Brasília, 25 de julho de 2025 — O deputado Eduardo Bolsonaro intensificou sua ofensiva contra Nikolas Ferreira, aprofundando a fragmentação no núcleo bolsonarista, que já enfrenta desgaste interno e queda de influência.
Racha entre Eduardo e Nikolas escancara crise no bolsonarismo
A distância geográfica e ideológica entre Eduardo Bolsonaro e Nikolas Ferreira já não cabe sob o mesmo teto da direita radical. Radicado nos Estados Unidos, o filho do ex-presidente passou a mirar publicamente o jovem deputado mineiro, em uma escalada que revela não apenas rivalidade pessoal, mas a luta por protagonismo num campo político em desintegração.
O estopim recente veio com o silêncio de Nikolas diante do tarifaço anunciado pelos EUA contra produtos brasileiros — medida que, além de atingir a já fragilizada economia defendida pelos bolsonaristas, feriu a narrativa de alinhamento automático com Washington. Eduardo não escondeu sua irritação com o aliado ausente e usou as redes para expor o incômodo.
O episódio somou-se a outras rusgas, como a falta de apoio declarado de Nikolas durante a imposição de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro. Embora aliados de Eduardo tentem negar um conflito direto, os sinais são claros.
Paulo Figueiredo atua como linha auxiliar no embate
Sem assumir abertamente os ataques, Eduardo se vale do comentarista Paulo Figueiredo como escudo e amplificador. Apontado como seu porta-voz informal, Figueiredo tem sido usado para vocalizar as críticas mais agressivas contra desafetos do clã Bolsonaro, incluindo senadores e o próprio Nikolas.
Foi ele quem chamou de “traidores” os senadores Tereza Cristina (PP-MS) e Marcos Pontes (PL-SP), após ambos dialogarem com o governo americano sobre o tarifaço. Em resposta, Eduardo publicou nota desautorizando os senadores a falarem em nome do bolsonarismo, em um gesto que, embora mais moderado na linguagem, reforçou o recado do aliado.
O mesmo padrão se repetiu com Nikolas. Diante de sua omissão sobre a crise comercial, Figueiredo escreveu: “Alguém avisa o Nikolas sobre as ações? Acho que ele não está sabendo”. Eduardo compartilhou a provocação, sem negar ou contextualizar.
Desconforto vem desde 2022, quando Nikolas superou Eduardo nas urnas
Embora os atritos recentes se concentrem na geopolítica e na agenda econômica, a raiz da tensão remonta às eleições de 2022. Nikolas foi o deputado federal mais votado do país, enquanto Eduardo amargou resultados abaixo das expectativas em São Paulo, ficando atrás até mesmo de figuras como Carla Zambelli e o opositor Guilherme Boulos.
Desde então, a convivência entre os dois é marcada por competição, vaidade e disputa por capital político dentro de uma direita que perdeu sua cola principal: o poder.
A fragmentação do bolsonarismo, que antes se equilibrava no culto à personalidade de Jair Bolsonaro, hoje se expande em múltiplas direções. Sem unidade estratégica, o campo direitista se vê entregue a disputas regionais, ressentimentos pessoais e recalibrações ideológicas.
Tire suas dúvidas
Por que Eduardo Bolsonaro está atacando Nikolas Ferreira?
Porque vê no silêncio do deputado mineiro uma omissão estratégica, especialmente em temas sensíveis como a defesa de Jair Bolsonaro e o tarifaço dos EUA contra o Brasil.
Quem é Paulo Figueiredo e qual seu papel nessa crise?
Aliado próximo de Eduardo, ele atua como voz extraoficial do deputado nas redes sociais, emitindo críticas contundentes que depois são endossadas, de forma mais branda, por Eduardo.
Qual o impacto eleitoral da rivalidade entre os dois deputados?
A disputa desgasta a coesão do bolsonarismo, enfraquece a base ideológica e pode afetar candidaturas futuras, inclusive em estados-chave como Minas Gerais e São Paulo.
Essa divisão é nova ou já vinha se desenhando?
Já existia desde as eleições de 2022, quando Nikolas se destacou nacionalmente e superou Eduardo em votos. O atual embate apenas explicita essa rivalidade.
A crise entre eles afeta o bolsonarismo como um todo?
Sim. A falta de uma liderança única e os conflitos internos dificultam a reorganização do campo bolsonarista após a inelegibilidade de Jair Bolsonaro.