30 de maio de 2025 – Rio de Janeiro (RJ) – Em mais uma demonstração de desprezo pela soberania brasileira, Jair Bolsonaro declarou nesta sexta-feira (30) que conta com a ajuda de um “país lá do norte” — uma referência nada sutil aos Estados Unidos — para “reverter esse sistema”, expressão que já virou código entre seus aliados para enfraquecer instituições como o Supremo Tribunal Federal, a Justiça Eleitoral e o próprio processo democrático brasileiro.
A fala ocorreu no 2º Seminário Nacional de Comunicação do PL, em Fortaleza (CE), diante de uma plateia de militantes, políticos e estrategistas da extrema-direita nacional. Bolsonaro, mais uma vez, expôs sua visão de Brasil: uma república subordinada a interesses externos, incapaz de resolver seus próprios dilemas sem a interferência de potências estrangeiras.
O gesto que revelou mais do que palavras: continência à bandeira dos EUA
Não é a primeira vez que o ex-presidente manifesta seu encantamento submisso com os Estados Unidos. Em 2019, durante uma visita oficial a Dallas, Texas, Bolsonaro protagonizou um dos episódios mais simbólicos de seu antipatriotismo: prestou continência à bandeira americana, em um gesto inédito e amplamente criticado por militares da ativa, diplomatas e analistas. Na ocasião, ainda errou seu próprio bordão, adaptando-o para “Brasil e Estados Unidos acima de tudo”, como se o país fosse uma filial geopolítica da Casa Branca.
A cena, gravada e amplamente divulgada, deixou claro que, para Bolsonaro, a defesa da pátria é apenas discurso de palanque. Na prática, sua lealdade parece mais voltada a Washington do que a Brasília.
Apoio estrangeiro para fugir da cadeia
Ao declarar abertamente que depende da ajuda de outro país para reverter a sua situação política — marcada por investigações no STF e acusações de atos antidemocráticos, tentativa de golpe e milícias digitais — Bolsonaro reforça seu desprezo pelo Estado de Direito e sua disposição de buscar proteção fora das instituições brasileiras.
Segundo ele, “enganam-se aqueles achando que só nós temos condições de reverter esse sistema. Não temos. Precisamos de ajuda de terceiros. E tem vindo na hora certa”, disse, num tom de gratidão diplomática que flerta com a traição institucional.
A “ajuda” mencionada por Bolsonaro não é abstrata: Marco Rubio, senador republicano e atual secretário de Estado no governo Trump, sinalizou sanções contra Alexandre de Moraes, ministro do STF, usando a controversa Lei Global Magnitsky — instrumento jurídico dos EUA para intervir em outros países sob a justificativa de “combate à corrupção e violações de direitos humanos”.
O filho nos EUA e o medo de voltar
Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado, também cumpre um papel central nessa estratégia antipatriótica. Refugiado nos EUA desde março de 2025, ele atua como lobista informal da extrema-direita brasileira em Washington, denunciando o próprio país e seus órgãos de Justiça como se fossem regimes totalitários. Durante o evento em Fortaleza, Bolsonaro justificou a permanência do filho no exterior com franqueza: “Se estivesse aqui, não seria um passaporte. Com toda a certeza, seria uma prisão”.
A frase escancara o medo que o clã Bolsonaro tem de enfrentar a Justiça brasileira. Ao invés de responder por seus atos e colaborar com o devido processo legal, a estratégia tem sido a da vitimização internacional e do asilo político informal, numa tentativa de transformar a narrativa jurídica em guerra ideológica global.
Carlos fora do Rio: manobra para manter foro privilegiado
A ofensiva contra o sistema democrático também passa pela rearrumação dos tabuleiros políticos. Bolsonaro articula agora a transferência de Carlos Bolsonaro, seu filho vereador no Rio de Janeiro, para concorrer ao Senado por outro estado, num esforço para garantir foro privilegiado e ampliar a influência da família no Congresso.
A estratégia evidencia que, apesar da retórica contra “o sistema”, Bolsonaro joga com as mesmas regras que diz combater: fisiologismo, blindagem judicial, uso do poder legislativo como escudo e trampolim. A diferença está no discurso, que vende antipolítica enquanto se movimenta nos bastidores da política tradicional como qualquer cacique do centrão.
Antipatriotismo como programa de poder
O bolsonarismo nunca foi um projeto nacionalista, apesar da estética verde-amarela e das referências militares. Trata-se de um projeto internacionalista da extrema-direita, subordinado a núcleos estratégicos do trumpismo, a think tanks conservadores, ao armamentismo evangélico e a teorias conspiratórias globais. A aliança com os EUA, longe de ser pragmática, é ideológica, cega e subordinada.
Trair a soberania nacional em troca de apoio externo não é apenas uma jogada arriscada: é o coração do projeto de poder de Bolsonaro, que insiste em transformar o Brasil em satélite da extrema-direita global, mesmo que isso custe a democracia, a justiça e o futuro do país.

