Brasília, 1º de junho de 2025 – Lula critica EUA e os acusa de hipocrisia ao se intrometerem nos assuntos internos da Justiça brasileira. A reação veio neste domingo, durante o encerramento da convenção nacional do PSB, em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo recente de ameaças veladas do governo norte-americano comandado por Donald Trump.
“Os Estados Unidos fazem tantas barbaridades, tantas guerras, matam tantas pessoas. Por que criticariam o Brasil?”, disparou Lula diante de uma plateia majoritariamente aliada. O presidente se referia diretamente ao ofício enviado pelo governo norte-americano ao Ministério da Justiça do Brasil, num gesto interpretado como tentativa de intimidação ao trabalho do STF no combate às milícias digitais e à desinformação antidemocrática.
Ofensiva norte-americana contra Moraes provoca reação diplomática
A movimentação dos Estados Unidos ganhou corpo na última semana após o anúncio de Marco Rubio, secretário de Estado, sobre possíveis restrições de visto a autoridades estrangeiras acusadas de “censurar americanos”. Embora não tenha citado nomes, nos bastidores diplomáticos é dado como certo que Alexandre de Moraes está entre os alvos da manobra.
O pano de fundo é o incômodo de setores trumpistas com decisões do STF que impactam empresas e redes sociais norte-americanas, como X (ex-Twitter) e Telegram, frequentemente acionadas por sua colaboração (ou omissão) no espalhamento de fake news e ataques às instituições brasileiras. Um dos episódios que acirrou a tensão foi o bloqueio de contas bolsonaristas sob ordem de Moraes, que irritou diretamente Jason Miller, ex-estrategista de Trump, que atacou o ministro publicamente nas redes.
Omissão da embaixada revela tentativa de bypass institucional
Segundo fontes do governo brasileiro, o documento dos Estados Unidos não passou pela Embaixada norte-americana em Brasília, sendo enviado diretamente do Departamento de Justiça dos EUA ao Ministério da Justiça do Brasil — um gesto incomum e politicamente ruidoso. O governo federal classificou o ofício como “informativo”, afirmando que não produzirá qualquer ação imediata.
Nos bastidores, porém, a movimentação acendeu alertas no Itamaraty, onde diplomatas avaliam o gesto como uma forma de pressão extrajudicial com interesses políticos claros, já que os Estados Unidos permanecem em silêncio diante de graves violações institucionais praticadas por aliados de Trump em países como Hungria e Israel, mas agora se voltam contra o sistema judicial de uma democracia latino-americana.
Moraes vira símbolo de resistência contra bolsonarismo e influência externa
Alexandre de Moraes, desde 2021, tornou-se uma figura central no combate ao bolsonarismo digital, liderando ações contra grupos que atacam o STF, espalham desinformação sobre eleições e conspiram abertamente contra o Estado democrático de direito. A popularidade e o protagonismo de Moraes irritam tanto bolsonaristas quanto setores trumpistas — ambos incomodados com o avanço da responsabilização legal sobre crimes virtuais e ataques antidemocráticos.
O ministro também é relator do inquérito das milícias digitais, que investiga, entre outros, Jair Bolsonaro, seus filhos e ex-ministros das áreas de comunicação e defesa. A ofensiva judicial brasileira é vista por aliados de Trump como uma ameaça a uma arquitetura internacional de desinformação, da qual participam figuras como Steve Bannon e Jason Miller.
Lula confronta a hipocrisia do império
Em sua fala, Lula não poupou críticas. “Eu nunca critiquei a Justiça deles. Eles que resolvam as barbaridades que cometem, mas respeitem a Justiça brasileira”, afirmou. O presidente ainda ironizou o comportamento norte-americano: “Querem processar o Alexandre de Moraes porque ele está querendo prender um brasileiro que está nos EUA atacando o Brasil o tempo todo. Que história é essa?”
A menção é uma referência velada ao blogueiro Allan dos Santos, foragido nos Estados Unidos e alvo de mandado de prisão por incitação ao golpe. O asilo informal concedido a ele por Washington é lido no Brasil como conivência com extremistas que atentam contra a democracia.
Silêncio da Casa Branca, ruído de Trump
Até o momento, o governo dos Estados Unidos, formalmente liderado por Donald Trump desde o retorno do republicano à Casa Branca em 2024, não se pronunciou oficialmente sobre as declarações de Lula. Tampouco houve reação institucional à ameaça de sanções contra Moraes, embora figuras da ultradireita internacional estejam mobilizadas nas redes para pressionar por medidas.
A ofensiva contra o STF, no entanto, ocorre num momento em que cresce o isolamento diplomático dos EUA em fóruns multilaterais, especialmente diante de sua postura condescendente com Israel em meio aos ataques à Faixa de Gaza, além da retirada de compromissos ambientais e tratados de cooperação internacional. A crítica de Lula, nesse contexto, ecoa uma resistência do Sul Global à arrogância imperial norte-americana.
Brasil reafirma soberania diante da pressão internacional
Com a retórica firme de Lula e o apoio declarado ao STF, o governo brasileiro envia um recado claro: não aceitará ingerência externa sobre seu sistema judicial nem permitirá intimidações em nome da “liberdade de expressão” seletiva promovida por Trump e seus aliados.
A democracia brasileira, ainda em processo de reconstrução após os anos de desmonte bolsonarista, depende de instituições que resistam a pressões externas e se mantenham firmes na defesa da Constituição. E a fala de Lula neste domingo parece ter deixado claro que o Brasil não será satélite da ultradireita global.
