O conservador José Antonio Kast foi eleito presidente do Chile neste domingo (14 de dezembro de 2025). Com 83,43% das urnas apuradas, ele alcançou 59,8% dos votos, contra 40,2% de Jeannette Jara, do Partido Comunista. A vantagem de quase 20 pontos percentuais levou as autoridades eleitorais a considerarem o resultado irreversível ainda durante a apuração.
Com a vitória, a direita volta a ocupar o Palácio de La Moneda após quatro anos de governo liderado por Gabriel Boric.
Derrota reconhecida e discurso de unidade
Ainda no domingo, Jeannette Jara reconheceu a derrota e entrou em contato com o presidente eleito. “A democracia falou com força e clareza”, afirmou, desejando sucesso ao novo governo “pelo bem do Chile”.
Após votar na comuna de Paine, a cerca de 40 quilômetros de Santiago, Kast declarou que pretende governar para todos. “Quem vencer terá que ser presidente de todos os chilenos”, disse.
Perfil do presidente eleito
Advogado, católico, pai de nove filhos e com 59 anos, Kast disputou a Presidência pela terceira vez. Fundador do Partido Republicano, criado há cinco anos, ele construiu sua trajetória se afastando da direita tradicional, considerada por ele excessivamente moderada.
Nesta eleição, reduziu a centralidade das pautas de costumes, ampliou a presença feminina na campanha e buscou suavizar a imagem que marcou disputas anteriores.
Segurança e imigração como bandeiras
Entre as principais promessas do presidente eleito estão políticas mais rígidas de combate ao crime e a deportação de cerca de 340 mil imigrantes em situação irregular, em sua maioria venezuelanos. Kast não detalhou como pretende executar as medidas, que exigem altos custos e acordos internacionais.
O novo governo deve contar com um Congresso favorável, com o Partido Republicano ampliando sua presença na Câmara e no Senado e articulando apoio de outras siglas de direita.
Campanha baseada no medo
Durante a campanha, Kast afirmou que “o país está caindo aos pedaços” e explorou a percepção de insegurança. Pesquisa do Ipsos, divulgada em outubro, indicou que 63% dos chilenos consideram crime e violência suas maiores preocupações, à frente do crescimento econômico.
Especialistas apontam que a sensação de insegurança supera os dados reais, embora crimes violentos tenham aumentado na última década.
Pinochet, passado incômodo
Kast já declarou apoio ao regime militar e afirmou que votaria em Augusto Pinochet se ele estivesse vivo. Em 1988, apoiou a continuidade do ditador no plebiscito que acabou derrotando o regime. Na campanha mais recente, evitou aprofundar o tema e reduziu menções à oposição absoluta ao aborto.
Para o cientista político Robert Funk, da Universidade do Chile, a vitória não representa um cheque em branco. Muitos eleitores, avalia, votaram em Kast “apesar de seu apoio a Pinochet, não por causa dele”.
Virada histórica
Pela primeira vez desde o fim da ditadura, o Chile elege um presidente identificado com a extrema-direita. O resultado reflete o desgaste do governo Boric, a desaceleração econômica e o impacto do voto obrigatório, adotado pela primeira vez, com multa para a abstenção.

