Diplomacia

Lula afirma que não há veto na reunião com Trump

Presidente brasileiro rebateu distorções da imprensa e garantiu diálogo amplo com o governo dos Estados Unidos sobre tarifas e geopolítica global.

Vanessa Neves
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Vanessa Neves
Vanessa Neves é Jornalista, editora e analista de mídias sociais do Diário Carioca. Criadora de conteúdo, editora de imagens e editora de política.
Lula em entrevista coletiva na Indonésia. Foto: reprodução

Durante entrevista coletiva concedida nesta sexta-feira (24) em Jacarta, na Indonésia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que espera um encontro tranquilo e produtivo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcado para domingo (26) na Malásia, durante a 47ª Cúpula da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático).

Lula declarou que “não há veto na reunião” e que pretende abrir um diálogo amplo sobre comércio, meio ambiente e política internacional. A expectativa do governo é que o encontro permita reduzir a tensão comercial entre os dois países, acirrada após a imposição de tarifas pelo governo norte-americano.

Questionado sobre o que o Brasil poderia oferecer em troca de uma trégua na guerra tarifária, Lula reagiu de forma direta ao repórter Américo Martins, da CNN Brasil:

“Eu não disse que vou oferecer isso. Você que disse. Eu não disse que vou oferecer. Eu disse que na conversa que nós temos não existe veto a nenhum assunto.”

A resposta marcou o tom firme e assertivo do presidente, que busca afastar a ideia de submissão econômica ao governo norte-americano.


Lula defende diálogo amplo e sem imposições

O presidente afirmou que a reunião com Donald Trump deve abordar qualquer tema de interesse bilateral ou global, sem restrições impostas de parte alguma.

“Podemos discutir de Gaza a Ucrânia, a Rússia, Venezuela, minerais, terras raras. Podemos discutir qualquer assunto. O que eu disse é que não tem veto, e vamos depender do que ele vai propor”, declarou Lula.

Segundo o Palácio do Planalto, a comitiva brasileira incluirá ministros das áreas econômica e de relações exteriores, responsáveis por discutir tarifas, meio ambiente e cooperação tecnológica.

O objetivo é recompor a confiança entre os dois países e defender os interesses nacionais em pé de igualdade.


Guerra comercial e resistência brasileira

A reunião acontece após meses de atrito comercial. Em julho, o governo Trump anunciou tarifas de até 40% sobre produtos brasileiros, justificando-as como “emergência nacional”. A medida, considerada arbitrária e politicamente motivada, provocou reações imediatas em Brasília.

Lula classificou as justificativas americanas como “sem sustentação em nenhuma verdade” e destacou que os Estados Unidos mantêm superávit de 410 bilhões de dólares em 15 anos de trocas comerciais com o Brasil.

“Não tem sustentação a tese de que não há direitos humanos no Brasil ou de que o país persegue o ex-presidente. Quem comete crime no Brasil é julgado e, se for culpado, é punido”, disse o presidente.

O governo brasileiro pretende contestar as tarifas em organismos internacionais e reafirmar o compromisso com o comércio justo e equilibrado.


Impactos e significado político

A declaração de que “não há veto” na reunião simboliza a mudança de postura da diplomacia brasileira. Lula busca reconstruir pontes, mas sem abrir mão da soberania e da autonomia nas decisões de Estado.

Analistas de política externa ouvidos por veículos de referência afirmam que o Brasil tenta retomar protagonismo diplomático após anos de alinhamento automático e isolamento internacional. A disposição para dialogar com diferentes blocos — dos Estados Unidos à China, passando pela União Europeia e países do Sul Global — reflete uma política externa mais equilibrada e pragmática.

O encontro em Kuala Lumpur deve tratar ainda de energia limpa, descarbonização industrial, cooperação tecnológica e defesa ambiental, áreas nas quais o Brasil busca ampliar sua liderança. Além disso, a reunião ocorre em um contexto de instabilidade global, com conflitos simultâneos no Oriente Médio e no Leste Europeu, o que aumenta o peso político de Lula na mediação internacional.


Relação Brasil–EUA: desafios e oportunidades

Apesar da tensão comercial, o governo brasileiro reconhece que a parceria com Washington é estratégica. Os Estados Unidos seguem como segundo maior destino das exportações brasileiras, e há forte interesse em ampliar a cooperação científica e energética.

Contudo, analistas destacam que o Brasil não aceitará relações desiguais, especialmente quando decisões unilaterais de Washington afetam empregos e cadeias produtivas brasileiras. A mensagem de Lula é clara: o diálogo é bem-vindo, mas o respeito mútuo é indispensável.

Para o Diário Carioca, o gesto político de Lula ao afirmar que “não há veto” expressa um reposicionamento internacional: o Brasil volta a falar de igual para igual, reafirmando o compromisso com a democracia, a soberania e o desenvolvimento sustentável.

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Vanessa Neves é Jornalista, editora e analista de mídias sociais do Diário Carioca. Criadora de conteúdo, editora de imagens e editora de política.