O deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do PL da Dosimetria, que reduz penas de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, ironizou a mobilização popular contra o projeto e afirmou que vídeos publicados por ele em defesa da proposta tiveram mais alcance do que os protestos realizados neste fim de semana. As declarações foram dadas à Folha de S.Paulo, na coluna Painel.
Segundo o parlamentar, a manifestação realizada na avenida Paulista, em São Paulo, teria reunido apenas 13,7 mil pessoas, número divulgado pelo Monitor do Debate Público da USP. “Todos os vídeos que eu publiquei em defesa do projeto da dosimetria tiveram audiência maior do que isso”, afirmou Paulinho, que foi citado nominalmente em discursos e cartazes exibidos durante o ato.
A fala do deputado, no entanto, contrasta com os dados apresentados pelo programa Fantástico, da TV Globo, exibido na noite de domingo, que apontou ao menos 100 mil pessoas nas ruas em protestos contra o Congresso Nacional e o PL da Dosimetria, com atos registrados em quase todas as capitais do país, além de grandes mobilizações no Rio de Janeiro e em São Paulo.
“Congresso da impunidade” e rejeição popular
As manifestações reuniram artistas, parlamentares, movimentos sociais e cidadãos comuns sob palavras de ordem como “Sem anistia”, “Golpistas na cadeia” e “Congresso da impunidade”, em reação direta ao projeto relatado por Paulinho, visto pelos organizadores como uma tentativa de anistia disfarçada aos envolvidos na trama golpista.
Apesar da mobilização nacional, o deputado sustenta que a rejeição ao projeto estaria restrita à militância política. “Está claro que a militância tem uma posição, mas o povo tem outra”, declarou. Como exemplo, citou um vídeo gravado no plenário da Câmara que teria ultrapassado 300 mil visualizações.
Aposta em sanção presidencial
Paulinho também afirmou acreditar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva levará em conta pesquisas de opinião antes de decidir sobre uma eventual sanção ao projeto, caso ele seja aprovado no Congresso. “Acho que o Lula vai olhar as pesquisas antes de decidir”, disse.
O relator confirmou ainda articulações no Senado e afirmou ter conversado com o senador Esperidião Amin (PP-SC), relator da proposta naquela Casa. Segundo Paulinho, qualquer alteração no texto atrasaria a tramitação. “Se mudar, volta para a Câmara e será retomado nos termos originais”, afirmou.
Enquanto o relator do projeto minimiza a mobilização popular, imagens aéreas, registros independentes e a cobertura da grande imprensa apontam para um crescimento consistente da pressão das ruas contra iniciativas legislativas vistas como favoráveis a golpistas, recolocando o Congresso no centro de uma crise de legitimidade diante de amplos setores da sociedade.
