O presidente da França, Emmanuel Macron, reafirmou nesta quinta-feira (18 de dezembro de 2025), em Bruxelas, que seu país não dará apoio ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul sem garantias adicionais aos agricultores franceses. A declaração foi feita antes do início da reunião de cúpula do bloco e aumentou a tensão em torno de um tratado negociado há mais de duas décadas.
“Quero dizer aos nossos agricultores, que manifestam claramente a posição francesa desde o início: consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, declarou Macron, reiterando a linha dura adotada por Paris desde o avanço das negociações.
Resistência francesa e aliados estratégicos
Na véspera, o presidente francês já havia sinalizado oposição a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do acordo, mesmo após as alterações aprovadas pelo Parlamento Europeu na terça-feira (16 de dezembro). As mudanças incluíram salvaguardas agrícolas pensadas justamente para atender a países críticos ao texto.
Ainda assim, a França mantém posição contrária e conta com o apoio de Itália, Polônia e Hungria. Com a adesão formal da Itália, anunciada na quarta-feira, o grupo passou a reunir as condições para formar a chamada minoria de bloqueio no Conselho Europeu: ao menos quatro dos 27 países-membros que representem, juntos, 35% da população da União Europeia.
Na prática, isso permite vetar o acordo mesmo diante de uma maioria favorável à sua aprovação.
Risco de novo adiamento
O endurecimento francês abre caminho para o adiamento da assinatura do documento, negociado desde 1999 e que só recentemente alcançou um entendimento político entre os blocos. O impasse atual vai além de um simples atraso e pode empurrar o acordo de volta à estagnação.
A divisão dentro da União Europeia é vista como essencialmente política e sem perspectiva de solução no curto prazo. Soma-se a isso o fato de que a iminente presidência paraguaia do Mercosul não demonstra disposição para priorizar o tema.
Pressão do Brasil e aviso de Lula
Do lado sul-americano, a reação foi imediata. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou na quarta-feira que, se a assinatura prevista para sábado (20 de dezembro) for adiada, o acordo não será mais aceito durante o restante de seu mandato, que termina em 31 de dezembro de 2026.
“Eu agora estou sabendo que eles não vão conseguir aprovar [no Conselho Europeu]. Está difícil, porque a Itália e a França não querem fazer por problemas políticos internos”, disse Lula.
“E eu já avisei para eles: se a gente não fizer agora, o Brasil não fará mais acordo enquanto eu for presidente. Faz 26 anos que a gente espera esse acordo. 26 anos”, completou.
Alerta vindo do Parlamento Europeu
O desgaste também foi reconhecido por lideranças europeias favoráveis ao tratado. No início da semana, o chefe do comitê de comércio do Parlamento Europeu, Bernd Lange, alertou para o risco de perda definitiva da oportunidade de acordo.
“Os países do Mercosul estão ficando sem paciência. Se não for possível assinar agora, a janela de oportunidade se fechará e eles procurarão países que não nos agradam”, afirmou.
A declaração reflete o temor de que o fracasso do acordo empurre os países sul-americanos para parcerias alternativas, reduzindo a influência europeia na região.
Um acordo sob ameaça real
Com a consolidação da minoria de bloqueio e a escalada de declarações públicas, o acordo UE-Mercosul vive um de seus momentos mais críticos desde 1999. O que parecia um desfecho histórico volta a correr o risco de ser adiado ou enterrado em meio a disputas políticas internas e à crescente impaciência do lado sul-americano.
