O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso contundente contra o racismo estrutural durante a abertura da 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir).
Em evento no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, Lula citou o caso recente da escritora Lilia Guerra, acusada de furto após participar da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), como exemplo do “racismo de todos os dias” enfrentado pela população negra.
Racismo cotidiano: da Flip às periferias
Sem citar nomes, o presidente referiu-se explicitamente ao caso da autora de “O Céu para os Bastardos”, injustamente acusada de furtar um lençol e uma manta da pousada onde se hospedava após o evento literário. “Não podemos naturalizar esses absurdos”, declarou Lula, com a plateia de 1,7 mil delegados acompanhando atentamente.
Lula foi além: criticou a criminalização de jovens negros de periferia, “que continuam a ser alvos preferenciais das forças de repressão”. O presidente defendeu que erradicar o racismo no país é urgente – não apenas por ser crime, mas por ser uma “doença” social que limita oportunidades e mantém pessoas sob suspeita constante pela cor da pele.
Sete anos de espera e a reconstrução de políticas públicas
A Conapir não era realizada há sete anos – período que coincide com os governos de Jair Bolsonaro, que extinguiu políticas de promoção da igualdade racial. Lula não poupou críticas aos anos anteriores: “Passamos sete anos com governo que jamais pensou em fazer uma conferência para ouvir as mulheres e os homens negros deste país”.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, reforçou o compromisso do governo com a participação social: “A gente sabe que só se constrói política pública de qualidade com o povo e na coletividade”. O tema da conferência – “Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial” – reflete a necessidade de avançar além da inclusão, rumo à reparação histórica.
O discurso e a prática no combate ao racismo
O discurso de Lula na Conapir é significativo, mas deve ser medido pelas ações que se seguirão. Reconhecer o “racismo de todos os dias” é essencial, mas insuficiente sem políticas concretas de reparação. O caso da escritora Lilia Guerra na Flip é só a ponta do iceberg de um racismo que se manifesta no cotidiano, no acesso à Justiça, no emprego e na segurança pública.
A conferência em si já é um avanço após anos de apagão, mas o desafio é transformar as propostas discutidas nos xirês e plenárias em ações efetivas. O governo precisa ir além do simbólico e enfrentar estruturalmente o racismo – desde a violência policial até a sub-representação nos espaços de poder.
A fala de Lula sinaliza prioridade, mas a verdadeira medida do sucesso será a implementação das políticas demandadas pela sociedade civil organizada durante esta conferência.