Brasília – Enfrentando uma pilha de acusações no Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro decidiu dramatizar. Durante entrevista nesta sexta-feira (16 de maio) ao canal bolsonarista AuriVerde Brasil, o ex-presidente disse que, caso seja condenado, morrerá preso: “Eu com 40 anos de cadeia no lombo, não tenho recurso para lugar nenhum, vou morrer na cadeia”, afirmou, aos 70 anos.
O desabafo faz parte da velha retórica da perseguição política, usada por Bolsonaro sempre que o cerco da Justiça aperta. Além de negar qualquer crime, ele ironizou as acusações da Procuradoria-Geral da República chamando o caso de “golpe da Disney”, como se o ataque ao Estado Democrático de Direito fosse uma fábula encenada por Mickey e cia.
Ironiza e desinforma para sobreviver
Bolsonaro, acusado de liderar uma organização criminosa armada e de tentar impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, ainda debochou das investigações, dizendo que o suposto “golpe” foi tramado “com o Pateta, a Minnie e o Pato Donald”, já que ele estava “em Orlando” na ocasião.
O problema é que, mesmo fora do país durante os atos de 8 de janeiro, o STF já deixou claro: a ausência física não elimina a responsabilidade. Os ministros Cristiano Zanin e Flávio Dino reforçaram que há outras formas de envolvimento, inclusive antes dos ataques.
Apela para o medo da morte
No tom messiânico que costuma adotar, Bolsonaro repetiu o mantra da perseguição: “Está previsto 40 anos de cadeia. Me prendam. Estou com 70 já, quase morri em uma cirurgia. Vou morrer, não vai demorar”. E ainda completou: “Não sei até quando vou resistir”.
É uma tentativa de humanização desesperada, que esconde o fato de que ele responde por crimes gravíssimos, entre eles:
- Tentativa de golpe de Estado
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
- Dano qualificado a patrimônio público tombado
- Liderança de milícia golpista armada
Ramagem e Zambelli: os cúmplices na linha de tiro
A entrevista também foi usada para defender aliados. Bolsonaro acusou o Judiciário de “ativismo político” ao comentar a condenação de Carla Zambelli (PL-SP) por falsidade ideológica e invasão ao sistema do CNJ. Também saiu em defesa de Alexandre Ramagem (PL-RJ), investigado no mesmo inquérito da tentativa de golpe.
O discurso é velho, mas funcional entre os bolsonaristas mais radicais: uma narrativa de mártir perseguido por um “sistema” que estaria tentando barrar candidaturas da direita em 2026. Nada mais que cortina de fumaça para encobrir a tentativa fracassada de rasgar a Constituição.