Na Vibe da Fé

Conheça as Freiras Maconheiras: espiritualidade, cannabis e resistência

As Sisters of the Valley unem fé, ativismo e medicina natural há uma década na Califórnia, desafiando o mercado e os dogmas religiosos

JR Vital
por
JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
As Sisters of the Valley, conhecidas como “freiras da cannabis”, misturam fé, ativismo e medicina natural na Califórnia, desafiando o mercado e os dogmas religiosos.

As Sisters of the Valley, conhecidas mundialmente como as “freiras da cannabis”, formam uma comunidade espiritual que há dez anos mistura fé, ativismo e medicina natural no Vale de San Joaquin, na Califórnia (EUA).

O grupo acredita que a cura espiritual e física nasce da conexão direta com as plantas — e se tornou símbolo de resistência em meio à crise do mercado legal de maconha nos Estados Unidos.


Da consultoria à fé nas plantas

A fundadora, Christine Meeusen, conhecida como Sister Kate, nasceu em Wisconsin, cresceu em uma família católica e trabalhou como consultora na Holanda antes de fundar a comunidade.

Inspirada nas beguinas — mulheres que viviam em comunidades semi-monásticas na Idade Média —, Sister Kate decidiu unir espiritualidade, sustentabilidade e autocuidado.

Hoje, a fazenda é administrada por cerca de dez mulheres, que produzem óleos, pomadas e extratos à base de CBD, a substância terapêutica não psicoativa da cannabis.


Fé fora da Igreja e devoção à terra

Apesar do nome e do hábito similar ao de freiras católicas, as Sisters of the Valley não têm ligação com a Igreja Católica.

Suas crenças se baseiam no respeito à natureza, na simplicidade de vida e na cura por meio das plantas. As integrantes seguem os ciclos lunares e realizam rituais silenciosos durante o cultivo, acreditando que o equilíbrio espiritual da terra se reflete na potência dos medicamentos.

“Trabalhamos em silêncio e com devoção, porque tudo é feito com respeito espiritual”, afirma Sister Kate.


Crise e reinvenção no mercado da cannabis

O grupo chegou a faturar cerca de US$ 1,2 milhão antes da pandemia, mas viu a renda cair para US$ 350 mil em 2024, com a desvalorização do mercado de cannabis medicinal na Califórnia.

Para sobreviver, as freiras decidiram diversificar a produção, ampliando a oferta e firmando parcerias com dispensários locais — incluindo agora produtos com maior teor de THC, componente psicoativo da planta.


Da fazenda para o cinema

A fama internacional veio quando o grupo inspirou o filme “Uma Batalha Após a Outra”, dirigido por Paul Thomas Anderson e estrelado por Leonardo DiCaprio e Sean Penn.

No longa, um grupo de mulheres isoladas nas colinas da Califórnia cultiva maconha e acolhe fugitivos — uma clara referência às Sisters of the Valley.

Quatro integrantes participaram das filmagens, realizadas em uma antiga missão espanhola.


Espiritualidade e resistência

Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, Sister Kate afirma que o propósito do grupo permanece inabalável:

“O que fazemos é sobre cura, fé e propósito”, diz. “Continuaremos firmes, porque acreditamos que a espiritualidade e a medicina natural podem caminhar juntas.”


Seguir:
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.