Forças especiais dos Estados Unidos tomaram de assalto um navio de origem chinesa com destino ao Irã no Oceano Índico e apreenderam uma carga contendo “artigos relacionados a assuntos militares”, informou o Wall Street Journal, citando autoridades norte-americanas.
Segundo os relatos, a abordagem ocorreu a várias centenas de quilômetros da costa do Sri Lanka. Após a apreensão e a destruição da carga, a embarcação foi autorizada a continuar o percurso. De acordo com fontes ouvidas pelo jornal, os EUA já monitoravam a remessa antes da operação.
A ação integra iniciativas do governo do presidente Donald Trump para interromper esforços de Teerã de reconstruir seu programa de mísseis, bem como aquisições sigilosas feitas junto a Pequim, após a guerra de 12 dias.
Autoridades disseram que esta foi a primeira interceptação, nos últimos anos, de um carregamento com origem na China e destino ao Irã.
Carga de uso duplo e presença militar ampliada
Uma autoridade informou que o material apreendido incluía peças de “uso duplo”, passíveis de aplicação na produção de armas convencionais. Outra fonte afirmou que a remessa seria entregue a empresas especializadas no fornecimento de componentes para o programa de mísseis iraniano.
Além das forças de operações especiais, militares convencionais dos Estados Unidos também participaram da operação de assalto e apreensão.
Apreensões paralelas e histórico recente
Na quarta-feira, os EUA anunciaram ainda a apreensão de um petroleiro previamente sancionado, utilizado para transportar petróleo da Venezuela e do Irã. Os episódios sinalizam a disposição da administração Trump de adotar táticas marítimas mais agressivas, raramente empregadas anteriormente.
Nos últimos anos, os Estados Unidos apreenderam diversos carregamentos de armas e petróleo iranianos. Em janeiro de 2024, o Comando Central dos EUA (CENTCOM) informou ter interceptado, ao largo da Somália, uma carga com peças de mísseis balísticos e de cruzeiro fabricadas pelo Irã, destinadas a militantes houthis no Iêmen.
Em 2020 e 2023, após apreensões de petróleo iraniano, autoridades norte-americanas afirmaram que os recursos da venda deveriam ir para a Guarda Revolucionária do Irã (IRGC).
Monitoramento de exportações e sanções
Washington tem intensificado, nos últimos meses, o monitoramento de pré-vendas de produtos chineses suspeitos de uso no programa de mísseis iraniano. Em novembro, dois parlamentares democratas pediram investigação sobre um grande carregamento de produtos químicos enviado da China ao Irã, em carta ao então secretário de Estado Marco Rubio e ao diretor da CIA, John Ratcliffe, por possível uso na produção de combustível para foguetes.
O Wall Street Journal já havia noticiado que dois navios iranianos transportavam várias toneladas de perclorato de sódio, material necessário para combustível sólido de mísseis balísticos, com origem chinesa.
Em abril, o Departamento do Tesouro dos EUA sancionou entidades iranianas e chinesas por facilitar a transferência de produtos químicos usados na produção de combustível de mísseis balísticos para o IRGC.
China e Irã
A China mantém há anos uma aliança diplomática e econômica com o Irã, considera ilegais as sanções norte-americanas e importa petróleo iraniano. Não está claro se o governo chinês tem conhecimento de remessas ligadas aos programas de mísseis de Teerã, que costumam ser transportadas por navios controlados pelo Irã.
Para Behnam Ben-Taleblou, diretor do programa sobre o Irã da Fundação para a Defesa das Democracias, a China atua como facilitadora ao adotar postura branda sobre exportações de tecnologias não autorizadas. Segundo ele, empresas chinesas fornecem tecnologias de dupla aplicação que aumentam a precisão dos mísseis iranianos, o que considera mais perigoso do que precursores químicos.

