Declaração do BRICS propõe reforma da ONU, cobra soberania palestina e fortalece o bloco como motor do Sul Global

Boco lança desafio global por nova governança

JR Vital
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, posa para Fotografia de família dos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros do BRICS (Foto: Ricardo Stuckert)

Rio de Janeiro, 6 de julho de 2025 – Com forte presença diplomática e respaldo geopolítico inédito, a XVII Cúpula do BRICS terminou neste domingo com a Declaração do Rio de Janeiro, documento que consolida o bloco como agente estratégico do Sul Global. O texto de 126 parágrafos defende a construção de uma nova ordem mundial multipolar, democrática e inclusiva, com destaque para reformas profundas nas instituições multilaterais e a defesa explícita da soberania palestina.

Sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, o encontro reafirmou a centralidade da cooperação entre países em desenvolvimento e o repúdio ao hegemonismo ocidental. A ampliação do bloco com a entrada da Indonésia e o reconhecimento formal de 12 novos parceiros — incluindo Cuba, Nigéria e Vietnã — demonstra a força gravitacional crescente do BRICS, especialmente diante da paralisia das instituições surgidas no pós-Guerra Fria.


Reforma do sistema global: ONU, FMI e Banco Mundial sob pressão

A cúpula propôs uma reforma estrutural do Conselho de Segurança da ONU, com assentos permanentes para Brasil, Índia e países africanos, e cobrou redistribuição de poder em instituições como FMI e Banco Mundial, que seguem sob controle desproporcional das potências ocidentais. China e Rússia reiteraram apoio explícito às pretensões brasileiras.


Palestina, Irã e diplomacia brasileira em destaque

A permanência da cláusula de apoio à solução de dois Estados para o conflito Israel-Palestina foi uma vitória da diplomacia brasileira, diante da resistência do Irã, novo membro do bloco, que não reconhece Israel. A declaração também exige o reconhecimento pleno da Palestina pela ONU, retirada das forças israelenses dos territórios ocupados e fim imediato da ofensiva militar em Gaza, além de saudar as ações da África do Sul na Corte Internacional de Justiça.


Governança climática e energética com foco no Sul

O BRICS reforçou apoio à COP30 em Belém e lançou a Declaração-Marco sobre Finanças Climáticas, exigindo acesso justo ao financiamento verde e criticando barreiras ambientais unilaterais como o CBAM europeu. Defendeu também soberania energética e valorização dos minerais críticos nos países produtores.


Ciência, IA e justiça tributária

Foi aprovado o Plano de Ação 2025–2030 com foco em inteligência artificial soberana, governança digital e cooperação tecnológica. O grupo também apoiou a criação de uma convenção da ONU sobre Tributação Internacional, condenando paraísos fiscais e evasão tributária.


BRICS espacial, cibernético e social

Entre as novas iniciativas, destacam-se o Conselho Espacial do BRICS, memorandos de cibersegurança e a Parceria para Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas. O documento defende o fortalecimento da OMS, combate à misoginia digital, ampliação da Universidade em Rede do BRICS e devolução de bens culturais saqueados durante a era colonial.


Conclusão: o BRICS como força de equilíbrio global

A Declaração reafirma os princípios fundadores do bloco — soberania, inclusão e solidariedade — e posiciona o BRICS como alternativa viável à arquitetura internacional vigente. Para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o documento é prova de que “a reforma da governança global é urgente e possível”.

A próxima cúpula ocorrerá na Índia, em 2026.


O Diário Carioca Esclarece

O que é o BRICS?
Grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Desde 2023, passou a incluir países como Egito, Irã e Arábia Saudita.

O que é CBAM?
Mecanismo europeu de ajuste de carbono na fronteira. É criticado por funcionar como barreira comercial disfarçada.

O que significa ‘solução de dois Estados’?
Proposta de criação de um Estado palestino soberano, coexistindo pacificamente com Israel, com base nas fronteiras anteriores a 1967.


FAQ

Qual foi a principal novidade da Declaração do Rio de Janeiro?
A defesa de uma nova ordem mundial multipolar, com reforma urgente da ONU e apoio explícito à soberania palestina.

Como o Irã reagiu à cláusula sobre Israel e Palestina?
Aceitou o posicionamento histórico do BRICS, o que consolidou o compromisso do bloco com a solução de dois Estados.

Por que o Brasil é estratégico dentro do BRICS?
Pela capacidade diplomática de mediar posições divergentes, além de representar a América Latina em debates centrais da governança global.


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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.