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Reaproximação estratégica

Lula irá à França para redefinir aliança

31 de maio de 2025, Brasília (DF)Luiz Inácio Lula da Silva embarca nos próximos dias rumo à França, onde inicia uma das visitas de Estado mais densas e politicamente simbólicas de seu terceiro mandato. O roteiro de sete dias, que atravessa Paris, Toulon, Nice e Lyon, materializa não apenas a retomada das relações com o governo francês após os anos de isolamento diplomático sob Jair Bolsonaro, mas também a tentativa de recolocar o Brasil no centro do tabuleiro geopolítico global, dialogando diretamente com Emmanuel Macron sobre temas estratégicos como clima, guerra, governança digital e reorganização da ordem internacional.

França e Brasil voltam a se falar em alto nível

A visita marca a primeira de caráter oficial desde 2012, quando Dilma Rousseff foi recebida por François Hollande, e é a segunda de Lula à França como presidente — a anterior foi em 2006, com Jacques Chirac ainda no poder. O simbolismo do reencontro não é fortuito: Macron foi um dos líderes europeus que mais tensionaram com Bolsonaro, especialmente por causa da devastação ambiental na Amazônia e do negacionismo climático do ex-presidente.

Com mais de 20 acordos bilaterais em negociação, os dois governos buscam selar uma nova fase da parceria estratégica, interrompida por quatro anos de obscurantismo diplomático. Estão na mesa temas como a COP30 em Belém (PA), o papel das big techs na desinformação e a necessidade de frear o avanço da extrema-direita global, que ameaça instituições democráticas tanto na Europa quanto na América Latina.

Uma visita dividida entre honra e pragmatismo

A primeira etapa da viagem se concentra entre 5 e 6 de junho, com agenda em Paris e Toulon. Lula será recebido com honras militares nos Invalides, participará de jantar oficial no Palácio do Eliseu, assinará atos bilaterais com Macron e prestigiará a mostra de arte “Horizontes”, dedicada a novos talentos brasileiros.

O presidente também será homenageado pela Academia Francesa, numa deferência extremamente rara — apenas 19 chefes de Estado receberam esse convite nos últimos quatro séculos. O último brasileiro agraciado foi Dom Pedro II, em 1872. Em meio aos gestos simbólicos, haverá também reuniões com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e com a comunidade brasileira radicada na França.

Defesa, saúde e cooperação universitária no foco bilateral

Um dos pilares do novo momento entre os países é a retomada da cooperação em defesa, incluindo visita à base naval de Toulon, onde está instalado o programa de construção de submarinos franco-brasileiros — o mesmo que motivou a visita de Macron ao estaleiro de Itaguaí (RJ) em 2024. Essa aliança estratégica, que já havia sido minada pela instabilidade institucional no Brasil, volta ao centro das prioridades com uma proposta mais ampla de soberania tecnológica e integração industrial.

Outros acordos em curso incluem parcerias sanitárias entre a Fiocruz e o Instituto Pasteur, com foco em vacinas, e projetos de cooperação universitária entre instituições francesas e brasileiras, retomando o fluxo de conhecimento e intercâmbio acadêmico prejudicado pela aversão anticientífica do bolsonarismo.

Clima, biodiversidade e um corredor marítimo descarbonizado

A dimensão ambiental da visita ocupa papel central. Além do projeto de um corredor marítimo descarbonizado entre Brasil e França, Lula e Macron devem anunciar um compromisso conjunto para a COP30, reforçando a importância da Amazônia e da proteção marinha como eixo diplomático comum. A certificação internacional de que o Brasil está livre da febre aftosa, concedida pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) com sede em Paris, também será oficializada, abrindo novos mercados à carne brasileira.

Na Conferência sobre Oceanos, em Nice, Lula discursará como chefe de Estado de um país-chave para a biodiversidade global — e como líder de uma coalizão latino-americana que busca alternativas multilaterais ao modelo hegemônico de exploração ambiental conduzido por países ricos.

Mercosul-União Europeia e a busca por um novo pacto

A expectativa quanto à assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia até o fim de 2025 também estará em pauta. Embora setores conservadores da Europa resistam à ratificação — sob o pretexto de proteger produtores locais contra o avanço do agronegócio — Lula tenta reposicionar o Brasil como ator confiável e ecologicamente responsável, desmontando a herança tóxica de Jair Bolsonaro no exterior.

O segundo trecho da visita, que inclui o sul da França, culmina no Forte de Bregançon, residência de verão da presidência francesa, onde Lula terá encontros reservados com Macron. Desde 2017, apenas três líderes estrangeiros foram convidados ao local. A escolha é mais do que cerimonial: indica um gesto político deliberado de confiança e afinidade, reforçando a disposição mútua em relançar o eixo Brasil–França como interlocutor relevante nos debates internacionais.

A geopolítica brasileira quer voltar a pensar o mundo

Ao contrário do exílio geopolítico a que o Brasil foi submetido durante o bolsonarismo, marcado por agressões diplomáticas, negacionismo e alinhamento cego aos Estados Unidos de Donald Trump, a viagem de Luiz Inácio Lula da Silva à França expressa um projeto claro: retomar o protagonismo internacional brasileiro com responsabilidade climática, soberania estratégica e defesa da democracia.

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Redacaohttps://www.diariocarioca.com
Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

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