31 de maio de 2025, Rio de Janeiro (RJ) – O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a escancarar seu desprezo pelas instituições brasileiras e a flertar com a ingerência estrangeira ao declarar, nesta sexta-feira (30), que sua volta à política dependerá da “ajuda de outro país lá do norte”. A fala, proferida durante o 2º Seminário Nacional de Comunicação do Partido Liberal (PL), realizado em Fortaleza (CE), reforça os sinais de uma articulação supranacional que afronta abertamente o Estado de Direito no Brasil.
A insinuação direta à busca de apoio nos Estados Unidos, onde Bolsonaro cultiva relações com a ala mais reacionária do Partido Republicano, acontece no momento em que o ex-presidente está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Réu em diversos processos, incluindo a tentativa de golpe de Estado em 2022, Bolsonaro agora parece apostar no apoio de Donald Trump, atual presidente dos EUA, como trampolim para uma nova investida autoritária no Brasil.
“Com a ajuda de Deus e também com a ajuda de outro país lá do norte… Enganam-se aqueles que pensam que só nós temos condições de reverter esse sistema. Não temos. Precisamos da ajuda de terceiros”, declarou Bolsonaro em um discurso que remete, sem rodeios, à velha fórmula golpista de intervenção estrangeira — agora adaptada ao delírio geopolítico da extrema-direita transnacional.
A retórica do estrangeiro salvador
O flerte com potências estrangeiras para contornar as instituições nacionais não é novidade na trajetória bolsonarista. Desde a derrota nas urnas, Bolsonaro passou a adotar um discurso messiânico e conspiratório, alegando perseguição judicial e censura — quando na verdade responde por crimes contra o Estado democrático de Direito. A novidade agora é o descaramento com que vocaliza a dependência de um ator externo para desestabilizar o processo democrático brasileiro.
A referência indireta aos EUA não ocorre em vácuo. Ela se insere num cenário de tensões diplomáticas entre Brasília e Washington, especialmente após autoridades norte-americanas, como o senador republicano Marco Rubio, sugerirem sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com base na Lei Magnitsky — ferramenta jurídica dos EUA para punir indivíduos estrangeiros acusados de violar direitos humanos.
Rubio, figura próxima da ala trumpista, tornou-se recentemente um porta-voz internacional das narrativas bolsonaristas, atacando o STF e tentando enquadrar as investigações contra Bolsonaro como abusos autoritários — num duplo padrão que ignora o histórico criminoso do ex-presidente e seus aliados.
Trump, o farol da extrema-direita latino-americana
Durante o evento do PL, Bolsonaro também deixou claro que seu destino político está vinculado ao retorno de Donald Trump ao comando da Casa Branca. “Muitas coisas fizemos juntos e outras ficaram para o futuro”, afirmou, numa referência aos anos de alinhamento automático entre Brasília e Washington durante os mandatos simultâneos da dupla.
Na prática, essa “proximidade” não gerou benefícios concretos para o povo brasileiro, apenas fragilizou a diplomacia nacional e comprometeu interesses soberanos — vide a subordinação cega à política externa dos EUA, a entrega de bases e dados sensíveis e o apoio a ações belicistas em foros multilaterais.
A nova declaração de Bolsonaro explicita o projeto de um bloco reacionário internacional disposto a minar democracias sob o pretexto de restaurar uma suposta ordem conservadora. O Brasil, mais uma vez, é transformado em peão desse xadrez geopolítico, com Bolsonaro agindo como títere de interesses que pouco se importam com a soberania nacional.
Perigo à democracia institucional
A fala de Bolsonaro escancara o desprezo pelas regras do jogo democrático e a disposição de conspirar com agentes externos para sabotar as instituições brasileiras. Essa postura, típica de aventureiros autoritários, representa não apenas uma ameaça jurídica, mas um desafio geopolítico.
Trata-se de mais um capítulo da escalada retórica que transforma a Justiça brasileira em inimiga e os EUA — ou melhor, o setor mais radicalizado do Partido Republicano — em salvadores messiânicos de um projeto de poder falido.
Ao exortar abertamente a “ajuda de terceiros” para intervir nos assuntos internos do Brasil, Bolsonaro atua em flagrante contradição com os princípios da Constituição Federal e da autodeterminação dos povos. E pior: o faz sob aplausos de uma plateia que inclui parlamentares, líderes partidários e influenciadores alinhados com o PL, partido que abriga sua candidatura zumbi.
Um alerta à sociedade civil
A sociedade brasileira, os meios de comunicação independentes e as instituições democráticas precisam levar a sério a gravidade dessa declaração. Não se trata apenas de retórica. Bolsonaro já demonstrou que suas palavras podem, e costumam, virar ação. A tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 é prova cabal disso.
A articulação entre setores da extrema-direita global, como os trumpistas nos EUA, e figuras como Jair Bolsonaro, no Brasil, está longe de ser simbólica. É estratégica. E seu alvo não é outro senão a democracia. Cabe à sociedade civil, à imprensa livre e ao sistema judiciário permanecerem vigilantes — e, sobretudo, firmes.
