Brasília, 16 de julho de 2025 — Jair Bolsonaro pediu a Alexandre de Moraes a devolução de seu passaporte, alegando que precisa negociar pessoalmente com Donald Trump para revogar as tarifas de 50% impostas pelos EUA contra o Brasil.
Princípios Intransigentes
A cena foi ao ar na CNN, mas tinha o tom farsesco de uma live improvisada: Jair Bolsonaro, sob risco real de condenação por tentativa de golpe de Estado, pediu publicamente ao ministro Alexandre de Moraes que lhe devolva o passaporte. Disse que só assim poderá “resolver o tarifaço” de 50% imposto pelos EUA aos produtos brasileiros — como se ainda estivesse no poder, como se Trump governasse, como se o Brasil fosse um quintal sob sua guarda.
Desde fevereiro de 2024, Bolsonaro está proibido de deixar o país. Moraes determinou a retenção do passaporte como parte das medidas preventivas nas investigações do 8 de janeiro e da articulação criminosa para impedir a posse de Lula. O ex-presidente não só ignora esse fato, como usa o caso como palanque para retomar espaço num cenário em que sua influência política desmorona.
Um ex-presidente em simulação de poder
Sem cargo, sem função e prestes a ser condenado, Bolsonaro tenta se apresentar como negociador de Estado. Apela para o velho aliado Donald Trump, como se um encontro entre dois líderes derrotados pudesse redefinir políticas tarifárias complexas, que envolvem comércio internacional, diplomacia formal e interesses estratégicos das duas maiores economias do continente.
A justificativa para a “missão” é absurda. Bolsonaro citou a Argentina de Javier Milei como exemplo de quem teria obtido isenções. Disse que, se fosse presidente, garantiria zero de tarifa para 80% do que o Brasil exporta e 10% no restante. Mas Milei não recebeu isenção alguma — apenas reduções marginais condicionadas a acordos específicos com empresas americanas, não ao voluntarismo de um caudilho digital.
Um clã em guerra com o Brasil
Enquanto o pai encena autoridade, o filho, Eduardo Bolsonaro, atua nos bastidores da sabotagem. Licenciado do cargo de deputado e vivendo nos Estados Unidos, Eduardo tem pressionado congressistas republicanos para endurecer a política contra o Brasil. A estratégia é explícita: desgastar Lula internacionalmente e reabilitar o bolsonarismo com apoio externo.
A articulação não é isolada. Analistas apontam que o clã Bolsonaro tenta transferir a disputa política para o campo diplomático, alimentando uma narrativa de perseguição que interessa à extrema-direita transnacional. A retórica do “acordo com Trump” é parte desse teatro.
Racha entre aliados e disputa por protagonismo
A movimentação de Eduardo acirrou disputas internas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também tenta negociar com Washington, mas foi atacado publicamente pelo filho do ex-presidente. “Usou os canais errados”, disparou Eduardo, sugerindo que só ele, por “acesso à Casa Branca”, poderia liderar o diálogo. A fala escancara o conflito entre bolsonarismo raiz e seus dissidentes institucionais.
Tarcísio, ex-ministro de Bolsonaro e hoje nome forte da direita civil, respondeu de forma pragmática. Disse estar preocupado com o impacto das tarifas sobre setores estratégicos de São Paulo, como a indústria aeronáutica, de máquinas e o agronegócio. A resposta marca um movimento claro de dissociação do bolsonarismo — ou ao menos da ala que se radicaliza cada vez mais.
O ridículo como método político
A tentativa de Bolsonaro de protagonizar negociações internacionais, quando sequer pode sair do Brasil sem autorização judicial, revela mais do que desespero. Expõe a forma como o bolsonarismo opera: não por vias institucionais, mas pelo espetáculo contínuo, pela encenação permanente, pela tentativa de simular poder quando não se tem mais nenhum. O pedido de passaporte não é só um gesto patético — é uma tática de provocação, ruído e recusa em reconhecer a legalidade da própria situação jurídica.
Ao tentar transformar um crime de responsabilidade num recurso diplomático, Bolsonaro joga contra o país mais uma vez. Não é a defesa da economia nacional que o move, mas a tentativa de escapar da Justiça e do ostracismo. Um ex-presidente que se coloca acima da lei, apoiado por um filho que conspira contra o Brasil em Washington, não busca negociar tarifas — busca escapar da condenação.
Perguntas e Respostas
Bolsonaro pode viajar aos EUA para negociar tarifas?
Não. Ele está com o passaporte retido e responde a processos que impedem sua saída do país.
Ele tem alguma autoridade para negociar com Trump?
Não. Bolsonaro não ocupa cargo público e Trump também está fora da presidência.
As tarifas foram impostas por Trump?
Não. As medidas vieram do governo Biden e têm base em investigação formal do USTR.
O que há por trás do pedido de passaporte?
Uma tentativa de gerar repercussão política e simular poder diante do avanço das investigações.
Há disputas internas entre bolsonaristas?
Sim. Eduardo Bolsonaro atacou Tarcísio por tentar negociar com os EUA fora do eixo do clã.