Brasília, 21 de julho de 2025 — A Câmara dos Deputados optou por manter em banho-maria o processo que pode levar à cassação de Eduardo Bolsonaro. A estratégia institucional é empurrar o caso até onde for politicamente viável, mesmo com indícios de atuação golpista e abandono do mandato.
Eduardo Bolsonaro não está no Brasil. Partiu para os Estados Unidos enquanto o pai, Jair Bolsonaro, se vê cercado por provas, perícias e decisões judiciais que confirmam sua tentativa de golpe contra a democracia brasileira. O deputado federal do PL-SP — oficialmente licenciado, mas politicamente ativo na sabotagem institucional — articula ações diplomáticas junto ao governo norte-americano para tentar livrar o ex-presidente das consequências legais.
Mesmo assim, a Câmara dos Deputados evita qualquer movimentação concreta para discutir sua cassação. O silêncio da Mesa Diretora não é omissão: é escolha deliberada. O presidente em exercício da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), manobra nos bastidores para impedir que o caso avance. Nada de mudanças regimentais. Nada de acelerar prazos. Nada de incomodar a aliança conservadora que ainda mantém Eduardo com mandato e imunidade.
Manual de sobrevivência do golpismo
O modelo escolhido pela cúpula da Câmara é o mesmo usado para proteger Chiquinho Brazão. Réu por envolvimento no assassinato de Marielle Franco, Brazão só teve o mandato encerrado por faltas — quase um ano depois da denúncia formal. O Conselho de Ética aprovou a cassação, mas o plenário nunca votou. A Mesa apenas esperou a ausência em um terço das sessões ordinárias e declarou a vaga aberta, sem confronto político direto.
Eduardo Bolsonaro caminha na mesma rota. Com sessões remotas, faltas justificadas e uma maioria silenciosa, ele pode manter o mandato até o fim do ano. Isso permite que continue operando, inclusive no exterior, como extensão da máquina bolsonarista que agora atua de forma difusa, mas ainda letal para a institucionalidade.
A Câmara não tem pressa. O país tem urgência.
A blindagem parlamentar não é técnica nem jurídica: é política. Manter Eduardo Bolsonaro no cargo, mesmo ausente, é um sinal claro de que a elite do Congresso ainda aposta na leniência como moeda de estabilidade. Em vez de responder com rigor aos crimes contra o Estado Democrático de Direito, prefere o silêncio estratégico. Mas o custo desse silêncio é alto: normaliza a sabotagem institucional e enfraquece a própria ideia de representação popular.
Enquanto as instituições tergiversam, Eduardo Bolsonaro cumpre seu papel — não como legislador, mas como operador de um projeto autoritário que jamais se desfez, apenas se adaptou. A ausência dele em plenário é menos relevante do que sua presença no circuito internacional da extrema-direita.
Perguntas e Respostas
O que a Câmara está fazendo sobre Eduardo Bolsonaro?
Empurrando o processo, sem tratar da cassação. A Mesa Diretora repete o modelo Chiquinho Brazão.
Eduardo pode ser cassado por faltas?
Sim, mas só se faltar a um terço das sessões ordinárias sem justificativa — algo contornável com manobras regimentais.
Hugo Motta quer mudar o regimento?
Não. Ele evita alterações que possam facilitar ou acelerar a cassação.
Por que Eduardo está nos EUA?
Para articular pressões internacionais e tentar impedir a responsabilização judicial do pai, Jair Bolsonaro.
O que esse caso diz sobre a Câmara?
Revela a persistência de alianças conservadoras e a normalização da leniência com práticas antidemocráticas.

			
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		