16 de junho de 2025 — Ottawa, Canadá — Em meio a olhares desconfiados da comunidade internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se prepara para uma reunião tensa com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante a cúpula do G7, que ocorre nesta terça-feira (17) no Canadá. O encontro, que ainda não foi oficialmente confirmado, promete ser um dos momentos mais sensíveis da agenda diplomática brasileira.
Fontes do Palácio do Planalto, ouvidas pelo g1, confirmaram que Lula também terá um encontro bilateral com o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anfitrião da cúpula. Embora nem o Brasil nem a Ucrânia façam parte do seleto grupo das sete maiores economias do mundo (Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão), ambos foram convidados para a chamada “sessão ampliada”, que busca envolver nações estratégicas em discussões globais.
Reencontro cercado de desconfiança
O possível reencontro entre Lula e Zelensky ocorre após anos de atritos públicos. As farpas começaram logo no início da guerra, quando Lula sugeriu que, se o presidente ucraniano fosse “esperto”, buscaria uma saída diplomática em vez de insistir na via militar. A declaração foi suficiente para que Zelensky reagisse com dureza, chegando a dizer que Lula não era mais um “player relevante” nas discussões de paz e acusando o governo brasileiro de ter uma postura demasiadamente simpática à Rússia.
Apesar do tom duro, o governo brasileiro mantém sua defesa de uma solução negociada, apostando no diálogo como única saída viável para encerrar um conflito que já ultrapassa três anos, custou centenas de milhares de vidas e devastou grande parte do território ucraniano.
Brasil e China tentam, mas ninguém escuta
Nos bastidores, tanto Brasil quanto China tentaram — e seguem tentando — se posicionar como mediadores do conflito. No entanto, a proposta enfrenta resistência tanto de Kiev, que vê qualquer diálogo sem a retirada das tropas russas como inaceitável, quanto de Moscou, que mantém exigências consideradas inegociáveis pelos ucranianos.
O último encontro presencial entre Lula e Zelensky foi em Nova York, em 2023, às margens da Assembleia Geral da ONU. De lá para cá, as conversas se restringiram a telefonemas esporádicos — insuficientes para reduzir a tensão. Lula ainda não aceitou o convite para visitar Kiev, mas esteve recentemente em Moscou, onde se reuniu com Vladimir Putin, o que aumentou a irritação do governo ucraniano e de aliados do Ocidente.
Mark Carney entra em cena
O encontro com o primeiro-ministro Mark Carney deve servir para aparar arestas não apenas sobre a guerra na Ucrânia, mas também sobre questões comerciais e ambientais, temas nos quais o Canadá tem pressionado o Brasil, especialmente no que diz respeito às políticas ambientais na Amazônia.
Fontes diplomáticas revelaram ao Diário Carioca que o governo canadense pretende cobrar maior alinhamento do Brasil às posições do G7 sobre democracia, meio ambiente e segurança global.
O G7 observa, o Brasil se equilibra
Para o Diário Carioca, especialistas ouvidos afirmam que o Brasil se vê diante de um jogo duplo: de um lado, tenta se afirmar como potência diplomática neutra, capaz de dialogar tanto com o Ocidente quanto com países como Rússia e China. De outro, precisa evitar o isolamento nas grandes mesas de decisão internacional, onde a pressão para escolher um lado se torna cada vez mais evidente.
A expectativa é que, se confirmado, o encontro entre Lula e Zelensky não gere acordos práticos imediatos, mas sirva como termômetro sobre até que ponto a diplomacia brasileira conseguirá manter sua postura de neutralidade — ou se, mais cedo ou mais tarde, terá de rever essa estratégia.
O Carioca Esclarece
O primeiro-ministro do Canadá é Mark Carney, ex-banqueiro central, que assumiu o cargo após a saída de Justin Trudeau, em 2024.
FAQ
Por que Lula e Zelensky vão se encontrar no G7 se seus países não fazem parte do grupo?
Ambos foram convidados para a “sessão ampliada”, que inclui países com relevância regional ou global, mesmo não sendo membros permanentes do G7.
Qual é a posição do Brasil na guerra da Ucrânia?
O Brasil defende uma solução diplomática, sem apoiar diretamente nenhum dos lados, mas é criticado por se aproximar mais da Rússia do que dos aliados ocidentais.
Lula já visitou Kiev?
Não. Apesar dos convites, Lula nunca esteve na capital ucraniana. Recentemente, porém, fez uma visita oficial a Moscou, o que gerou críticas da Ucrânia e de países do Ocidente.

