Brasília – 3 de agosto de 2025 – A fragmentação no campo da direita brasileira se aprofundou nas últimas semanas, em meio à crise provocada pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos (EUA). Governadores, parlamentares e líderes conservadores adotaram posturas individualizadas diante dos desgastes, marcando um cenário de desarticulação no bolsonarismo e de disputa pela hegemonia do grupo visando as eleições de 2026.
Eduardo Bolsonaro provoca racha ao confrontar aliados
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem gerado desconforto até mesmo entre seus aliados mais próximos. A tensão aumentou após ele declarar publicamente que torcia contra a missão de senadores brasileiros que tentavam negociar com o governo dos Estados Unidos (EUA) para reduzir tarifas sobre produtos nacionais.
A declaração repercutiu mal, especialmente entre governadores que avaliam os impactos econômicos da medida sobre suas bases eleitorais. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), atribuiu diretamente a Eduardo parte da responsabilidade pela crise. “Foi um erro estratégico”, disse a interlocutores. Em resposta, Eduardo o chamou de “representante da turminha da elite financeira”.
Carla Zambelli é presa e amplia desgaste do grupo
A prisão da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) após tentativa de fuga para a Itália foi interpretada como um marco simbólico do enfraquecimento do núcleo mais fiel ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O episódio teve forte impacto político, sobretudo pelo contraste com outros aliados que conseguiram evitar a prisão, como o senador Marcos do Val (Podemos-ES).
Zambelli já havia sido alvo de críticas desde 2022, quando perseguiu um homem armada às vésperas do segundo turno da eleição presidencial. Agora, o novo episódio agravou a percepção de desorganização e perda de capital político entre os bolsonaristas.
Tarcísio e o dilema da moderação
A ausência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em um ato bolsonarista no último domingo (3), foi interpretada por interlocutores como parte de um movimento calculado de distanciamento. Oficialmente, a ausência foi atribuída a motivos médicos.
Durante participação na Expert XP 2025, Tarcísio buscou minimizar a crise interna:
“A união faz a força. […] O projeto nacional está acima de todas as vaidades. O Brasil merece isso, é um país vocacionado para dar certo”.
Tarcísio tem sido pressionado por empresários e líderes do agronegócio a se afastar do radicalismo do bolsonarismo e buscar uma agenda econômica própria. Sua tentativa de dialogar com os EUA antes do governo federal foi parte desse esforço de reequilíbrio político.
Governadores se movem em estratégias isoladas
Além de Zema, outros governadores conservadores adotam posturas distintas. Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), por exemplo, evita confrontos com Eduardo e foca suas críticas no governo Lula, acusando-o de má condução na crise com os EUA. Já Ratinho Júnior (PSD-PR) se reuniu com empresários em São Paulo, em busca de investimentos e projeção nacional.
O cancelamento de uma reunião entre governadores de direita e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) também indicou falta de coordenação no bloco oposicionista.
Entenda os conflitos recentes dentro do bolsonarismo
Por que Eduardo Bolsonaro causou mal-estar com aliados?
Ao apoiar as tarifas impostas pelos Estados Unidos (EUA) e torcer contra a missão de senadores brasileiros, Eduardo Bolsonaro foi acusado de agir contra os interesses econômicos do país e de seus próprios aliados, gerando críticas públicas e reservas até entre governadores próximos.
O que motivou a prisão de Carla Zambelli?
Zambelli tentou fugir para a Itália após ser alvo de nova ordem judicial. A ação foi vista como um “golpe final” no grupo bolsonarista envolvido nos atos de 8 de janeiro, especialmente por demonstrar despreparo diante das investigações.
Como Tarcísio tem se posicionado na crise?
Inicialmente alinhado ao bolsonarismo, Tarcísio de Freitas recalibrou seu discurso, buscou diálogo com empresários e medidas econômicas próprias, tentando se firmar como alternativa viável à Presidência em 2026.
Quais lideranças buscam se afastar do racha?
Governadores como Romeu Zema, Ratinho Júnior e Caiado adotaram estratégias próprias, com foco em suas respectivas imagens regionais e com discursos menos alinhados ao núcleo duro bolsonarista.
O bolsonarismo vai se fragmentar até 2026?
Apesar dos sinais evidentes de divisão, lideranças como Tarcísio afirmam que ainda há espaço para coesão no campo conservador. No entanto, o cenário atual indica disputa por protagonismo e agendas descentralizadas.
Fragmentação da direita desafia unidade até 2026
A crise do tarifaço escancarou os limites do bolsonarismo como força política unificada. O desgaste de lideranças como Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, somado à tentativa de moderação de nomes como Tarcísio de Freitas, indica uma corrida solitária entre os conservadores para manter relevância até as eleições de 2026. O bloco de direita, antes coeso, agora enfrenta o desafio de reconstruir pontes — ou redefinir sua própria identidade.
Com informações do Brasil 247