Brasília — 3 de agosto de 2025 — A reabertura do Congresso Nacional prevista para a próxima semana deve acirrar tensões entre Câmara dos Deputados, Senado Federal e setores bolsonaristas. Os presidentes das duas Casas, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, enfrentam pressão de aliados do Partido Liberal (PL) e de setores do governo Luiz Inácio Lula da Silva após a inclusão de autoridades brasileiras nas sanções da Lei Magnitsky, anunciadas pelos Estados Unidos (EUA).
A expectativa entre interlocutores do Legislativo é de uma crise institucional, agravada pela ofensiva de parlamentares bolsonaristas e pelas estratégias do Planalto para isolar os radicais. Motta e Alcolumbre foram eleitos com apoio tanto do PL de Jair Bolsonaro quanto do Partido dos Trabalhadores (PT), e agora se veem no centro da disputa.
PL pressiona por anistia e fim do foro privilegiado
Liderados por Valdemar Costa Neto, dirigentes do PL pretendem exigir de Motta e Alcolumbre o avanço de propostas como a anistia a manifestantes condenados e a extinção do foro privilegiado em crimes comuns — iniciativas que fragilizam o Supremo Tribunal Federal (STF).
A tensão aumentou com novo pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, protocolado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) no mesmo dia das sanções dos EUA. Já o líder da legenda na Câmara, Sóstenes Cavalcante, acusou o Senado de omissão:
“Se o Senado tivesse cumprido o papel no freio e contrapeso das arbitrariedades, não chegaria a esse ponto. Mas eles são chantageados”, afirmou.
📎 Leia mais sobre política em www.diariocarioca.com/politica
Eduardo Bolsonaro enfrenta isolamento dentro da própria base
Outro foco de instabilidade é o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Morando nos Estados Unidos, ele celebrou a inclusão de Moraes na Lei Magnitsky como uma “missão cumprida”, mas afirmou que haverá novas pressões internacionais.
Em tom de intimidação, escreveu:
“O custo de apoiar Alexandre de Moraes será insuportável. Para os indivíduos e também para suas famílias. Chegou a hora da escolha: estar com Moraes ou com o Brasil”.
Eduardo já ultrapassou o limite de faltas permitido pela Câmara dos Deputados e, segundo aliados, não pretende retornar ao Brasil por temer prisão. Investigado no STF por tentativa de obstrução das apurações contra o ex-presidente Bolsonaro, ele também entrou em conflito com Nikolas Ferreira, Ratinho Júnior (Paraná) e Tarcísio de Freitas (São Paulo).
Governo vê oportunidade para reaproximação com o Congresso
Para o Planalto, o cenário de instabilidade pode favorecer a reconstrução do diálogo institucional com o Legislativo. Assessores do presidente Lula avaliam que o desgaste de Eduardo Bolsonaro fortalece a aproximação entre os presidentes das Casas e o Judiciário, diante da ameaça de sanções externas a parlamentares.
A estratégia governista mira na aprovação de projetos como:
- PEC da Segurança
- Ampliação da faixa de isenção do imposto de renda
- Mitigação dos impactos do tarifaço de Donald Trump
A leitura é de que o momento oferece janela para pacificação institucional, a menos de um ano das eleições municipais.
📎 Veja mais em www.diariocarioca.com/economia
Reações oficiais do Congresso
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, divulgou nota afirmando:
“Como país soberano, não podemos apoiar nenhum tipo de sanção por parte de nações estrangeiras dirigida a membros de qualquer Poder constituído da República”.
Já o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, reforçou:
“O Congresso Nacional não admite interferências na atuação dos nossos Poderes. A soberania nacional é inegociável”.
Entenda o embate entre bolsonaristas e o Congresso
Por que Motta e Alcolumbre estão sob pressão?
Ambos foram eleitos com apoio de diferentes campos políticos. Após as sanções dos EUA, são pressionados por bolsonaristas a adotar medidas contra o STF e a defender parlamentares alinhados à direita.
O que Eduardo Bolsonaro tem a ver com as sanções?
O deputado foi um dos articuladores da inclusão de Moraes na lista da Lei Magnitsky. Ele vive nos EUA e tem incentivado novas sanções contra autoridades brasileiras.
Quais os riscos para Eduardo Bolsonaro?
Ele pode ter o mandato cassado por excesso de faltas. Também é investigado por tentativa de obstrução judicial e teme ser preso se voltar ao país.
Como o governo Lula pretende agir?
O Planalto vê o episódio como chance de retomar articulações com o Congresso, buscando aprovar medidas de impacto econômico e institucional.
Quem se distancia de Eduardo Bolsonaro?
Além de governadores como Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior, até aliados do PL evitam defendê-lo publicamente neste momento.
Crise política pode acelerar realinhamentos no Congresso
A ofensiva bolsonarista contra o STF e os presidentes do Congresso criou um ambiente de tensão que pode ter efeitos duradouros. O isolamento de Eduardo Bolsonaro, a divisão na base do PL e a reabertura das negociações entre Planalto e Parlamento apontam para um realinhamento de forças.
Resta saber se o Congresso optará por reforçar o pacto institucional ou aprofundar o conflito entre os Poderes. A resposta pode definir os rumos da governabilidade nos próximos meses.
Com informações da Folha de S. Paulo
