacional, condenando paraísos fiscais e evasão tributária.
BRICS espacial, cibernético e social
Entre as novas iniciativas, destacam-se o Conselho Espacial do BRICS, memorandos de cibersegurança e a Parceria para Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas. O documento defende o fortalecimento da OMS, combate à misoginia digital, ampliação da Universidade em Rede do BRICS e devolução de bens culturais saqueados durante a era colonial.
Conclusão: o BRICS como força de equilíbrio global
A Declaração reafirma os princípios fundadores do bloco — soberania, inclusão e solidariedade — e posiciona o BRICS como alternativa viável à arquitetura internacional vigente. Para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o documento é prova de que “a reforma da governança global é urgente e possível”.
A próxima cúpula ocorrerá na Índia, em 2026.
O Diário Carioca Esclarece
O que é o BRICS?
Grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Desde 2023, passou a incluir países como Egito, Irã e Arábia Saudita.
O que é CBAM?
Mecanismo europeu de ajuste de carbono na fronteira. É criticado por funcionar como barreira comercial disfarçada.
O que significa ‘solução de dois Estados’?
Proposta de criação de um Estado palestino soberano, coexistindo pacificamente com Israel, com base nas fronteiras anteriores a 1967.
FAQ
Qual foi a principal novidade da Declaração do Rio de Janeiro?
A defesa de uma nova ordem mundial multipolar, com reforma urgente da ONU e apoio explícito à soberania palestina.
Como o Irã reagiu à cláusula sobre Israel e Palestina?
Aceitou o posicionamento histórico do BRICS, o que consolidou o compromisso do bloco com a solução de dois Estados.
Por que o Brasil é estratégico dentro do BRICS?
Pela capacidade diplomática de mediar posições divergentes, além de representar a América Latina em debates centrais da governança global.