Brasília, 17 de julho de 2025 — Réu por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro chorou no Senado ao pedir orações, num evento religioso promovido por Magno Malta. A cena ocorreu às vésperas do início de seu julgamento no STF.
Bolsonaro em lágrimas — mas nunca pelas vítimas
No Senado, diante de uma plateia cuidadosamente escolhida, Jair Bolsonaro recorreu a um velho truque: chorou. A poucos dias do julgamento que pode selar sua condenação por tentativa de golpe, o ex-presidente usou um evento em homenagem ao pastor Gedelti Gueiros para teatralizar mais uma encenação messiânica. Disse acreditar em Deus, pediu orações e evocou uma suposta perseguição espiritual. Mas o homem que agora se derrama em lágrimas públicas jamais se emocionou diante dos mortos pela pandemia que sabotou ou das famílias massacradas por Israel em Gaza, que defendeu com fervor. Seu pranto é seletivo. Sua dor, instrumental.
O Senado como púlpito eleitoral
A sessão especial foi organizada por Magno Malta, um dos braços fiéis de Bolsonaro no Congresso, e transformou-se em mais uma peça do teatro político-religioso que o bolsonarismo utiliza para blindar seu líder. Evocando a “terra prometida do Ocidente” e insinuando que “alguns poucos atrapalham”, Bolsonaro manteve o discurso vago e mobilizador, voltado à sua base evangélica ultraconservadora. Sem citar nomes, seguiu o roteiro do populismo autoritário: promessas vagas, autovitimização e misticismo político.
Família, fé e influência
Mais cedo, o ex-presidente confirmou que articula a candidatura da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ao Senado em 2026. Ao lado dela, planeja também as campanhas de Carlos Bolsonaro (SC), Flávio Bolsonaro (RJ) e aliados de sua linha dura. Inelegível até 2030, Bolsonaro age como operador de um projeto dinástico, sustentado por redes religiosas, digitais e parlamentares. Seu choro no Senado não é súplica. É tática.
Trump, tarifas e fanfarronice
Em meio às falas messiânicas, Bolsonaro ainda arranjou tempo para atacar Lula e prometer uma missão internacional fantasiosa: revogar pessoalmente as tarifas de 50% impostas por Donald Trump aos produtos brasileiros. Disse que só precisa do passaporte — confiscado por ordem judicial desde 2023. O delírio é duplo: Trump já é presidente e a decisão de taxar o Brasil partiu dele, não de Biden. Mas para Bolsonaro, o que importa não é a verdade, e sim a performance.
À espera do julgamento — e da anistia
Mesmo diante de um parecer devastador da PGR que o acusa de liderar uma organização criminosa e planejar um golpe de Estado, Bolsonaro ensaia moderação. “Vou enfrentar o julgamento, não tenho alternativa”, disse, como se a Justiça fosse um capricho e não uma consequência. Reiterou o apelo pela anistia aos golpistas do 8 de janeiro e admitiu que, se estivesse no país na data, teria sido “buscado em casa como troféu”. A frase revela o que ele teme de fato: o fim da impunidade.
Perguntas e Respostas
Por que Bolsonaro chorou no Senado?
O choro foi uma tentativa de se vitimizar e gerar comoção antes de seu julgamento por tentativa de golpe.
Qual o objetivo do evento com Magno Malta?
Blindar Bolsonaro politicamente com apoio religioso e promover sua narrativa messiânica e persecutória.
Michelle Bolsonaro será candidata em 2026?
Sim. Bolsonaro confirmou que ela disputará o Senado pelo Distrito Federal, como parte de sua estratégia familiar.
O que Bolsonaro disse sobre Trump e as tarifas?
Prometeu negociar com Trump o fim das tarifas contra o Brasil, ignorando que elas foram impostas pelo próprio aliado.
O julgamento no STF já começou?
Ainda não. Bolsonaro será julgado por tentativa de golpe, com base em inquérito da PF e parecer da PGR.