Salgueiro (PE) – Em pleno sertão pernambucano, sob o sol de 28 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva selou uma promessa que parece arrancada dos anais da história esquecida do Brasil profundo: R$ 10 bilhões para a indústria no Nordeste. Não é esmola, não é cortesia — é financiamento público robusto, voltado a tirar do papel o eterno “potencial” nordestino que elites do eixo Rio-São Paulo nunca deixaram florescer.
O anúncio foi feito em Salgueiro, durante o lançamento do edital de linhas de crédito voltadas a empresas que queiram investir, expandir ou se instalar na região. A grana vem de um consórcio que une BNDES, Finep, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e o sempre esquecido Banco do Nordeste — prova de que, com vontade política, o Estado pode (e deve) ser motor da industrialização, especialmente onde o mercado privado só aparece para explorar mão de obra barata.
Desenvolvimento regional com alavanca pública
Segundo o edital, o crédito estará disponível para cooperativas, empresas brasileiras ou estrangeiras, desde que apresentem projetos com orçamento superior a R$ 10 milhões até 15 de setembro. A prioridade são projetos de infraestrutura industrial, pesquisa e desenvolvimento, aquisição de equipamentos, engenharia e capacitação técnica. E, para surpresa de liberais mal-humorados, parte dos recursos será não reembolsável, via subvenção econômica.
Ou seja, sim: o Estado está investindo diretamente na indústria. E não, isso não é “intervencionismo arcaico” — é a correção de um desequilíbrio histórico, agravado por décadas de desindustrialização e políticas neoliberais que trataram o Nordeste como quintal exportador de grãos, energia e corpos.
Mercadante: crédito para reconstruir o Brasil
Na linha de frente desse novo pacto regional, está o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que cravou: “Industrializar o Nordeste é fortalecer a economia nacional”. Em 2024, o BNDES aprovou R$ 370,2 milhões em projetos na região — um salto de 282,1% em relação a 2023, e de 579,1% em comparação a 2022, último ano da gestão Bolsonaro, que via no Nordeste um reduto a ser domesticado à força de fake news e programas de fidelidade ideológica.
O crescimento mostra que, ao contrário da cantilena neoliberal, o problema nunca foi a falta de empreendedores ou ideias — foi a ausência de financiamento, infraestrutura e vontade política. Agora, com a Sudene e o Consórcio Nordeste atuando como suporte técnico, o cenário muda. O Nordeste começa a deixar de ser apenas palco de promessas e vira território de política econômica real.
Bolsonarismo: quando o Nordeste era punido
Enquanto isso, é impossível esquecer como o bolsonarismo tratava o Nordeste — com escárnio, censura orçamentária e sabotagem institucional. Na prática, Bolsonaro tratava os estados nordestinos como “inimigos geográficos” de um Brasil fictício, governado do gabinete do ódio e da submissão aos EUA.
O contraste é didático: se antes o Estado se ausentava e punia, agora ele articula, financia e convoca. A era Lula 3 não tem apenas reabilitado o papel do setor público, mas feito isso sob o farol da justiça regional — um conceito que causa calafrios em quem lucra com o desequilíbrio histórico entre Sul-Sudeste e o restante do país.
Não é esmola: é soberania
Mais que um programa de crédito, o pacote de R$ 10 bilhões é um aceno claro: o Brasil não pode mais aceitar a geografia da desigualdade como destino. Enquanto a extrema-direita brasileira flerta com a ideia de “empresários patriotas” que só investem onde têm isenção e blindagem, o governo atual aposta em iniciativa produtiva, ciência aplicada e parcerias com universidades — pilares de uma economia soberana, inclusiva e enraizada no território.
E mais: ao colocar o Estado como agente ativo do desenvolvimento, o governo Lula assume algo que o bolsonarismo nunca ousou: responsabilidade com o futuro.
O Carioca esclarece
O que é o pacote de R$ 10 bilhões para a indústria no Nordeste?
É uma linha de financiamento público voltada para empresas e cooperativas que queiram investir em projetos produtivos na região, com recursos do BNDES, Finep e bancos públicos.
Quem pode acessar os recursos?
Empresas brasileiras ou estrangeiras, desde que apresentem planos de negócios com orçamento acima de R$ 10 milhões, até 15 de setembro de 2025.
Por que esse pacote é inédito?
Porque nunca antes na história do Brasil houve uma iniciativa pública com esse volume de recursos exclusivamente voltado à industrialização nordestina.
Como isso afeta a democracia e os direitos?
Reequilibrar o investimento regional reduz desigualdades históricas, amplia oportunidades e fortalece a coesão nacional contra projetos autoritários e excludentes.