A líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Talíria Petrone, teve a escolta da Polícia Legislativa Federal suspensa por decisão do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), em meio à escalada de embates políticos no plenário. A parlamentar afirma que não houve comunicação prévia, apesar de ameaças de morte ainda investigadas pela Polícia Federal e pela Polícia Civil, conforme informou o g1.
Segundo Talíria, não houve apresentação de informações que comprovassem o fim dos riscos que motivaram a proteção. A escolta era mantida havia sete anos e meio, após ameaças atribuídas, entre outros grupos, a milicianos do Rio de Janeiro.
Críticas no plenário e acusação de retaliação
A suspensão ocorreu após a deputada intensificar críticas à condução de Hugo Motta e atuar contra pautas defendidas pelo presidente da Casa. Talíria foi uma das articuladoras para barrar a cassação de Glauber Braga (PSOL-RJ) e se posicionou contra o projeto que reduz penas de condenados por atos golpistas, conhecido como PL da Dosimetria, aprovado pelo plenário.
Para a parlamentar, o momento da decisão reforça a percepção de retaliação política, já que o fim da escolta veio no dia seguinte a um discurso crítico no plenário.
“Eu gostaria de dizer que não, mas, para mim, isso soa como retaliação. Minha opinião política não pode ser motivo para a minha desproteção. Eu espero verdadeiramente que isso seja revertido.”
Escolta privada e preocupação com os filhos
Sem a proteção oficial, Talíria contratou, com recursos próprios, uma escolta privada para retornar ao Rio de Janeiro e participar de um ato político-cultural. A deputada afirma que a decisão subestimou os riscos à sua integridade física e à de seus dois filhos.
Ela relata ter sido informada de que a suspensão se baseou em um documento que apontaria supostos problemas de conduta pessoal.
“Alegaram que eu usei Uber, frequentei lugares com aglomeração, fui ao samba e saí de madrugada. Dizem que isso coloca minha vida em risco. É uma justificativa absurda”, disse.
“Tenho escolta há sete anos e meio. Eventualmente faço coisas comuns da vida cotidiana. Isso faz parte da minha humanidade.”
Para Talíria, há contradição no argumento.
“Ao mesmo tempo em que dizem que meu comportamento representa risco, afirmam que não há mais necessidade de escolta.”
Histórico de ameaças e questionamento de critérios
De acordo com a deputada, a decisão também se apoiou em resposta da Polícia Federal indicando que o principal suspeito, conhecido como “Macaquinho”, está preso e que não haveria novos elementos. Ainda assim, ela destaca a existência de inquéritos em aberto e afirma que as ameaças nunca cessaram.
O histórico remonta ao primeiro ano do mandato. Em 2020, após denúncias ao Disque-Denúncia sobre planos de grupos milicianos para executá-la, foi instaurado inquérito e Talíria deixou o Rio de Janeiro com os filhos.
“Quando surgiram essas denúncias relacionadas à milícia, fui orientada a sair do Rio de Janeiro e fiquei cerca de um ano em Brasília”, relatou.
“Eu estava com minha filha com menos de três meses de idade, em plena pandemia, amamentando e em licença-maternidade.”
Desde então, segundo ela, as ameaças se intensificaram, com ataques racistas, misoginia política e ameaças virtuais recorrentes, muitas mencionando a rotina da parlamentar e de seus filhos. Talíria questiona os critérios adotados pela Câmara.
“Qual critério foi utilizado para retirar a minha proteção, com inquérito de ameaça pela milícia em aberto, e manter a proteção de outras pessoas, como Nikolas Ferreira e Rosângela Moro?”
Despacho formal e posição da Presidência
A retirada da escolta foi formalizada por despacho assinado na última segunda-feira (8) por Hugo Motta. O documento suspende o serviço com base no Ato da Mesa nº 213/2025, que previa prazo até 10 de dezembro de 2025 e condicionava a manutenção à permanência dos motivos.
Segundo o despacho, análises técnicas e informações da Polícia Federal no Rio de Janeiro e do Ministério Público estadual indicaram a “insubsistência dos motivos”. Com isso, o texto estabelece a suspensão a partir de 11/12/2025.
O documento afirma que a decisão não é definitiva e prevê nova autorização, desde que cumpridos os “procedimentos e requisitos previstos”.
Contato tardio e silêncio oficial
Talíria afirma que Hugo Motta só entrou em contato na tarde de sábado (13), após a suspensão já estar em vigor.
“Eu disse: presidente, sou líder de bancada, convivemos quase diariamente, e tenho escolta há sete anos e meio. Vou pousar no Rio de Janeiro sem proteção. Isso é muito grave”, relatou.
Segundo ela, Motta negou caráter de retaliação e disse que conversaria com a polícia, sem se comprometer a reverter a decisão. Procurada, a assessoria do presidente da Câmara não respondeu até a publicação.

