A Justiça Federal do Paraná determinou que a Polícia Federal (PF) abra inquérito para investigar o aporte de pelo menos R$ 18 milhões feito pelo empresário Francisley Valdevino da Silva, conhecido como Sheik dos Bitcoins, em uma sociedade com o pastor Silas Malafaia. A decisão foi proferida pelo juiz Nivaldo Brunoni, da 23ª Vara Federal de Curitiba, e surge no processo que condenou Francisley a mais de 56 anos de prisão por esquema bilionário de pirâmide financeira.
Decisão judicial amplia investigação sobre negócios religiosos
Na sentença, Brunoni ordena à PF que apure as denúncias relacionadas à transferência de recursos de Francisley para a parceria empresarial com Malafaia. Segundo o despacho, “oficie-se à Autoridade Policial, independentemente do trânsito em julgado, para que instaure os respectivos inquéritos policiais visando apurar as circunstâncias dos fatos noticiados”.
O magistrado cita depoimentos de testemunhas que mencionaram diretamente a sociedade entre o Sheik dos Bitcoins e o líder evangélico.
Aporte milionário e criação da Alvox
A contadora Alessandra Morais Bach, ligada às empresas de Francisley, afirmou em juízo que o empresário investiu R$ 18 milhões em um “malfadado negócio” com Malafaia, voltado à venda de artigos religiosos em formato de marketplace.
Segundo reportagem do portal Metrópoles, o próprio Malafaia confirmou o aporte, alegando que o valor teria sido ainda maior, chegando a R$ 30 milhões.
O empreendimento resultou na criação da Alvox, fundada em 2021, união entre o Sheik dos Bitcoins e a Editora Central Gospel, principal empresa de Malafaia. A editora estava em recuperação judicial e corria risco de falência.
A Alvox passou a vender livros, bíblias e outros produtos da Central Gospel, além de roupas, perfumes e mercadorias de empresas ligadas a Francisley, por meio de um modelo de marketing multinível.
Uso da imagem de Malafaia para atrair investidores
Em suas redes sociais, Silas Malafaia chegou a divulgar produtos comercializados pela Alvox.
De acordo com o depoimento de Tassio Gil Maia Viana, ex-diretor da Intergalaxy – uma das principais empresas do Sheik –, Francisley usava a imagem de Malafaia para convencer novas vítimas a aderirem ao esquema, apresentado como investimento em aluguel de criptomoedas.
A sentença ressalta esse ponto, mas não esclarece se o uso da imagem do pastor tinha ou não sua anuência. Após operações da Polícia Federal contra Francisley, Malafaia foi a público negar envolvimento direto.
Império financeiro em xeque
A crise da Editora Central Gospel foi tema da série investigativa Império Malafaia, do ICL, que analisou mais de 60 mil páginas de documentos sobre as finanças e conexões políticas do pastor.
No processo de recuperação judicial iniciado em 2019 e concluído apenas em 2024, a editora declarou dívidas superiores a R$ 30 milhões, envolvendo passivos trabalhistas, fornecedores, bancos e impostos.
Em documentos judiciais, Malafaia declarou ter recebido R$ 1,35 milhão em 2018, dos quais R$ 962 mil foram pagos pela Assembleia de Deus Vitória em Cristo, igreja sob seu comando.