Derrota do Agro

Alcolumbre adia sessão que votaria vetos de Lula ao projeto ambiental

Governo tenta evitar derrota na derrubada dos vetos de Lula ao “PL da Devastação”, que flexibiliza regras do licenciamento ambiental.

Vanessa Neves
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Vanessa Neves
Vanessa Neves é Jornalista, editora e analista de mídias sociais do Diário Carioca. Criadora de conteúdo, editora de imagens e editora de política.
Davi Alcolumbre - © Andressa Anholete/Agência Senado

O presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União-AP), decidiu adiar, nesta quinta-feira (16), a sessão conjunta que votaria os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao projeto de lei que flexibiliza as regras de licenciamento ambiental no país.

A decisão ocorre em meio à pressão do agronegócio e ao temor do governo de sofrer uma derrota política em plena prévia da COP30, conferência climática que será sediada em novembro no Pará.

A reunião, que reuniria deputados e senadores para apreciar 63 vetos presidenciais, foi cancelada de última hora. Em comunicado oficial, Alcolumbre afirmou apenas que o adiamento ocorreu “a pedido da liderança do governo no Congresso”, sem indicar nova data para a votação.

Pressão do agronegócio e risco de derrota ambiental

Nos bastidores, o Planalto tenta evitar que o Congresso derrube os principais vetos de Lula e restaure pontos do texto que, segundo ambientalistas, reduzem o controle sobre obras e atividades de médio e alto impacto ecológico. A proposta, apelidada de “PL da Devastação”, foi aprovada em julho com apoio expressivo da bancada ruralista.

Entre os dispositivos vetados estão:

  • a licença por autodeclaração, que permitiria a liberação automática de empreendimentos com potencial poluidor intermediário;
  • a revogação de proteções à Mata Atlântica;
  • e a dispensa de consultas a comunidades indígenas e quilombolas em processos de licenciamento e reconhecimento de terras.

Mesmo assim, a expectativa é de que o Congresso rejeite a maior parte dos vetos. A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), uma das mais influentes do Legislativo, argumenta que o projeto “destrava o país” e agiliza obras de infraestrutura nos setores de energia, transporte e mineração.

Para contextualizar, temas de meio ambiente e infraestrutura têm sido alvos recorrentes de embates entre o governo Lula e o agronegócio (/politica).

Alcolumbre e as articulações no Congresso

O senador Davi Alcolumbre tem papel central na costura para derrubar os vetos e é aliado de parte do setor produtivo. Ele também defende publicamente a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas, projeto que depende de licenciamento e é alvo de resistência do Ibama.

Na tentativa de reduzir os danos políticos, a Casa Civil vem negociando com lideranças da FPA, como a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura e vice-presidente da bancada. O governo busca preservar dispositivos que garantam a governança ambiental e evitem um colapso jurídico no sistema de licenciamento.

Na última terça-feira (14), 89 entidades empresariais entregaram uma carta ao Congresso pedindo a derrubada de todos os vetos presidenciais. O documento, assinado pela Coalizão das Frentes Produtivas, afirma que a versão original do projeto “assegura previsibilidade aos empreendedores” e descentraliza a gestão ambiental, transferindo decisões a estados e municípios.

Governo busca tempo e equilíbrio antes da COP30

Com o adiamento da votação, o governo ganha tempo para recompor sua base e conter o avanço da pauta ruralista. O objetivo é evitar uma derrota completa que possa enfraquecer o discurso climático brasileiro durante a COP30, evento em que o país pretende se apresentar como liderança ambiental global (/economia).

Mesmo aliados do PT admitem que será difícil preservar todos os vetos. A aposta agora é negociar ajustes pontuais que mantenham dispositivos essenciais de proteção de biomas, controle público e participação social.

Fontes do Senado informaram que a sessão conjunta deve ser remarcada nas próximas semanas, em meio a uma disputa acirrada entre o Planalto, o agronegócio e as organizações ambientalistas.


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Vanessa Neves é Jornalista, editora e analista de mídias sociais do Diário Carioca. Criadora de conteúdo, editora de imagens e editora de política.