A jornalista Karen Hao, formada em engenharia mecânica pelo MIT, lançou a nova edição de seu livro The IA Empire [O Império da IA], fruto de mais de 200 entrevistas e documentos internos, traçando um panorama crítico do poder concentrado na indústria de inteligência artificial.
OpenAI e o mito do império benevolente
Ao visitar os escritórios da OpenAI em 2019, Hao percebeu fissuras no discurso idealista de Sam Altman, que prometia uma IA capaz de raciocinar como a mente humana para salvar o mundo. Publicar reportagens críticas custou-lhe acesso à empresa, mas reforçou seu compromisso: “No começo me senti muito mal (…) mas o importante não é manter o acesso, e sim dizer a verdade”.
Hao compara o setor de IA a antigos impérios, acumulando poder econômico e político. Identifica quatro dimensões dessa dominação:
- Apropriação de dados da internet para treinar modelos.
- Exploração de trabalhadores e automatização que corroem direitos laborais.
- Monopolização do conhecimento, controle de pesquisas e censura crítica.
- Uso de discurso moralista para justificar a expansão.

Corrida tecnológica e narrativa de sobrevivência
Segundo Hao, empresas como OpenAI promovem a ideia de uma corrida civilizatória contra a China. Políticos, muitas vezes, aceitam acríticamente que a IA equivale a progresso, ignorando que impérios tecnológicos exigem zonas de sacrifício, prejudicando populações e o planeta.
Impactos ambientais e sociais
O crescimento de data centers aumenta drasticamente a demanda energética, ameaçando metas climáticas e agravando crises de água e poluição. A terceirização de tarefas críticas no Sul Global, como moderação de conteúdo no Quênia, expõe trabalhadores a sofrimento extremo, evidenciando exploração invisível ao usuário médio.
O código aberto como alternativa
Hao aponta que modelos de código aberto oferecem meios de contestar monopólios, mantendo dados locais e permitindo que pesquisadores independentes produzam conhecimento público sobre limitações, capacidades e regulamentação da IA. Essa estratégia reduz o poder concentrado e fortalece a resistência social.
Com informações de Outras Palavras

