Rio de Janeiro, 4 de agosto de 2025 — As manifestações promovidas por setores bolsonaristas neste domingo (3), em pelo menos 20 capitais brasileiras, tiveram baixa adesão popular, segundo dados das polícias militares estaduais. Em Brasília, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) estimou cerca de 4 mil pessoas. No Rio de Janeiro, o protesto em Copacabana foi descrito por autoridades como “mediano” e “visivelmente inferior aos atos de 2023”.
A tentativa de projetar força política em defesa de Jair Bolsonaro (PL) e contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), teve como tônica discursos por anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Embora tenha participado por videochamada, o ex-presidente não compareceu fisicamente por estar impedido por medidas cautelares do STF, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica.
Ataques institucionais e slogans sem “Pátria”
Os protestos foram marcados por um discurso cada vez mais desconectado da realidade democrática e constitucional. Slogans históricos do bolsonarismo, como “Deus, Pátria, Família e Liberdade”, foram modificados, suprimindo a palavra “Pátria” — símbolo de identidade nacional — num gesto interpretado como revelador da contradição entre o discurso patriótico e os atos golpistas.
Durante o ato em Copacabana, o governador Cláudio Castro (PL) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) empunharam cartazes com a imagem do ex-presidente e pediram o impeachment de Alexandre de Moraes, enquanto apoiavam publicamente a anistia a criminosos golpistas. “O resgate da democracia brasileira já começou”, disse Flávio, encerrando em inglês: “Thank you, America”, em referência ao apoio do governo de Donald Trump (EUA).
Fake news e ironias sobre institutos de pesquisa
Nas redes sociais, Flávio ironizou os números oficiais: “Na espera das manchetes com matemática da USP dizendo que flopou”, escreveu, em mais uma tentativa de descredibilizar dados verificáveis. Estima-se que os atos em São Paulo, Salvador, Fortaleza e Belo Horizonte tenham reunido, somados, menos de 30 mil pessoas, número muito inferior às manifestações organizadas em 2022 e 2023.
Entenda as críticas à narrativa bolsonarista sobre os atos
As manifestações estavam lotadas?
Não. Dados oficiais confirmam baixa adesão. Não houve registro de superlotação ou presença massiva como alegado por políticos bolsonaristas nas redes sociais.
Por que Jair Bolsonaro não compareceu presencialmente?
Por decisão do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro está sob medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, o que o impede de participar de eventos públicos.
Qual a origem da mudança nos slogans?
Observadores notaram que a palavra “Pátria” foi suprimida de faixas e discursos, possivelmente para evitar o confronto com a realidade das ações antidemocráticas defendidas nos atos.
Há risco de prisão para Bolsonaro?
Sim. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o STF avaliam novas medidas contra Bolsonaro por incitação a crimes contra a ordem democrática. O uso da tornozeleira reforça o risco iminente de responsabilização penal.
Quais lideranças participaram dos atos?
Além de Flávio Bolsonaro, participaram o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o senador Izalci Lucas (PL-DF) e as deputadas Bia Kicis (PL-DF) e Caroline de Toni (PL-SC). Em comum, todos defenderam anistia para golpistas e hostilizaram o Supremo Tribunal Federal.
Análise: atos esvaziados, slogans esvaziados
O esvaziamento das manifestações reflete a dificuldade crescente da extrema direita em mobilizar apoio popular real após sucessivos escândalos, revelações de traições institucionais e submissão à pauta externa. A substituição do termo “Pátria” — outrora central à identidade bolsonarista — marca uma quebra simbólica grave: o grupo que se diz patriota agora rejeita o próprio Brasil em nome de Trump e da agenda internacional do extremismo norte-americano.
Com investigações em curso, riscos judiciais concretos para Bolsonaro e rejeição crescente à pauta golpista, o bolsonarismo parece apostar cada vez mais na desinformação e no revisionismo histórico, num caminho cada vez mais distante da legalidade e da soberania nacional.