Brasília, 15 de julho de 2025 — O Conselho de Ética da Câmara suspendeu André Janones por 90 dias após ele se referir a Nikolas Ferreira como “Nikole”. O deputado alega que foi agredido e apalpado por bolsonaristas após o episódio.
Punido por ironizar transfobia, Janones vira alvo político
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados decidiu silenciar André Janones. A punição de 90 dias imposta nesta terça-feira (15) é resposta a uma provocação irônica feita por ele ao bolsonarista Nikolas Ferreira, a quem chamou de “Nikole” em sessão plenária. A referência, segundo Janones, era uma devolutiva crítica ao discurso transfóbico proferido por Nikolas em 2023, quando o deputado vestiu peruca no Dia da Mulher e zombou de identidades trans.
A suspensão repete o padrão de proteção institucional a parlamentares de extrema-direita, enquanto reprime de forma desproporcional reações que denunciam ou escancaram a lógica opressora naturalizada na casa. A representação partiu da própria Mesa Diretora da Câmara — a mesma que engavetou processos contra deputados bolsonaristas acusados de racismo, sexismo e incitação ao golpe.
Contexto: ironia como denúncia política
Em sua defesa, Janones argumentou que apenas seguiu o nome e o gênero que o próprio Nikolas teria adotado no plenário, ainda que de forma caricata. “Até que ele peça desculpas ou diga que não é mais a Nikole, eu sempre me referirei assim. É como ele mesmo se identificou”, declarou.
A estratégia, segundo Janones, expõe o cinismo com que parlamentares de extrema-direita instrumentalizam pautas de identidade para atacar minorias. “Chamei de Nikole porque ele zombou das mulheres trans. Usei a mesma lógica contra ele”, explicou.
Câmara avaliza transfobia e silencia dissenso
O relator do processo, Fausto Santos Jr. (União-AM), desconsiderou o argumento da ironia e sustentou que Janones perpetuou estigmas contra pessoas trans. Ignorou, no entanto, o fato de que a zombaria original foi feita por Nikolas. A inversão retórica que expõe o preconceito — prática consagrada no combate ao discurso de ódio — foi tratada como ofensa isolada, descontextualizada.
A Câmara transformou a vítima política em réu moral, ignorando o histórico de violência simbólica do bolsonarismo e reforçando sua blindagem institucional.
Janones denuncia agressão e assédio sexual
Logo após o episódio, Janones afirmou ter sido cercado por doze deputados do PL, que o agrediram com chutes e apalpadas. “Pegaram no meu pênis. Está tudo gravado”, declarou. Segundo ele, as imagens têm oito minutos e serão apresentadas ao próprio Conselho de Ética.
A denúncia inclui agressão física, assédio moral e violência sexual. Ainda assim, até o fechamento desta reportagem, nenhum parlamentar do PL havia sido afastado ou sequer investigado. O caso escancara a seletividade da punição parlamentar, que cala adversários enquanto tolera abusos explícitos praticados sob a proteção do poder.
Perguntas e Respostas
Por que Janones foi suspenso?
Por se referir a Nikolas Ferreira como “Nikole”, em crítica ao discurso transfóbico feito por ele em 2023.
Quem apresentou a denúncia?
A Mesa Diretora da Câmara, com base em quebra de decoro parlamentar.
Janones reconheceu o apelido como ofensa?
Não. Ele afirmou que usou o termo em resposta ao próprio gesto performático de Nikolas, como ironia política.
Houve agressões físicas após o episódio?
Sim. Janones afirma ter sido chutado e apalpado por parlamentares do PL e apresentou vídeo como prova.
Nikolas foi responsabilizado pelo discurso transfóbico?
Não. Apesar das denúncias, ele segue impune e sem sanções da Câmara.