Boa Vista (RR), 26.jul.2025 — O governo da Venezuela impôs tarifas de até 77% sobre exportações brasileiras, contrariando acordos bilaterais e surpreendendo autoridades e empresários.
Medida unilateral afeta produtos essenciais
Sem apresentar justificativa oficial, o governo de Nicolás Maduro decidiu restabelecer tarifas sobre exportações brasileiras mesmo para itens certificados conforme o acordo comercial de 2014, que previa isenção gradual. Alimentos básicos como arroz, milho e açúcar foram os primeiros atingidos.
A decisão pegou de surpresa o setor produtivo. Apenas em 2024, o Brasil exportou aproximadamente US$ 1,2 bilhão para a Venezuela — mantendo superávit comercial de US$ 778 milhões. O impacto imediato se concentra em Roraima, mas empresários locais indicam que outros países do Mercosul também foram afetados.
Eduardo Oestreicher, presidente da Câmara Venezuelana-Brasileira de Comércio de Roraima, classificou a medida como abrupta e fora do cronograma previsto. “Fomos surpreendidos com a cobrança total do imposto ad valorem. Ainda não sabemos se é decisão técnica, política ou erro administrativo”, afirmou.
Tensão acumulada e cenário diplomático hostil
A medida tarifária se soma a uma sequência de rupturas diplomáticas. Desde julho de 2024, o Brasil não reconhece a reeleição de Maduro. A negativa de chancela partiu do Itamaraty após denúncias de fraude e ausência de comprovação documental por parte do governo venezuelano.
Além disso, a exclusão da Venezuela do bloco Brics, articulada diretamente pelo governo brasileiro durante a cúpula de Moscou, acirrou o desgaste. Maduro tentou viabilizar a entrada do país no grupo, mas encontrou resistência de Lula, que optou por priorizar a estabilidade geopolítica dos membros fundadores.
A Venezuela também permanece suspensa do Mercosul desde 2016 por desrespeito à cláusula democrática, e o avanço autoritário do regime bolivariano só reforça o isolamento regional.
Itamaraty age com cautela e evita confronto aberto
Em nota oficial divulgada nesta sexta-feira (25), o Ministério das Relações Exteriores afirmou estar acompanhando a situação em articulação com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A embaixada brasileira em Caracas tenta obter esclarecimentos diretos das autoridades venezuelanas.
O governo Lula, até aqui, evita qualquer crítica pública direta a Maduro. A aposta continua sendo a diplomacia silenciosa, mesmo diante da repressão sistemática à oposição venezuelana e da hostilidade explícita ao Brasil.
Perguntas Frequentes
Por que a Venezuela impôs tarifas sobre produtos brasileiros?
Até o momento, o governo venezuelano não apresentou justificativa oficial. A medida rompe com acordos firmados e afeta diretamente o comércio bilateral.
Quais produtos brasileiros foram atingidos pelas tarifas?
Principalmente alimentos como arroz, milho e açúcar, que deveriam estar isentos conforme o acordo de 2014.
Qual o impacto para o Brasil?
A medida compromete um superávit comercial de quase US$ 800 milhões e afeta produtores, especialmente no estado de Roraima.
A medida atinge outros países além do Brasil?
Sim. Relatos apontam que Argentina, Paraguai e Uruguai também foram impactados, sinalizando uma mudança unilateral da política tarifária venezuelana.
Como o governo brasileiro está reagindo?
O Itamaraty e o MDIC afirmam estar investigando a situação e buscando esclarecimentos com autoridades da Venezuela.

