Brasília, 18 de junho de 2025 – O relatório final da Polícia Federal sobre o funcionamento da Abin Paralela revelou mais um episódio escandaloso: a utilização da agência de inteligência do Estado para monitorar Jorge Salgado, então candidato à presidência do Vasco da Gama, durante as eleições internas do clube em 2020.
As investigações apontam que agentes ligados à Abin, sob influência do núcleo bolsonarista, foram acionados para “caçar podres” contra Salgado, com o objetivo de obter informações que pudessem prejudicar sua campanha. O episódio ficou registrado em trocas de mensagens interceptadas pela Polícia Federal.
Dossiê ilegal nas eleições do Vasco
O relatório expõe que, às vésperas da eleição vascaína, um interlocutor não identificado enviou informações sobre a candidatura de Jorge Salgado a Giancarlo Gomes Rodrigues, militar cedido à Abin na época. A ordem foi direta e escandalosa: “caçar podre desse maluco aí”.
Apesar do esforço ilegal, após cerca de dez horas de busca, Giancarlo informou que não encontrou dados comprometedores relevantes. Mesmo assim, a ação de espionagem demonstra o grau de aparelhamento da estrutura estatal para interesses pessoais e políticos, inclusive em disputas privadas como a eleição de um clube de futebol.
Estado policial a serviço de interesses privados
O monitoramento clandestino contra Jorge Salgado não foi um caso isolado, segundo a Polícia Federal. O mesmo modus operandi foi utilizado em diversas frentes, visando políticos, autoridades do Judiciário, jornalistas, movimentos sociais e, agora se sabe, até dirigentes esportivos.
A espionagem ilegal integra o conjunto de crimes investigados no escândalo da Abin Paralela, que já resultou em 36 indiciamentos, incluindo o do próprio Giancarlo Gomes Rodrigues, diretamente envolvido nesta operação.
Intervenção bolsonarista até no futebol
O episódio envolvendo o Vasco da Gama revela o nível de penetração da rede de espionagem montada no governo Bolsonaro. A tentativa de interferir na eleição de uma entidade privada, utilizando recursos públicos e estruturas de inteligência, escancara o desvirtuamento completo das instituições.
Jorge Salgado, alvo da operação, foi eleito presidente do Vasco nove dias após o episódio e cumpriu mandato de três anos, encerrado em janeiro de 2024.
O uso de técnicas clandestinas de consulta e levantamento de dados, segundo o relatório, viola princípios constitucionais, fere a legislação vigente sobre a atuação de órgãos de inteligência e abre precedentes perigosos sobre os limites da atuação do Estado.
Abin Paralela: o mapa da perseguição
O escândalo da Abin Paralela não se resume à perseguição de figuras públicas no cenário político nacional. A revelação de que até eleições internas de um clube de futebol foram alvos desse aparato criminoso reforça a gravidade da crise institucional provocada durante o governo Bolsonaro.
Para a Polícia Federal, os elementos reunidos demonstram que a criação de dossiês ilegais, a quebra de sigilos e o monitoramento clandestino foram práticas sistemáticas, articuladas por agentes públicos que se colocaram a serviço de interesses privados, políticos e ideológicos.
O Diário Carioca reforça que o inquérito segue em andamento e pode gerar novos desdobramentos, inclusive com responsabilização penal de militares, ex-integrantes do governo e civis envolvidos nas operações.
O Carioca Esclarece
A utilização da Abin para espionagem de eleições internas de um clube viola diretamente a legislação que rege os serviços de inteligência no Brasil, além de configurar crime de abuso de autoridade e improbidade administrativa.