Brasília, 1º de junho de 2025 — Em uma cerimônia carregada de simbolismo político e sinalizações para a eleição de 2026, o prefeito do Recife, João Campos, de apenas 31 anos, assumiu neste domingo a presidência nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
A posse ocorreu em Brasília, com a presença de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, que não apenas prestigiaram o novo dirigente, mas também endossaram a estratégia de continuidade da aliança com o Partido dos Trabalhadores (PT).
A palavra-chave da convenção foi futuro — mas sem renegar a herança. João Campos, herdeiro político de Eduardo Campos e neto de Miguel Arraes, tentou equilibrar juventude e tradição em seu discurso: “Estamos vivendo uma mudança geracional, mas sem ruptura. A luta pela democracia exige que estejamos juntos, e nossa aliança com Lula e Alckmin mostrou isso em 2022 — e mostrará de novo em 2026”, declarou.
Alckmin, hoje vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, retribuiu a deferência com entusiasmo: “É uma honra estar ao lado de Lula na trincheira democrática.” Foi a senha para que João Campos deixasse claro, em alto e bom som, o projeto que começa a ser arquitetado nos bastidores: a reedição da chapa Lula-Alckmin nas próximas eleições presidenciais.
PSB se reposiciona como pilar da frente democrática
A escolha de João Campos sela o esforço do PSB em reposicionar-se como um dos vértices centrais da coalizão progressista. Com dois ministérios, a Vice-Presidência e 14 deputados federais, o partido tenta reconquistar musculatura nacional diante do avanço da extrema-direita e da paralisia de parte da centro-esquerda.
Em seu discurso, João anunciou como prioridades a ampliação da bancada socialista no Congresso, a reconquista do governo de Pernambuco e a organização de uma frente popular capaz de defender o pacto democrático nas ruas e nas urnas. “Estamos sendo atacados por um projeto autoritário, armado e disfarçado de liberdade. Nossa resposta será unidade, base social e coragem institucional”, afirmou.
A convocação direta contra o bolsonarismo marca o tom mais combativo do novo PSB. Campos deixou claro que o partido não atuará como linha auxiliar, mas como um articulador estratégico da frente democrática, sobretudo num momento em que parte do Congresso tenta ressuscitar anistias e blindagens para os golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Confronto com o Congresso e o fantasma da anistia
O evento também evidenciou as tensões que atravessam o campo democrático. Quando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), apareceu no auditório, militantes do PSB e de movimentos sociais não hesitaram: gritaram “sem anistia!” em protesto direto contra articulações em curso para aliviar as penas de militares e civis envolvidos na tentativa de golpe contra o STF e o Planalto.
Motta tentou contemporizar, elogiando os “quadros qualificados” do PSB e citando Alckmin como exemplo de diálogo. A presença do presidente da Câmara, contudo, foi lida nos bastidores como um aceno estratégico de João Campos à governabilidade, ainda que custe desconforto à militância. A nova liderança pessebista parece disposta a ocupar o centro do tabuleiro institucional, mesmo que isso implique negociar com os setores ambíguos do Centrão.
Caminho para o Palácio e dilemas regionais
Reeleito com 78% dos votos no Recife, João Campos lidera as pesquisas para o governo de Pernambuco. Seu desempenho eleitoral o credencia a disputar cargos mais altos, mas também impõe dilemas. Se quiser concorrer em 2026, terá de deixar a prefeitura — algo que ainda não está definido. Fontes próximas dizem que João vê a presidência do PSB como uma alavanca nacional, mas não descartaria um salto para o Executivo estadual, caso isso fortaleça o campo progressista local.
A manobra se insere numa disputa maior pelo futuro da hegemonia no Nordeste, região que vem sendo cobiçada pela extrema-direita e tensionada por pautas como a privatização da Compesa, o colapso habitacional em Recife e o avanço do agronegócio sobre áreas indígenas e quilombolas no interior de Pernambuco.
Alckmin reforçado, Lula aliviado
Para Luiz Inácio Lula da Silva, a manutenção de Geraldo Alckmin como vice atende tanto à lógica da estabilidade quanto à contenção de crises internas no governo. Alckmin tem sido fiador do diálogo com o empresariado paulista e com a elite política moderada. Ao garantir apoio integral do PSB, João Campos oferece a Lula um gesto de lealdade e previsibilidade — um ativo precioso em meio a um cenário de instabilidade econômica, pressões do mercado e sabotagens da oposição.
Enquanto setores do PT ensaiam nomes alternativos à vice-presidência, o PSB fecha questão: Alckmin é o nome da frente ampla. A movimentação esvazia as especulações sobre substituições e coloca o partido de Campos como um dos protagonistas da costura para 2026. João Campos, com sua juventude calculada e ambição moderada, emerge como um elo entre as velhas lideranças e a renovação tática do campo progressista.