Missão Velha (CE), 18 de julho de 2025 — Em visita à Transnordestina, o presidente Lula admitiu disputar um novo mandato em 2026. A decisão, segundo ele, dependerá da saúde, mas o objetivo é claro: impedir o retorno da extrema direita ao poder.
Lula assume missão de impedir retrocesso político
Durante discurso inflamado no Ceará nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou com todas as letras o que já se tornava evidente nos bastidores de Brasília: ele cogita disputar a reeleição em 2026. Mas não por vaidade ou capricho pessoal. A motivação, afirmou, é impedir que “o bando de malucos” retome o controle do país. A expressão, dita com ironia e indignação, mira diretamente o bolsonarismo e seus herdeiros.
“Eles não voltarão, podem estar certos disso”, afirmou Lula, diante de operários e moradores de Missão Velha, onde visitava obras da Ferrovia Transnordestina. “E não é porque Lula não quer. É porque vocês não vão deixar eles voltarem.”
A frase tem peso político e histórico. Ao evocar a resistência popular como linha de defesa contra o autoritarismo, o presidente reativa o campo democrático que enfrentou o golpismo entre 2019 e 2023. O recado é duplo: à militância, que esperava sinais de disposição eleitoral; e à elite econômica, que insiste em testar alternativas da extrema direita sob vernizes pseudotécnicos.
2026 em aberto, mas o adversário já está definido
Lula fez questão de afirmar que a decisão final será tomada apenas no próximo ano, após avaliação da saúde e do cenário político. Mas deixou escapar que a disposição é real: “Se tiver com a saúde que estou hoje, podem ter certeza que serei candidato de novo”. E completou: “Vou conversar com minha consciência — e com vocês”.
Mesmo com a ressalva, o gesto foi interpretado como lançamento informal de pré-candidatura. Ainda mais porque ocorre no mesmo dia em que a imprensa repercute os dados da Genial/Quaest: Lula venceria todos os principais nomes testados no segundo turno — incluindo Bolsonaro, mesmo inelegível, por 43% a 37%.
A única exceção é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que empata tecnicamente com o presidente. Apesar disso, nenhum outro nome da direita demonstrou capacidade real de capitalizar a rejeição ao bolsonarismo nem de romper com sua herança autoritária.
Obras, soberania e disputa de narrativa
A ida de Lula ao Nordeste não foi apenas agenda de campanha antecipada. A Transnordestina, abandonada durante anos por sucessivos governos, simboliza a disputa por um novo projeto de país. Com 1.209 km de extensão, a ferrovia deve ligar Eliseu Martins (PI) a Suape (PE) até o final de 2025. O investimento anunciado por Lula mira a reindustrialização regional e o escoamento da produção agrícola sem depender de rotas costeiras saturadas.
Ao lado do governador Elmano de Freitas e dos ministros Camilo Santana (Educação) e Renan Filho (Transportes), o presidente falou em desenvolvimento soberano. Foi sua resposta ao tarifaço de Donald Trump e à dependência dos mercados norte-americanos: “Estamos resgatando um projeto que vai gerar desenvolvimento para todo o Nordeste”.
Não por acaso, o discurso evitou comentar diretamente a operação da Polícia Federal que, um dia antes, impôs tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro. Lula não precisa responder à decadência do adversário. Prefere mostrar obra, viabilidade e estabilidade institucional.
Perguntas e Respostas
Lula confirmou que será candidato em 2026?
Não oficialmente. Disse que tomará a decisão em 2026, mas sinalizou fortemente que está disposto a disputar.
Contra quem Lula pretende disputar as eleições?
Seu discurso aponta diretamente para os aliados de Jair Bolsonaro e para a extrema direita.
Por que a visita ao Ceará é simbólica?
A Transnordestina representa um projeto estratégico para o Nordeste e para a soberania logística do Brasil.
Qual é o cenário eleitoral de Lula hoje?
Lula lidera pesquisas de segundo turno contra todos, menos Tarcísio, com quem está empatado tecnicamente.
Lula comentou a operação contra Bolsonaro?
Não. Evitou o tema e preferiu focar na agenda de infraestrutura e desenvolvimento regional.
