Piada Pronta

Bolsonaro exige passaporte para ‘negociar’ tarifa com Trump

por 16 de julho de 2025
Jair Bolsonaro em entrevista à CNN Brasil. Foto: reprodução
Jair Bolsonaro em entrevista à CNN Brasil. Foto: reprodução
Atualizado em 25/11/2025 01:43

Brasília, 16 de julho de 2025 — Jair Bolsonaro pediu a Alexandre de Moraes a devolução de seu passaporte, alegando que precisa negociar pessoalmente com Donald Trump para revogar as tarifas de 50% impostas pelos EUA contra o Brasil.

Princípios Intransigentes

A cena foi ao ar na CNN, mas tinha o tom farsesco de uma live improvisada: Jair Bolsonaro, sob risco real de condenação por tentativa de golpe de Estado, pediu publicamente ao ministro Alexandre de Moraes que lhe devolva o passaporte. Disse que só assim poderá “resolver o tarifaço” de 50% imposto pelos EUA aos produtos brasileiros — como se ainda estivesse no poder, como se Trump governasse, como se o Brasil fosse um quintal sob sua guarda.

Desde fevereiro de 2024, Bolsonaro está proibido de deixar o país. Moraes determinou a retenção do passaporte como parte das medidas preventivas nas investigações do 8 de janeiro e da articulação criminosa para impedir a posse de Lula. O ex-presidente não só ignora esse fato, como usa o caso como palanque para retomar espaço num cenário em que sua influência política desmorona.

Um ex-presidente em simulação de poder

Sem cargo, sem função e prestes a ser condenado, Bolsonaro tenta se apresentar como negociador de Estado. Apela para o velho aliado Donald Trump, como se um encontro entre dois líderes derrotados pudesse redefinir políticas tarifárias complexas, que envolvem comércio internacional, diplomacia formal e interesses estratégicos das duas maiores economias do continente.

A justificativa para a “missão” é absurda. Bolsonaro citou a Argentina de Javier Milei como exemplo de quem teria obtido isenções. Disse que, se fosse presidente, garantiria zero de tarifa para 80% do que o Brasil exporta e 10% no restante. Mas Milei não recebeu isenção alguma — apenas reduções marginais condicionadas a acordos específicos com empresas americanas, não ao voluntarismo de um caudilho digital.

Um clã em guerra com o Brasil

Enquanto o pai encena autoridade, o filho, Eduardo Bolsonaro, atua nos bastidores da sabotagem. Licenciado do cargo de deputado e vivendo nos Estados Unidos, Eduardo tem pressionado congressistas republicanos para endurecer a política contra o Brasil. A estratégia é explícita: desgastar Lula internacionalmente e reabilitar o bolsonarismo com apoio externo.

A articulação não é isolada. Analistas apontam que o clã Bolsonaro tenta transferir a disputa política para o campo diplomático, alimentando uma narrativa de perseguição que interessa à extrema-direita transnacional. A retórica do “acordo com Trump” é parte desse teatro.

Racha entre aliados e disputa por protagonismo

A movimentação de Eduardo acirrou disputas internas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também tenta negociar com Washington, mas foi atacado publicamente pelo filho do ex-presidente. “Usou os canais errados”, disparou Eduardo, sugerindo que só ele, por “acesso à Casa Branca”, poderia liderar o diálogo. A fala escancara o conflito entre bolsonarismo raiz e seus dissidentes institucionais.

Tarcísio, ex-ministro de Bolsonaro e hoje nome forte da direita civil, respondeu de forma pragmática. Disse estar preocupado com o impacto das tarifas sobre setores estratégicos de São Paulo, como a indústria aeronáutica, de máquinas e o agronegócio. A resposta marca um movimento claro de dissociação do bolsonarismo — ou ao menos da ala que se radicaliza cada vez mais.

O ridículo como método político

A tentativa de Bolsonaro de protagonizar negociações internacionais, quando sequer pode sair do Brasil sem autorização judicial, revela mais do que desespero. Expõe a forma como o bolsonarismo opera: não por vias institucionais, mas pelo espetáculo contínuo, pela encenação permanente, pela tentativa de simular poder quando não se tem mais nenhum. O pedido de passaporte não é só um gesto patético — é uma tática de provocação, ruído e recusa em reconhecer a legalidade da própria situação jurídica.

Ao tentar transformar um crime de responsabilidade num recurso diplomático, Bolsonaro joga contra o país mais uma vez. Não é a defesa da economia nacional que o move, mas a tentativa de escapar da Justiça e do ostracismo. Um ex-presidente que se coloca acima da lei, apoiado por um filho que conspira contra o Brasil em Washington, não busca negociar tarifas — busca escapar da condenação.

Perguntas e Respostas

Bolsonaro pode viajar aos EUA para negociar tarifas?
Não. Ele está com o passaporte retido e responde a processos que impedem sua saída do país.

Ele tem alguma autoridade para negociar com Trump?
Não. Bolsonaro não ocupa cargo público e Trump também está fora da presidência.

As tarifas foram impostas por Trump?
Não. As medidas vieram do governo Biden e têm base em investigação formal do USTR.

O que há por trás do pedido de passaporte?
Uma tentativa de gerar repercussão política e simular poder diante do avanço das investigações.

Há disputas internas entre bolsonaristas?
Sim. Eduardo Bolsonaro atacou Tarcísio por tentar negociar com os EUA fora do eixo do clã.

JR Vital

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.