Brasília, DF – 5 de junho de 2025. O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e ex-número dois do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, lançou uma acusação contundente contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo ele, o avanço no processo que pode levar o ex-presidente Jair Bolsonaro à prisão estaria sendo impulsionado nos bastidores por Tarcísio, que busca abrir caminho para sua própria candidatura à Presidência em 2026. A declaração adiciona um novo elemento ao racha interno do bolsonarismo, já em disputa aberta entre aliados do clã Bolsonaro e nomes que orbitam o ex-ministro da Infraestrutura.
Tarcísio quer o campo livre, diz Cappelli
Cappelli afirmou, em publicação na rede X (antigo Twitter), que a velocidade no processo judicial contra Bolsonaro tem motivação política interna. “A velocidade no processo para prender Bolsonaro tem nome e sobrenome: Tarcísio de Freitas. Os defensores de Tarcísio sabem que precisam prender Bolsonaro antes de abril para exigir a rendição a tempo de Tarcísio desincompatibilizar”, escreveu, referindo-se ao prazo legal para que ocupantes de cargos públicos deixem suas funções para concorrer em 2026.
A afirmação se soma a uma série de rumores e análises nos bastidores de Brasília sobre a real lealdade de Tarcísio ao seu padrinho político. Ainda que publicamente o governador paulista afirme não disputar com Bolsonaro nem com o nome que ele apoiar, há sinais de que sua aproximação com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), causa desconfiança entre os bolsonaristas mais radicais.
“Fogo amigo” e a reação de Eduardo Bolsonaro
No mesmo fio de postagens, Cappelli ironizou o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), sugerindo que ele estaria sendo vítima de “fogo amigo”. A expressão, típica do jargão militar, expõe a natureza da crise interna no bolsonarismo: os adversários de Bolsonaro estão cada vez mais dentro de sua própria base.
O grupo ligado a Eduardo e à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro desconfia da “complacência” de Tarcísio com Alexandre de Moraes, relator das ações penais contra Bolsonaro no STF. O governador, por sua vez, tem atuado para preservar canais institucionais e diz tentar melhorar a situação do ex-presidente junto à Corte — o que seus críticos interpretam como acomodação ou oportunismo.
Racha para 2026 já começou
Tarcísio é hoje um dos nomes mais fortes fora do núcleo familiar de Bolsonaro para disputar o Planalto. Mas a liderança simbólica do bolsonarismo continua dividida entre Michelle Bolsonaro, que detém alto índice de popularidade entre evangélicos e mulheres conservadoras, e Eduardo, que mantém base fiel no Congresso e redes sociais.
Segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta-feira (5), Michelle e Eduardo despontam como favoritos entre os eleitores bolsonaristas para a corrida de 2026, enquanto Tarcísio aparece atrás, embora com desempenho relevante. O ex-presidente, por sua vez, está inelegível até 2030, após decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e ainda pode ter seu destino agravado com condenações no STF pela tentativa de golpe de Estado investigada após os ataques de 8 de janeiro.
Se for condenado nos processos em curso, Bolsonaro pode pegar até 40 anos de prisão. A perspectiva de uma eventual prisão antes de abril de 2026 — limite para desincompatibilização de cargos públicos — daria a Tarcísio a chance de assumir o protagonismo político do bolsonarismo “legalista”, sem enfrentar o risco de romper abertamente com seu mentor.
Governador joga em duas frentes
Apesar das articulações de bastidor, Tarcísio insiste publicamente que não será candidato contra o nome indicado por Bolsonaro. Mas seus movimentos sugerem o contrário. Ao cultivar relações institucionais com o STF e evitar o confronto direto com Moraes, o governador sinaliza à elite política e empresarial que seria um nome viável para “pacificar” o país.
Ao mesmo tempo, no campo bolsonarista, o gesto é visto como traição. O bolsonarismo raiz não aceita aproximação com figuras do STF que foram alvos constantes de ataques do ex-presidente. Tarcísio, que deve se filiar ao PL de Valdemar Costa Neto, tenta equilibrar os dois lados — mas corre o risco de ser descartado por ambos.
O Carioca Esclarece
Tarcísio está mesmo articulando a prisão de Bolsonaro?
Não há provas formais de que Tarcísio esteja atuando diretamente para acelerar a prisão de Bolsonaro. O que há são indícios políticos e leituras de bastidor, como as feitas por Ricardo Cappelli, que apontam para uma movimentação estratégica visando 2026.
Por que abril de 2026 é decisivo?
Esse é o prazo limite para que ocupantes de cargos públicos renunciem caso queiram disputar a eleição. Se Bolsonaro estiver preso ou juridicamente neutralizado até lá, abre-se espaço para que nomes como Tarcísio se lancem sem precisar romper abertamente com o ex-presidente.
Qual o impacto disso na direita brasileira?
A direita conservadora vive uma fragmentação. Sem Bolsonaro na urna, disputa-se não só quem será o candidato, mas quem herdará o espólio político do bolsonarismo. O racha entre Michelle, Eduardo e Tarcísio revela a disputa por controle simbólico e estratégico da direita pós-Bolsonaro.

			
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		