O discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Parlamento israelense, em Jerusalém, foi interrompido nesta segunda-feira (13) por dois deputados que exigiram o reconhecimento do Estado da Palestina. Ofer Cassif e Ayman Odeh, ambos da Knesset, foram retirados à força por seguranças após exibirem cartazes com as frases “Genocida” e “Reconheçam a Palestina”, em protesto contra a política de ocupação israelense.
Protesto dentro do Parlamento israelense
A interrupção ocorreu enquanto Trump celebrava o que chamou de “um novo amanhecer histórico para o Oriente Médio”, durante a cerimônia que marcou o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. No momento em que ergueu o cartaz, Ayman Odeh, líder da Lista Árabe Unida, foi vaiado por parlamentares governistas e retirado sob gritos de “traidor”.
Em seguida, em publicação na rede X (antigo Twitter), Odeh afirmou:
“Fui expulso apenas por levantar o pedido mais simples, um pedido com o qual toda a comunidade internacional concorda: reconhecer o Estado palestino. Reconhecer uma realidade simples — há dois povos aqui, e nenhum deles vai desaparecer.”
Ofer Cassif, também expulso, escreveu:
“Não viemos para perturbar, mas para exigir justiça. A verdadeira paz — que salvará os dois povos desta terra — só virá com o fim da ocupação e do apartheid e com a criação de um Estado palestino ao lado de Israel.”
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As imagens do protesto rapidamente se espalharam pelas redes, gerando repercussão internacional e críticas à repressão da dissidência dentro da Knesset.
Cessar-fogo e prêmio controverso a Trump
O discurso de Donald Trump ocorreu horas após o anúncio oficial do acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, que prevê a libertação de reféns e prisioneiros entre Israel e Hamas. O evento marcou também a entrega do Prêmio Israel, a mais alta honraria cultural do país, concedido a Trump pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em reconhecimento por seu “apoio histórico a Israel”.
Antes do pronunciamento, Netanyahu exaltou as decisões do republicano de:
- Reconhecer Jerusalém como capital de Israel;
- Transferir a embaixada americana;
- Apoiar a anexação das Colinas de Golã;
- Retirar os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã.
Durante o discurso, Trump elogiou Netanyahu, dizendo:
“Ele não é o homem mais fácil de lidar, mas é isso que o torna grande.”
Em tom triunfalista, declarou que o Oriente Médio vive “o início de uma era dourada para Israel”, e pediu que os países árabes que ainda não assinaram os Acordos de Abraão “façam um favor e se juntem a nós”.
Reações internacionais e críticas
Diplomatas árabes classificaram o episódio como “retratação simbólica da exclusão palestina” das negociações mediadas por Trump. O Ministério das Relações Exteriores da Jordânia afirmou que a cena “revela o fracasso de qualquer tentativa de paz que ignore o direito palestino à autodeterminação”.
Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, também criticaram o governo israelense por reprimir vozes críticas dentro do Parlamento e por “promover um discurso triunfalista em meio à catástrofe humanitária em Gaza”.
Em contraste, aliados de Trump e de Netanyahu celebraram a cerimônia como “vitória do Ocidente contra o terror”, ecoando o discurso militarizado que há décadas sustenta a política de ocupação na região.
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O significado político do protesto
O ato de Cassif e Odeh rompeu o silêncio imposto dentro da Knesset e simbolizou a resistência à narrativa oficial israelense — especialmente em um momento em que o governo tenta reescrever os marcos da ocupação. Ambos os parlamentares representam uma minoria que luta por reconhecimento da Palestina dentro de um Parlamento majoritariamente de direita.
A reação violenta à manifestação expôs a fragilidade do discurso de paz apresentado por Trump, que tenta se reposicionar como mediador global. Analistas ouvidos pela imprensa israelense afirmam que o gesto dos deputados, embora breve, “reacendeu o debate moral sobre o apartheid e o direito palestino à soberania”.
Entre a diplomacia e o confronto
Enquanto Trump celebrava conquistas militares e alianças diplomáticas, a realidade no território palestino segue marcada pela destruição e pelo luto. O cessar-fogo anunciado ainda não impediu novos confrontos isolados na Cisjordânia Ocupada, onde a presença militar israelense permanece intensa.
O episódio no Parlamento mostra que a paz defendida pelos poderosos ainda é uma paz seletiva — aquela que cala os povos oprimidos. Para os palestinos, a liberdade continua sendo uma promessa distante.



