O presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União-AP), fez um desabafo histórico durante a sessão desta quarta-feira (17) ao afirmar que a oposição bolsonarista tornou o trabalho legislativo “impossível” ao se concentrar exclusivamente em pautas relacionadas ao Judiciário — como impeachment de ministros do STF e anistia a condenados pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro de 2023. A declaração é um raro reconhecimento público da paralisia que domina o Congresso.
Em discurso inflamado, Alcolumbre citou especificamente as ameaças de obstrução feitas por partidos como PL e Republicanos, que prometem “parar o Senado” caso suas demandas por anistia não sejam atendidas.
O presidente também lembrou que, após o recesso parlamentar, senadores chegaram a se acorrentar à mesa diretora em protesto contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.
A crise que paralisa o Senado
Alcolumbre listou os problemas que impedem o avanço de pautas essenciais:
- Obstrução permanente: Parlamentares ameaçam paralisar votações 24 horas por dia;
- Foco em pautas do Judiciário: Discussões sobre impeachment no STF e anistia a golpistas dominam a agenda;
- Agressões e ofensas: Clima de hostilidade constante no plenário e comissões.
“Nós estamos com muitos problemas ao mesmo tempo. Está impossível, isso aqui é um desabafo, tá impossível tentar contornar situações como essa”, declarou Alcolumbre, em claro recado ao líder do PL, Valdemar Costa Neto, que na véspera ameaçou “parar o Senado” se a anistia não fosse votada.
O embate anistia × governabilidade
A fala de Alcolumbre explicita o conflito entre duas agendas:
- Oposição bolsonarista: Prioriza anistia a condenados do 8 de Janeiro e impeachment de ministros do STF;
- Governo e centrão: Buscam avançar pautas econômicas e projetos de interesse da base aliada.
O presidente do Senado pediu que os parlamentares parem de “se agredir” e foquem em “assuntos que são do Brasil” — uma crítica indireta ao viés disruptivo e antidemocrático da oposição.
O contexto: pressão por anistia e PEC da Blindagem
O desabafo ocorre no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados aprovou a PEC da Blindagem, que restaura o voto secreto para processos contra parlamentares. A proposta segue para o Senado, onde deve enfrentar resistência — mas também ampliará a guerra entre Legislativo e Judiciário.
Alcolumbre, que já declarou ser contra a anistia a Bolsonaro, agora se vê pressionado por dentro e por fora. Se ceder à oposição, enterra sua credibilidade; se resistir, arrisca paralisar definitivamente o Senado.
O recado final: “Resolver problemas reais”
Ao final da sessão, Alcolumbre atendeu a um pedido do senador Izalci Lucas (PL-DF) para resolver a situação de servidores terceirizados do Senado — uma demonstração prática de que é possível priorizar pautas concretas em meio ao caos político.
O problema é que, para a oposição, o único “problema real” a ser resolvido é a liberdade de seus líderes condenados.
Com informações do G1