31 de maio de 2025, Brasília (DF) – Com Geraldo Alckmin flertando com uma candidatura ao Senado em 2026, a corrida pela vice-presidência na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva já mobiliza figuras de peso do campo governista.
Nos bastidores do poder em Brasília, dois nomes emergem como principais postulantes ao lugar de Alckmin: Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro pelo PSD, e Helder Barbalho, governador do Pará pelo MDB.
Ambos intensificaram nas últimas semanas suas articulações com o Palácio do Planalto, mirando a composição da nova frente ampla lulista.
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Alckmin, o elo frágil da chapa de 2022
Escolhido em 2022 para simbolizar a reconciliação entre setores historicamente antagônicos, Geraldo Alckmin, fundador do PSDB e hoje no PSB, ainda não decidiu se tentará renovar a vice ou migrar para o Senado Federal. A indefinição transformou seu futuro político em uma incógnita estratégica para o entorno de Lula — e abriu espaço para novos aliados que desejam ocupar a vaga simbólica de equilíbrio e diálogo da chapa presidencial.
A escolha de Alckmin foi decisiva para derrotar Jair Bolsonaro em 2022, ancorando o discurso da “democracia contra o autoritarismo”. Agora, contudo, a lógica da coalizão pode ser outra: mais centrada na governabilidade e no capital político regional, menos na catarse eleitoral de resistência.
Paes e Barbalho aceleram conversas com o Planalto
Com o Rio de Janeiro sediando eventos de projeção internacional como o G20 e a cúpula do BRICS em 2024, Eduardo Paes capitalizou visibilidade institucional e ampliou sua interlocução direta com Lula. Internamente, setores do PT enxergam Paes como um nome urbano, midiático e articulador — capaz de sustentar um projeto de continuidade em 2026 sem repetir o desgaste simbólico de Alckmin.
Já Helder Barbalho, herdeiro de uma oligarquia política no Pará, também move suas peças com discrição e estratégia. Além de ser uma das figuras mais populares da Região Norte, o governador do MDB é responsável por sediar a COP30, evento ambiental de dimensão global que poderá ser usado como vitrine do governo Lula no palco internacional.
A vice como campo de disputa nacional
Não se trata apenas de representar uma região ou partido. A vice-presidência em 2026 será um sinal claro de que Lula aposta em um projeto de transição controlada ou de renovação política. Nesse contexto, o MDB de Barbalho tenta se reposicionar como força pragmática da governabilidade, enquanto o PSD de Paes disputa o mesmo espaço — mas com um discurso de gestão técnica e centro democrático.
Ambos se colocam como figuras “moderadas”, mas com ambições próprias. Paes já ensaiou voos presidenciais no passado e mantém relações fluídas com setores da elite econômica. Barbalho, por sua vez, age com o apoio implícito de figuras poderosas do MDB — partido que historicamente soube barganhar seu peso nos bastidores de qualquer governo.
Outros interessados e a fragmentação governista
Apesar do favoritismo de Paes e Barbalho, outros atores também testam suas chances. O ministro do Turismo, Celso Sabino, por exemplo, já defendeu publicamente a participação do União Brasil na chapa presidencial petista. Contudo, o União Brasil e o Progressistas (PP) oficializaram uma federação que se distancia do governo, lançando até uma pré-candidatura própria: Ronaldo Caiado, governador de Goiás.
Caiado, porém, encontra resistência dentro do próprio partido, cuja ala parlamentar ainda flerta com a base governista. O mesmo vale para o PSD, que também abriga nomes como Ratinho Júnior, governador do Paraná, crítico contumaz de Lula e provável candidato avulso ao Planalto.
A eventual entrada do PT em alianças com legendas tão díspares revela o desafio da frente ampla: ela venceu o bolsonarismo, mas permanece um arranjo instável, com interesses contraditórios.
Lula e a difícil equação do equilíbrio político
Para Lula, escolher o vice de 2026 não será um gesto simbólico como em 2022, mas uma decisão tática. Ele sabe que precisará de um parceiro de chapa que reúna três atributos: lealdade pessoal, capital político regional e habilidade institucional. Nem Alckmin, nem Paes, nem Barbalho reúnem, por si só, os três.
Há quem defenda que o petista opte por uma mulher, o que atenderia a uma demanda crescente por paridade de gênero. Outros setores sugerem que a escolha passe por uma liderança negra ou indígena, o que teria forte impacto simbólico e internacional. Por enquanto, porém, os favoritos seguem sendo homens brancos, experientes e oriundos da velha engrenagem da política nacional.
O futuro da frente ampla: continuidade ou ruptura?
A reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 não é dada como certa nem pelos mais entusiastas. A ascensão de uma nova extrema-direita, o enfraquecimento da base no Congresso Nacional e o desgaste natural do governo exigem reposicionamento tático. A vice-presidência será o primeiro sinal de qual caminho Lula escolherá: um quarto mandato com mais do mesmo ou uma aposta real na renovação progressista?
Até lá, Eduardo Paes e Helder Barbalho seguem jogando nos bastidores — com sorrisos discretos em Brasília e olhos atentos à vaga mais estratégica do poder.