O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (16), em Brasília, que 2026 será um “ano sagrado” para o país e defendeu que a esquerda precisa aprofundar o diálogo com os evangélicos e com diferentes setores da sociedade.
A fala ocorreu durante o 16º Congresso do PCdoB, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e marcou um dos discursos mais políticos do presidente neste segundo mandato.
Lula mira 2026 e defende diálogo com evangélicos
Ao lado de ministros e lideranças de partidos aliados, Lula afirmou que o desafio da esquerda é reconstruir pontes com o povo e abandonar o isolamento político. O presidente foi direto: “Evangélico não é contra nós; nós é que não sabemos falar com eles. O erro está na gente”.
O líder petista ressaltou que o discurso progressista precisa superar a bolha militante e voltar-se às demandas reais da população. “O discurso não pode ser feito apenas para ativistas, o foco deve ser o povo”, disse, em tom autocrítico. A mensagem foi interpretada como um aceno à formação de uma frente ampla em torno de sua possível candidatura à reeleição em 2026.
Durante o evento, Lula reforçou que pretende disputar o próximo pleito e que o objetivo é “convencer os outros, que ainda não são nossos, a vir com a gente”. O recado, aplaudido por militantes e dirigentes, foi visto como um chamado à unidade da esquerda diante do avanço da extrema-direita.
Críticas a Bolsonaro e ao Congresso Nacional
Fiel ao tom combativo, Lula classificou o ex-presidente Jair Bolsonaro como uma “figura politicamente grotesca”, símbolo do retrocesso que o país viveu entre 2019 e 2022. Ele também disparou contra o Congresso Nacional, chamando a atual legislatura de “a pior da história”, em referência à aprovação da PEC da Blindagem, que limita a atuação de órgãos de controle e do Ministério Público.
“Precisamos recuperar o sentido do voto popular e a força da política como instrumento de transformação, não de autoproteção dos poderosos”, declarou Lula, sob aplausos.
O discurso reforçou o papel do governo em defender a democracia e os direitos sociais, mesmo diante da resistência do Congresso. Para o Planalto, o diálogo com os evangélicos e com as classes médias será estratégico para conter o avanço do neoconservadorismo nas urnas.
Contexto internacional e críticas a Trump
Lula também abordou a política internacional, rebatendo as declarações recentes do presidente norte-americano Donald Trump, que comparou a situação da Venezuela à do Brasil. O petista foi enfático: “O Brasil nunca será a Venezuela, e a Venezuela nunca será o Brasil. Cada um é dono do seu destino. Nenhum presidente estrangeiro tem o direito de dar palpite.”
A fala reforça o posicionamento histórico da diplomacia brasileira pela soberania nacional e o respeito à autodeterminação dos povos, princípios que voltaram a orientar a política externa sob o governo Lula. Além disso, o presidente usou o palco do PCdoB para reafirmar o compromisso com uma agenda latino-americana de integração e paz — em contraste com o discurso beligerante da extrema-direita global.
Frente ampla contra a extrema-direita
O evento contou com a presença de ministros como Gleisi Hoffmann, Sidônio Palmeira, Alexandre Silveira, Wolney Queiroz e da ministra Luciana Santos, presidente do PCdoB, além de Edinho Silva, presidente do PT. Também participaram representantes dos partidos comunistas de Cuba e da China, reforçando o caráter internacionalista do congresso.
Durante as falas, Luciana Santos, João Campos e Edinho Silva reafirmaram apoio à candidatura de Lula e defenderam uma frente ampla contra a extrema-direita. “A palavra de ordem é isolar a extrema-direita no país”, afirmou Luciana.
Edinho complementou: “O fascismo foi derrotado em 2022 e em 2023, mas ainda não sofreu sua derrota final.” As falas consolidam a estratégia de manter a esquerda unida e de ampliar o diálogo com setores sociais que se distanciaram após 2018.
Implicações políticas e sociais
A defesa de Lula por um diálogo mais amplo com evangélicos e classes populares sinaliza uma reconfiguração da estratégia eleitoral da esquerda. O PT e partidos aliados sabem que parte significativa do eleitorado evangélico foi conquistada por narrativas de extrema-direita baseadas em desinformação.
Analistas ouvidos por veículos como a Folha de S.Paulo e o Valor Econômico avaliam que a retomada desse diálogo é crucial para reconstruir a base social progressista e para evitar que o bolsonarismo mantenha hegemonia sobre o discurso religioso.
Além disso, o discurso reforça o compromisso do governo com a laicidade do Estado e com a convivência democrática entre fé e política pública, sem submissão a interesses fundamentalistas.
O movimento é visto como parte de uma estratégia mais ampla para reconectar o governo às pautas populares, combinando desenvolvimento econômico, inclusão social e respeito à diversidade cultural e religiosa.
